Lulavac, Consenso de Genebra e Gabinete do Ódio

Jair Bolsonaro, em 4 de março, ao falar que chegava de mimimi e de frescura, e que comprar vacina só na casa da mãe, estava demonstrando tudo o que era e defendia. Miraculosamente seis dias depois surge no Planalto de máscara e com um discurso totalmente novo, quiçá tocado por algum daqueles pastores que fabricam milagres ou assustado com a notícia da anulação da inelegibilidade de Lula. Presenciamos uma divergência direita-esquerda e uma obrigatoriedade para Bolsonaro moderar e ponderar a sua conduta e comunicação em todos os campos, mas, principalmente, no combate à pandemia.

Bolsonaro estava tranquilo e debitando o que os seus fiéis seguidores queriam escutar porque não tinha um candidato forte que se opusesse à sua recandidatura. Os nomes ventilados não fariam sequer sombra, nem tão pouco beliscariam a sua governabilidade e recondução. Mas que nem um Adamastor surge Lula no cenário político, por enquanto, já que a única coisa que o STF até a data fez foi anular as decisões da 13ª Vara de Curitiba. Para o Planalto, o ressurgimento de Lula é algo preocupante, mas também algo desafiador, já que a confirmar-se a presença de Lula no ato eleitoral de 2022, Bolsonaro tem a chance de derrotar o seu maior rival no cenário político. Mas a mudança de Bolsonaro e seu governo não tem somente a ver com Lula. Acontece que a popularidade de Bolsonaro está em queda fruto da piora da pandemia. A eleição de Bolsonaro assentou na recuperação da esperança, no resgate do Brasil e na defesa dos valores. Ora sabemos bem que nada disto aconteceu em dois anos de mandato, veja-se o preço do gás, o preço dos alimentos nos supermercados, a mansão de seis milhões de reais do filho (belos valores).

No início da semana, assistimos a um verdadeiro filme de ficção, mais um no Planalto em pleno domingo. Pazuello sairá da pasta da Saúde, isso é um dado certo, agora quem entrará, teremos que aguardar pelo desenrolar dos acontecimentos. A médica Hajjar recusou o cargo, embora fosse da preferência dos ministros, políticos e até ministros do STF. A máquina Bolsonarista, essa arma destruidora de pessoas capazes, profissionais, como Mandetta, entrou em ação e como ala ideológica extrema não quer uma ministra que defenda o distanciamento social e a vacina. Mais grave que tudo isso é não defender o tratamento precoce, onde já se viu tamanha ofensa. Mas aquilo que os fanáticos seguidores de Bolsonaro têm que entender é que agora surge um novo Messias, o que vai defender a vacina, já vacinou a mãe, o que vai defender o isolamento social, enfim, uma personagem que não havíamos visto até aqui. Acredito que nas próximas urnas, se não voltarmos aos boletins de voto, tão criticados por Bolsonaro, mas foi assim que ele foi eleito, então deduzo que também houve fraude aquando da sua eleição? teremos na foto em frente a Bolsonaro um novo nome, Jair Messias Jekyll Bolsonaro Hyde.

A grande questão da volta de Lula é o centrão. O centrão ainda não definiu quem apoiará em 2022, ou sequer se tomarão uma posição unificada. Entendo que nem todos os partidos ditos do centrão irão acompanhar Bolsonaro na eleição de 2022, aí veremos o desenrolar da eleição e acredito que, mais uma vez, o centrão ditará leis na campanha eleitoral de 2022.

Esta semana, vivenciamos mais um vexame nacional em plena ONU. Com Damares assumindo a frente, o Brasil, em um grupo denominado Consenso de Genebra, em que fazem parte também, além do Brasil, a Hungria, Polónia e Países Árabes, causa mal-estar e até indignação entre as democracias. Este Consenso de Genebra, liderado pelo Brasil, se recusou a aderir a uma declaração conjunta de mais de 60 países (mais uma vez a maioria está errada e a minoria é ex-líbris do Conservadorismo, da Pátria Amada) para defender o direito de meninas e mulheres, no que ao quesito de direitos reprodutivos e sexuais diz respeito. Tudo que o mundo a custo ganhar, o Brasil vem prejudicando e retirando das suas políticas e pautas.

Até a Venezuela pede que a ONU intervenha no Brasil, fruto da alarmante situação de pandemia no país, consequência da reiterada negligência criminosa de Bolsonaro, segundo palavras do governo de Nicolás Maduro. Ao ponto a que chegamos, Bolsonaro sempre falou que não queria que o Brasil virasse uma Venezuela.

Tenho que voltar ao caso da médica Ludhmila Hajjar porque enquanto escrevia a minha crônica semanal, a médica concedeu uma entrevista aos meios de comunicação social.

A Cardiologista recusou o convite por motivos técnicos, motivos esses que passamos a enumerar. A Drª Ludhmila é defensora da vacina, do isolamento social regional, não federal, do fim do tratamento precoce ou preventivo, a famosa cloroquina, Anitta, fatos defendidos por Bolsonaro, aliás, perante o que a cardiologista falou, temos agora a certeza que Pazuello é um mero fantoche nas mãos do Presidente da República e que quem dá as ordens no ministério é o próprio Bolsonaro, quem assumir o ministério da Saúde nem autonomia tem para respirar sem pedir autorização primeiro. Sabemos que Pazuello vai mesmo sair, veremos quem irá para o seu lugar, se mais um fantoche, ou alguém que defenda a vida, defenda a dignidade humana. O que me assusta é o silêncio dos bons, está a durar muito, isso que preocupa, isso que assusta, até porque Drª Ludhmila fala que, continuando assim, teremos facilmente 500, 600 mil mortos. De salientar que a cardiologista defende os mesmos programas que Mandetta, a Ciência fala mais alto, mas neste governo não, o que fala mais alto é o negacionismo, é o gabinete do ódio. É inaceitável a Drª Hajjar receber ameaças de morte e ser vítima de ataques. É inconcebível em dois dias criarem perfis falsos, criarem áudios falsos, sinal de que o gabinete do ódio ainda está bem ativo.

É bem mais fácil acusar uma pessoa de ser esquerdista, de ser petista, do que escutar o que ela tem para dizer enquanto profissional.

Estes ataques à cardiologista têm que provir do gabinete do ódio, não é possível ser de outro jeito. Aliás desde a elegibilidade de Lula, as fakes news voltaram a tomar uma proporção imensa. O medo leva a ter que combater a verdade com falsidade. A falsidade tem mais visibilidade que a verdade, ainda hoje escuto gente falando que a vacina muda o DNA das pessoas e que o Presidente nunca se recusou a comprar vacinas.

O gabinete do ódio é perito em fake news e como gosto de deixar as pessoas perfeitamente esclarecidas não posso deixar passar em branco uma conversa que tive com um amigo, o Eduardo Fernandes, a respeito de uma postagem que fiz no Facebook, postagem essa que fazia referência aos filhos de Bolsonaro e à compra da mansão de seis milhões de reais. Pois bem, ele me confrontou comparando com os filhos do Lula. O exemplo dele serve para muitas pessoas que não têm o cuidado de pesquisar as notícias que escutam. Acredito que muitas saibam que são fakes news mas preferem clicar no botão de reenvio porque é mais vantajoso para algumas ideologias. Adquirir bens por conta da política é normal, até vereador consegue derivado aos altos salários praticados no nosso país, lá está mais importante que qualquer outra reforma acredito que a reforma política faça muito mais sentido.

Tem um site que se chama boatos.org, como deve ter outros, só ter a inteligência de pesquisar e não acreditar em tudo que se lê. Pois bem, vamos desmistificar os filhos do Lula. Facilmente chegamos à conclusão que, apesar de datar de 2018, e de ter milhares de compartilhamentos, a questão do jatinho, a sociedade com o grupo JBS, facilmente caem por terra tais teorias criadas por mentes conservadoras, de direita, defensoras de valores. Como podem defensores de valores, conservadores, ter a capacidade de criar notícias que podem destruir as vidas de pessoas sérias. Depois é muito fácil chegar na Igreja e bater a mão no peito.

Durante algum tempo vimos que o gabinete do ódio estava tranquilo, em paz, sossegado, mas de há uns tempos a esta parte reapareceu esse demônio. Mas o processo de averiguação que parecia caminhar rapidamente para o seu desfecho, subitamente, ou quiçá aquando da interferência na PF, sofreu um revés e estagnou. O gabinete do ódio já fora identificado a três servidores ligados a Carlos Bolsonaro, a PF até já ia pedir acesso aos IPs, isto em dezembro de 2019.

Tudo feito com dinheiro público por forma a criar desafetos entre as pessoas, uma forma de distribuir mentiras nas redes sociais, daí rapidamente chegamos a difamações e ameaças de morte conforme o que ocorreu com Ludhmila Hajjar.

Imaginem ter uma máquina de oito milhões de pessoas, no Whatsapp, no Facebook, no Twitter, acrescidos de robôs disseminando fake news. Quem consegue combater tal exército? Difícil, acredito que a forma mais fácil é não entrar em quezílias e passar batido perante inverdades e atrocidades cometidas contra pessoas de bem. Mas essa máquina está bem oleada e preparando o terreno para tempos sombrios que iremos assistir, infelizmente. Além do genocídio praticado por este governo, começamos a assistir a uma ditadura escamoteada em democracia. Felipe Neto acaba de ser intimado a prestar depoimento por ter chamado o Presidente de genocida. Professor Daniel Cara tem a sua conta no Twitter desativada por mencionar gestão genocida de Bolsonaro. Liberdade de expressão sumiu deste nosso país e mais grave com a conivência das redes sociais, que são tão protetoras para umas coisas, mas para outras são tão permissivas, realmente a prato da balança está a pender para o lado da ditadura, apoiada por redes sociais, que agora procuram esconder o belíssimo trabalho que fizeram com Donald Trump, mas atenção Mark Zuckerberg, Bolsonaro é tão ou mais perigoso que Trump. É uma questão de equidade.

Deixo-vos com uma reflexão de Albert Camus, Pensador Franco-Argelino, nascido em 1913:

” Antes, a questão era descobrir se a vida precisava de ter algum significado para ser vivida. Agora, ao contrário, ficou evidente que ela será vivida melhor se não tiver significado”.

Pedro Saldida

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