Anos de Chumbo – Tarefa inglória no cárcere Parte II
*João Teixeira*
“Somos um povo que se estruturou por meio do Estado, mas á margem dele (…) o pecado original, porém, não terminou de ser expiado: continuamos desconfiando da vida pública e estabelecendo com o Estado uma relação permanente de amor e ódio”.
O pensamento atilado de Marco Aurélio Nogueira está em Brasil Brasileiros: Porque Somos Assim? – Ensaios em Identidade Social, Nacionalidade e Cultura (Organizadores Cristóvam Buarque, Francisco Almeida, Zender Navarro, Fundação Astrojildo Pereira, Brasília, 2017).
Leitura obrigatória para os livre-pensadores. Contém pérolas: Por que somos assim? “Construímos um País-miragem que descreve a si mesmo através de imagens tão elaboradas que não servem apenas como produto para exportação, nós mesmos somos levados a crer na ilusão que projetamos” (Loreley Garcia, antropóloga e socióloga da USP).
Pois é nesse espírito ilusionista, onírico, que podemos entender a arapuca em que se meteu o jornalista, intelectual e professor Lenildo Tabosa Pessoa quando resolveu ir visitar, no Dops, a polícia política, os freis dominicanos que limitavam na ALN, de Marighella, como revelamos na Parte I.
Para Percival de Souza, escritor renomado e apresentador de TV, “o que importava, verdadeiramente, era a exploração política do fato é as forças de esquerda exploraram a versão mais conveniente dos acontecimentos”.
Lenildo passou a pregar no deserto, tentando explicar o inexplicável, passou a defender -se, em vão, dizendo que queria conhecer o comportamento de religiosos marxistas na prisão.
Visitara os religiosos que haviam sido presos e torturados, o que o tornava cúmplice ou omisso diante do crime do Estado.
“O delegado Cintra Bueno, especialista em marxismo-leninismo no Clero, precisava de testemunhas que demonstrassem que os dominicanos presos estavam bem e inteiros” – completa Percival.
Convite de amigo da onça. O delegado Bueno convidou o professor Lenildo para a tarefa que acabou com sua imagem pública.
Palavras-chave: dominicanos presos; jornalistas perseguidos.
*João Teixeira, jornalista e escritor, é membro do Conselho Editorial do Jornal Contratempo.