O Fracasso da Segurança Pública Brasileira
Por Luiz Alberto Vieira
É comum ouvirmos que o Brasil é o país da impunidade. Os dados, contudo, desmentem cabalmente essa tese. Na América do Sul, não há um único país que aplique mais a pena de prisão do que o Brasil. Aqui temos 301 presos para cada 100 mil habitantes, acima do Uruguai (291), Chile (247), Colômbia (244), Venezuela (178) e Argentina (160). Dessa forma, o índice de encarceramento brasileiro é mais do que o dobro da média mundial (144 por 100 mil habitantes).
Como justificar o discurso da impunidade com tanta gente na cadeia?
O resultado desse encarceramento em massa é um enorme fracasso. O Brasil é o 10º país com maior índice de homicídio do mundo (20,7 por 100 mil habitantes). Perdemos feio até mesmo para o Paraguai (5 homicídios por 100 mil habitantes)! Enquanto isso, Uruguai (2,6 homicídios por 100 mil habitantes), Argentina (2,5 homicídios por 100 mil habitantes) e Chile (1,7 homicídios por 100 mil habitantes) são mais seguros que os EUA (3,6 homicídios por 100 mil habitantes).
Se é mentira que o Brasil seja o país da impunidade, o que explica o fracasso da política de segurança? Por que prender pessoas em massa não conseguiu controlar a criminalidade?
O primeiro problema é que apostamos mais na violência policial do que na inteligência policial.
No filme “Poderoso Chefão 3”, Michael Corleone dá uma lição em Vincent “Vinnie” Mancini: “Precisamos de advogados, não de valentões”. Se o crime organizado investe há muito tempo em estratégia e inteligência, fica ainda mais absurda a concepção brasileira de lidar com o crime com brutamontes violentos. A estratégia policial e perícias de qualidade são fundamentais para qualquer combate eficiente ao crime.
Além disso, somos um país absurdamente desigual, como apontou o professor Maurício Saliba, aqui no Jornal Contratempo. Em poucos lugares do mundo, a recompensa por levar uma vida longe do crime é tão pequena quanto para a população brasileira, faltando boas oportunidades para a maior parte dos brasileiros. Sem boas escolas e bons empregos, a alternativa do crime fica muito mais atrativa.
Desta forma, sem reformularmos completamente a maneira como enxergamos os problemas de segurança e social, continuaremos sendo um dos países mais violentos do mundo, mesmo prendendo tanta gente.