Justiça nega pedido de prisão de PM que matou jovem em abordagem próximo a FAPI

A Justiça negou na segunda-feira (27), o pedido de prisão preventiva do policial militar que atirou e matou um jovem de 22 anos durante abordagem em Ourinhos (SP) no dia 9 de junho. O pedido foi feito pelo Ministério Público após receber o inquérito policial, que concluiu que o policial assumiu o risco de matar ao abordar a vítima, Bryan Bueno, com a arma em punho.

O policial chegou a ser preso em flagrante, mas foi liberado até o final das investigações e cumpre atividades internas na Polícia Militar.

A Polícia Civil pediu a prisão temporária do policial com base nas investigações e nas imagens do circuito de segurança de um estabelecimento comercial, que registraram toda a abordagem. Já o Ministério Público decidiu pelo pedido de prisão preventiva e informou que ainda não teve acesso à decisão para saber os motivos do indeferimento, mas que irá recorrer. O caso segue em segredo de Justiça.

No âmbito administrativo da Polícia Militar, ele responde processo por homicídio culposo, quando não há intenção de matar. A defesa dele alega que o tiro foi acidental. No entanto, a arma não foi entregue para perícia da Polícia Civil, que entrou com um requerimento na Justiça para que ela seja entregue e esse pedido foi aceito. Segundo o delegado responsável pelo caso, João Befa, a arma vai passar por perícia para saber se o equipamento teve algum problema de funcionamento ou não.

Imagens da abordagem
As imagens da abordagem feita pelo policial que atirou e matou Bryan  foram cedidas pelo Conselho Estadual de Defesa Humana (Condeph) que também apura o caso. A Polícia Civil só teve acesso às imagens na semana passada. O vídeo do circuito de segurança de um estabelecimento comercial próximo estava em posse da Polícia Militar e só foram enviadas ao delegado após ele enviar um requerimento à Justiça.

O local está movimentado por causa de uma feira de exposições que era realizada na época. Quatro minutos depois, uma ambulância do Samu passa com o giroflex ligado e segue em direção ao recinto onde é realizado o evento, possivelmente para fazer um atendimento. Às 2h36, o policial que fez o disparo contra Bryan aparece subindo a avenida em que os fatos ocorreram.

Um minuto depois, outro policial para o carro onde estava Bryan e quatro amigos. O primeiro policial que subiu a rua reaparece, se aproxima do carro já tirando a arma da cintura e parece fazer gestos de ameaça aos jovens e logo dispara. É tudo muito rápido. Logo em seguida os quatro ocupantes do carro saem do veículo, pelo lado do motorista. Os policiais também se afastam do carro e logo muita gente começa a se aproximar para ver o que acontecido.

Às 2h40, o vídeo mostra que os policiais param a ambulância do Samu que minutos antes tinha passado pelo local. É possível ver que eles pedem o atendimento, um dos PMs chega até abrir a porta da ambulância. As imagens mostram ainda que o jovem teve uma parada cardiorrespiratória, porque os médicos iniciam a massagem cardíaca e durante 12 minutos os médicos tentam reanimar o jovem até que ele é levado para a ambulância. Bryan chegou a ser levado para o hospital, mas já chegou ao local morto.

As imagens foram anexadas ao inquérito que investiga o caso. A Polícia Civil também apura a informação de que policiais tentaram apagar as imagens gravadas pelas câmeras, e ainda teriam ameaçado os socorristas da ambulância. O soldado chegou a ser preso em flagrante, mas depois foi solto para responder aos inquéritos em liberdade.  A Polícia Militar alega que o tiro foi acidental, mas abriu um processo na Corregedoria para apurar a conduta do policial no âmbito administrativo.

“Nós analisamos as imagens no dia mesmo do ocorrido e constatamos que tudo o que os policiais disseram que ocorreu naquele dia e também as testemunhas, vendo as imagens foi possível ver que tinha verdade no que disseram. A Polícia Civil foi acionada assim que os fatos ocorreram e o aviso ao delegado plantonista consta inclusive do BO da PM inicial”, afirma a comandante da PM, Cenize Araújo Calasane.

No entanto, o relatório sobre o caso elaborado pela Delegacia de Investigações Gerais (DIG)de Ourinhos aponta que o soldado assumiu o risco de matar o jovem. “O delito, em tese, praticado pelo policial militar (…) é doloso. Se não direto ao mesmo na sua forma eventual, segundo o entendimento destes signatários”, informa trecho do inquérito da DIG.

“Fica claro que o policial militar (…) quando efetuou a abordagem segurando a camisa da vítima Bryan Cristian Bueno da Silva com uma das mãos e apontando a arma de fogo, tipo pistola, com a outra, para o peito do jovem, no mínimo assumiu o risco de produzir o resultado morte ao dispará-la”, continua o documento da Polícia Civil.

Ainda de acordo com o delegado da DIG, a arma usada pelo policial não foi entregue para a perícia. “A arma deveria ter sido submetida a um exame complementar para poder averiguar se ela apresentava alguma falha que poderias acionar o disparo sem o acionamento do gatilho e a polícia não tem a arma para fazer esse exame. Não descartamos a possibilidade de pedir judicialmente a entrega dessa arma”.

E diante de todos esses fatos, que indicam uma ação da PM de atrapalhar as investigações, o delegado afirma que foi avaliada a necessidade da prisão temporária. “O que levou ao pedido de prisão não é apenas as imagens , o que nos levou ao convencimento da necessidade da prisão temporária é o conjunto de tudo que está nos autos e fazem parte das investigações”, completa.

Fonte: G1

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