Ações da PM dificultam investigação sobre morte de jovem, diz delegado

 

O delegado de Ourinhos (SP) que investiga a morte de um jovem de 22 anos por um PM durante uma abordagem policial diz que as ações da Polícia Militar após o ocorrido estão dificultando as investigações. “A Polícia Militar acabou levando essa ocorrência para o quartel e não apresentou em um plantão da Polícia Civil, ou seja, o delegado não tomou conhecimento dos fatos”, afirma Paulo Henrique Carvalho, da Delegacia Seccional de Ourinhos.

Bryan Bueno foi morto na madrugada do dia 9 de junho, quando saía de uma feira de exposições em Ourinhos. Ele e mais quatro amigos estavam no mesmo carro. Durante uma abordagem da PM, Bryan foi baleado no pescoço. A Polícia Militar alega que o disparo foi acidental.

Ainda de acordo com a Polícia Civil, a arma do policial não foi apresentada na delegacia, assim como as imagens do circuito de monitoramento que flagraram a ação e que ainda estariam com a PM. O delegado responsável pelo caso encaminhou nesta segunda-feira (13) mais um ofício à Polícia Militar solicitando esclarecimentos e pedindo as imagens. Um requerimento também já foi encaminhado à Justiça.

Já a Polícia Militar não prestou nenhum esclarecimento em relação às imagens, no entanto, confirmou que o policial militar que atirou no jovem foi solto e vai aguardar o andamento do processo militar em liberdade. Enquanto isso, ele foi afastado das ruas e vai prestar serviços internos na corporação.

Ameaça e direitos humanos
E o caso também teve outros desdobramentos. Uma equipe do Samu que foi parada pelos policiais após Bryan ter sido atingido pelo tiro registrou um boletim de ocorrência em que afirmou que foi ameaçada pelos policiais para prestar socorro ao rapaz. Segundo informações da ocorrência, a médica e a enfermeira estavam com um paciente dentro da ambulância quando foram paradas pelos policiais.

A Polícia Civil anexou essa ocorrência às investigações e também vai apurar esse fato, que pode ser um agravante à conduta dos policiais. O fato chegou ao conhecimento do Conselho Estadual de Direitos Humanos. “Os policiais arbitrariamente pararam essa ambulância e fizeram o paciente sair para colocar o Bryan e isso ao nosso ver foi uma simulação para alterar a cena do crime, porque os próprios amigos disseram que ele já estava morto, que ele morreu no local, então eles quiseram simular um socorro e inclusive ameaçaram a médica com arma em punho dizendo que se caso ela não tirasse o paciente e colocasse o Bryan ela seria presa por desacato”, afirma Lúcio França, um dos representantes do Conselho.
Representantes do órgão conversaram com a família da vítima e com testemunhas, como os outros quatro jovens que estavam no carro. Depois de ter ouvido os depoimentos, o conselho disse que vai denunciar o policial à corregedoria da PM e à ouvidoria das polícias do estado.“Nós vamos encaminhar essa representação à promotoria dos Direitos Humanos do Ministério Público e nós também iremos encaminhar a família até a Defensoria Pública para que ela possa entrar com uma ação para que eles possam pedir uma indenização à Polícia Militar e ao estado”, afirma Lúcio França, um dos representantes do Conselho. A família pretende entrar com uma ação contra o policial militar que fez o disparo e contra o estado. Ainda esta semana estão marcadas reuniões em São Paulo com a promotoria de Direitos Humanos e a Defensoria Pública.

APOIE

Seu apoio é importante para o Jornal Contratempo.

Formas de apoio:
Via Apoia-se: https://apoia.se/jornalcontratempo_apoio
Via Pix: pix@contratempo.info