Editorial: Sobre vândalos e canalhas

Não é possível ser razoável sem concluir pela degradação moral da classe média brasileira. A grande maioria vive na superficialidade e nas aparências, se agarrando no puxa-saquismo mais tacanho aos do andar de cima. Mais grave que tudo isso é ausência de valores, colocando patrimônio acima da vida humana e um discurso cínico anticorrupção, uma prática em que também se esbalda.

Assim, não podemos nos surpreender que a classe média, como cão raivoso, espume de raiva contra os manifestantes e a depredação do patrimônio público. Ninguém aprova o vandalismo, mas é prova de falta de caráter colocar bens acima da vida humana.

Há pouco mais de um ano atrás, próceres da classe média ourinhense marchavam nas ruas contra uma presidenta democraticamente eleita e inacreditavelmente honesta, que até hoje não consta uma única acusação de enriquecimento ilícito.

No lugar de Dilma, colocaram nos mais altos cargos uma verdadeira quadrilha que assalta os cofres públicos a olhos vistos e obstruem a Justiça, como dezenas de vídeos e áudios não nos deixam exagerar. Diante de corrupção tão exacerbada, a cínica classe média praticamente não se manifesta. Mas cinismo é cinismo e não podemos esperar nada diferente.

Diante da fragilidade de caráter, a classe média muito ajudaria se não atrapalhasse. Mas não é o caso.

Ontem (24), 150 mil manifestantes foram à Brasil expressar seu direito constitucional de manifestação.

No entanto, a Polícia Militar do Distrito Federal cometeu a ilegalidade de utilizar a sua força para impedir que cidadãos pudessem se manifestar, conforme garante a Constituição.

Numa manifestação agendada há mais de 30 dias, a PM-DF destacou apenas 30 policiais para fazer a revista de 150 mil manifestantes. Não é preciso um cálculo muito complexo para compreender que seriam necessários 5 dias ininterruptos para revistar todos os manifestantes. Desta forma, a inédita revista em manifestações foi uma tática ilegal para negar o direito à manifestação aos cidadãos.

Agora imaginem o clima entre as pessoas, algumas delas após dias viajando dentros de ônibus atravessando o Brasil, após verem a PM tentar inviabilizar uma manifestação, repito, marcada há mais um mês. Como esperado por qualquer pessoa razoável, manifestantes estouraram o bloqueio da polícia e continuaram os protestos. Frise-se que das 150 mil pessoas, pouco mais de 50 pessoas haviam participado do estouro do ilegal bloqueio da PM.

Chegando a Esplanada dos Ministérios foram recebidos à bombas de gás lacrimogêneo. Imagens mostram a utilização de munição letal contra manifestantes e pessoas baleadas pela polícia. A PM controlava as entradas e saídas da Esplanada. Ou seja, a PM propositalmente criou um imenso caldeirão para que o quebra-quebra acontecesse. O que acontece numa panela de pressão quando a válvula está entupida?

Diante de tudo isso, como se comporta a classe média ourinhense?

Ora, como era de se esperar, ficam ao lado do Governo corrupto que chegou ao poder após suas hipócritas manifestações. Criticam o quebra-quebra insuflado pela própria polícia e não tiram as nádegas do sofá para combater a corrupção mais deslavada que se tem notícia nesse país. Simplesmente deprimente!

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