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Estudantes de Medicina Veterinária da Unifio são obrigados a estarem presentes em aula

Estudantes de Medicina Veterinária da Unifio são obrigados a estarem presentes em aula

Estudantes dizem que se não fossem para as aulas os professores não fechariam as notas do semestre

 

Juliana Neves

 

Nesta semana, o Jornal Contratempo recebeu a informação de uma aluna do sétimo termo do curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário de Ourinhos (Unifio), Viviane Oliveira Pereira, sobre diversos casos de Covid-19 entre os estudantes e que estariam sendo obrigados a frequentar determinadas aulas para garantir a nota final do semestre.

Com isso, a aluna conta que em fevereiro começou a fazer denúncias para a Vigilância Sanitária avisando que as medidas de prevenção não estavam sendo cumpridas na Unifio, e já havia casos de alunos infectados. A Vigilância compareceu ao local e logo a instituição voltou a descumprir as medidas para prevenir a disseminação do vírus. A aluna voltou a denunciar, mas não obteve mais atenção, somente quando utilizou um número de celular diferente.

A Vigilância voltou a visitar a Unifio, entretanto os alunos tiveram aulas normalmente. “Em aula on-line, indaguei o professor coordenador dizendo que todos já estavam cientes que haveria disseminação, mas não adiantava reclamar, pois o coordenador obrigou estarmos presente na aula explicando que, se não fôssemos, não fecharíamos a nossa nota”, conta Viviane.

Conversa com calouro de medicina veterinária (Foto: arquivo Viviane)

Em resumo, o possível surto, de acordo com a estudante, já se instalava entre os alunos desde esta época. Os professores sabiam que poderia ser este o resultado, porque o coordenador de veterinária tornou obrigatório os alunos estarem presentes em sala de aula ao dizer que não concluiria a nota de cada um se não estivessem em aula presencial. Desta maneira, muitos levaram a doença para casa, para seus familiares.

“Já estamos em final de maio, começo de junho, ou seja, três meses atrás já tínhamos problemas e, mesmo assim, continuaram a nos colocar em risco e muitos quando diziam estar doentes eram coagidos. Quando alguém indagava com medo de estar na universidade, o coordenador mandava trancar o curso. Sempre tivemos medo porque sabíamos da falta de aplicação das medidas de segurança, afinal não há espaçamento em laboratórios e todos tocam no mesmo animal, sendo 30 alunos em uma única sala e não há nem álcool em gel para os calouros. Também cito que em algumas aulas de alguns professores eu indaguei sobre o coordenador nos obrigar a ir na aula, tenho testemunha porque as aulas foram gravadas, mas até o presente momento não consigo encontrar essa parte no vídeo. E por denunciar, reclamar da situação, me sinto perseguida pela coordenação”, exclama a estudante de medicina veterinária.

Outra estudante do curso, que prefere não ser identificada em razão de retaliação, diz que “nos dias 10 e 12 de maio, eu fui para a instituição ter aula prática, que segundo o nosso coordenador era obrigatória pois [do contrário] não fecharia as notas. Como a turma tem bastante alunos, dividimos em grupo, mas, mesmo assim, tinha bastante pessoas. E no dia 14 comecei a ter os sintomas de uma gripe, na sexta fiz o teste de Covid e deu positivo, avisei o coordenador e ele falou que se eu estava doente é porque eu fui, mas aleguei a ele que estava sem sintomas e ele falou que eu não deveria ter ido se estava doente, mesmo alegando que não tinha nada. A minha família se contaminou, foram os piores dias porque não podia fazer nada, não tinha condições psicológicas para fazer nada, pois meu pai ficou internado no hospital por oito dias e agora estamos nos recuperando em casa”.

Por fim, outra estudante, que também terá sua identidade preservada, conta que quando as aulas práticas começaram a ser marcadas os alunos questionaram se seria obrigatória a presença e se seriam necessárias neste momento em que estamos vivendo, pois muitos alunas são mães ou moram com pessoas com grupo de risco. Um dos professores disse que seria obrigatório e outros disseram que sem a presença em aula não fecharia a média do semestre, ou seja, seria obrigatório de qualquer maneira.

“Uns dias antes da aula prática, meu pai teve contato com uma pessoa que estava com Covid-19 e todos nós fizemos exames e o resultado foi negativo. No dia 12 de maio, fui para a aula ciente que não estava doente, porém com medo. Passei o dia inteiro em uma sala lotada de alunos. Separamos em grupos e cada um teria uma atividade diferente a ser executada e uma ficha do hospital que passou pelas mãos de todos, o professor foi até uma gata para explicar a matéria e todos precisaram estar próximos ao redor do animal e tivemos contato com o pessoal do hospital. Todos de máscara, mas todos juntos em uma sala pequena, sem janela, sem ar-condicionado e sentados próximos. Na sexta-feira, dia 14, uma amiga me ligou desesperada dizendo que havia feito o teste e o resultado foi positivo e me pediu para ficar em alerta comigo mesma, afinal tive contato com ela. Minha amiga avisou o nosso coordenador e ele ligou para ela em tom de sem educação, sendo grosso que não deveria ter ido para aula com a doença, mas ela avisou que poderia ser sido contaminado na universidade. E no dia 18, eu acordei com a garganta raspando e fiz o teste na farmácia e o resultado foi positivo. Tive certeza de que me contaminei em sala de aula e recebi a ligação do meu coordenador e me disse que não teria como eu acusar que a contaminação foi em aula, dizia que eu tinha adquirido a doença porque me encontrei com a minha amiga fora da instituição, mas era só fazer as contas que a certeza era de contaminação na Unifio. Depois descobri outros casos positivos, virou uma bola de neve”, fala a estudante de medicina veterinária.

Em conversas paralelas, a aluna Viviane com o coordenador soube que ele e a sua esposa estavam com suspeita de Covid-19 e que ele estaria esperando o resultado dos exames, pois estavam com sintomas. Depois as duas conversaram entre si sobre que o coordenador foi positivado, ou seja, o problema já era muito antes que os próprios alunos pudessem imaginar. Inclusive, a esposa do coordenador é coordenadora do curso de Odontologia. Isto é, o problema já estava instalado na Unifio, o vírus já estava na instituição de ensino.

“É falta de respeito, um absurdo, porque nos obrigaram a ir às aulas, em entrelinhas porque não dão a cara a tapa, para que a gente se contaminasse. Eu tenho meus avós, meus pais, meu namorado se contaminou e temos a informação que, somente neste dia 12 de maio, foi uma média de sete alunos contaminados”, finaliza a estudante.

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