Cultura do ‘bandido bom, é bandido morto’ incentiva violência policial

Três jovens, entre eles duas crianças, foram mortos em menos de um mês, vítimas da violência policial em São Paulo.

Para especialistas, a matança de jovens e adolescentes por agentes do poder público só será evitada se a sociedade reagir contra a cultura do “bandido bom, é bandido morto”, pois nesta guerra tem muita gente inocente morrendo nas ruas.Ítalo Ferreira, de 10 anos, morto pela Polícia Militar com um tiro na cabeça, tentando dirigir um carro roubado.

Gabriel Silva Chagas, de 11 anos, atingido na nuca por uma bala disparada por um Guarda Civil Metropolitano – segundo a polícia, o veículo era ocupado por supostos assaltantes. Júlio César Alves Espinosa, de 24 anos, também atingido na cabeça após ter seu carro receber 16 tiros disparados por agentes da PM e GCM de São Caetano (ABC paulista), durante perseguição policial.

Em todos esses casos, a polícia afirma que atirou porque as vítimas teriam reagido à abordagem policial, mas as versões são contestadas.

Para o especialista do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais Humberto Fabretti, as ações da Polícia Militar e da Guarda Civil Metropolitana, nos três casos, foram inadequadas. “A PM de São Paulo, por exemplo, a gente vê que há um treinamento para isso, há uma carga de direitos humanos, ou seja, o policial recebe o treinamento. O que acaba acontecendo é aquilo que eu chamo de “subcultura policial”, a partir do momento que eles vão às ruas, aquilo que eles aprenderam na academia é deixado de lado e a ‘realidade da rua’ é que pauta a conduta do policial.  Atirar contra o veículo em movimento é algo absurdo, de qualquer ponto de vista. Primeiro, é absolutamente difícil acertar esse disparo, são dois veículos em movimento. Segundo, não se sabe quem está dentro daquele veículo. Ainda que o policial seja um exímio atirador e consiga acertar o veículo, pode ter lá dentro uma vítima ou refém”, afirmou em entrevista à repórter Vanessa Nakasato, da TVT.

“Estamos cansados de ver situações em que a polícia atira nas pessoas, depois verifica que as pessoas não eram criminosas e, aí, acontece aquela história de colocar uma arma,  colocar droga”, diz o especialista.

Para Fabretti, a ação violenta da polícia é uma resposta ao clamor de boa parte da sociedade, que defende que “bandido bom, é bandido morto”. “No Brasil, a sociedade tolera a violência policial, desde que ela seja dirigida a determinados setores da população que, via de regra são jovens, negros, da periferia.”

“O genocídio é a designação de um povo. Esse povo é o povo preto, que é ‘matável’, mas que é o povo que teve sua história ceifada. Então, a gente não tem direito à História, à cultura. A gente não tem direito à segurança pública, porque quando a gente fala de violência policial, nós falamos de segurança pública. Se a cada 23 minutos, um jovem negro morre no Brasil, então nós não temos direito à segurança pública, e quem deveria supostamente nos proteger e resguardar a segurança está nos exterminando”, afirma Carlos Rodrigo Rocha, integrante do Comitê Contra o Genocídio.

Para Fabretti, a saída é fortalecer as ouvidorias de polícia e Ministério Público, para que agentes sejam punidos. “É necessário bastante vontade política, bastante políticas públicas. Mas, são coisas a médio e longo prazo.”

“Esses crimes têm impunidade, conivência do Ministério Público ou de quem vai investigar. Então, como o que a gente faz para mexer nessa estrutura para essas mortes pararem?”, questiona Carlos Rodrigo.

Fonte: Rede Brasil Atual

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