O papel da confiança no desenvolvimento infantil
Luiz Bosco S. Machado Jr.
Psicólogo (CRP 06/96910) e palestrante
A aprendizagem é a alteração do que somos, tanto em nossas ações, quanto nossas capacidades intelectuais e também nossas emoções. Trata-se de um processo cheio de ação entre quem aprende, as pessoas e o mundo à sua volta. Vamos pensar um pouco sobre o aprender a confiar, uma questão que influencia em tudo o que fazemos.
Todo bebê vem ao mundo cheio de vontade de conhecer. Tudo quer olhar, pegar, pôr na boca. Quem cuida dele desde o início, que pode ser a mãe, o pai ou outra pessoa, oferece suporte para essa aventura do descobrimento do mundo. Isso vem na forma do “colo”, do amparo necessário para que o bebê desenvolva a confiança necessária para se relacionar com o universo de novidades ao seu redor.
A família transmite à criança os significados de tudo com o que ela interage, construindo seu jeito de estar no mundo. Esses primeiros contatos dão a base para nomear e dar sentido às próprias emoções, bem como a seus comportamentos.
Para que seja um movimento construtivo, não se pode dar todas as respostas; a criança precisa fazer suas próprias buscas e descobertas, para que ela vá estabelecendo sua identidade e não seja “cópia” de seus pais.
Um momento essencial é do aprender a andar. A mãe e o pai seguram a criança pelos braços e vão pouco a pouco deixando-a aprender sozinha; a presença da família gera a confiança necessária para dominar a gravidade. Ela seguirá o chamado dos adultos que a esperam, sorrindo, carregando aquele momento com sentimento de superação e com afeto, o que será importantíssimo para o desenvolvimento emocional e intelectual, alimentando o sentimento de confiança em si ao enfrentar desafios.
Até aproximadamente os 6 anos de idade, o pensamento da criança é dominado pelo egocentrismo, isto é, ela está voltada para suas necessidades e seus desejos, sem conseguir entender bem que o mundo não irá satisfazer suas vontades sempre! Ela precisa aprender a compartilhar, a esperar, a escolher, em resumo, aprender que não pode ter todos os seus desejos satisfeitos. Saliente-se que isso é algo que se aprende, precisando da intervenção dos adultos para que seja eficaz.
A primeira década de vida vai se completando e a criança muda. Apresenta bastante interesse pela socialização, podendo procurar esportes intensamente. Conforme a adolescência avança, ela quer conhecer seu corpo e o do outro. Esse é um momento de se apaixonar por pessoas e por ideais.
Nesses processos descritos aqui rapidamente, é preciso que a família alimente a confiança. Isso não é simplesmente incentivar: é saber dizer sim e não. Não raro observamos que as famílias não sabem se deixam os filhos fazerem tudo ou se proíbem tudo. Trata-se de um dilema muito comum, relacionado ao medo de privar de conforto ou de “liberar demais”. É preciso, sim, estabelecer limites, pois eles dão parâmetros para nosso comportamento e nossa ação. Quando podemos “tudo”, não temos desafios e o tédio toma conta, o que é queixa frequente entre adolescentes. Quando não podemos nada, sentimo-nos temerosos frente a vida, sem coragem de arriscar e descobrir o próprio caminho.
A confiança indispensável que a família precisa depositar em seus filhos é a que permite que essas pessoas em desenvolvimento reconheçam suas capacidades e limites, sem deixar de explorar as possibilidades que o mundo a sua volta apresenta.