Teatro de ilusões
Mesmo que o semestre ainda não tenha terminado, o balcão eleitoral está embalado e concorrido em Ourinhos. No início do ano foram as mudanças de partido feitas a partir do “critério da manada”, e agora começa a sair os anúncios de pré-candidatura, que seria mais ou menos como um teste que essas empresas alimentícias fazem quando querem lançar um produto novo, soltam para “degustação”.
Essa prática é antiga e infelizmente não se limita ao nosso município, mas está pulverizada por todo o Brasil. Um microcosmos do que se viu naquela tarde de domingo decepcionante, quando deputados votaram pela abertura do impeachment de Dilma Rousseff, está ocorrendo na cidade do “coração de ouro”. A corrida por futuros cargos está apenas começando.
Sabemos que sem apoio braçal, nenhuma campanha é realizada. Teoricamente aqueles e aquelas que se dedicam e se comprometem a tamanho esforço e exposição, deveriam no mínimo estar conectados à plataforma de governo a ser defendida, imbuídos da vontade de transformar e melhorar o município em todas as suas idiossincrasias.
Normalmente não é isso que acontece. Salvo algumas destacadas e importantes exceções, geralmente o critério de fidelidade, capacidade técnica e dedicação com que governantes escolhem seus futuros cargos é medido à quantidade de panfletos distribuídos, e aos votos arregimentados por estes através de laços consanguíneos, goles de cerveja ou promessas de salvação.
O problema que muitos futuros chefes do executivo e legislativo não veem, é que a qualidade de seus mandatos estará diretamente associada à expertise de seus “escolhidos”. Nessa estrutura hierárquica onde infelizmente os estatutários (contratados através do critério da impessoalidade e conhecimento) quase nunca são valorizados, serão aqueles que comandarão setores estratégicos de secretarias municipais, dando o “tom” na qualidade dos serviços prestados aos munícipes.
Todos falam em mudança e melhoramento, mas paradoxalmente o que é feito nas coxias, ensaios e divulgação quase nunca tem relação com o produto final apresentado no palco. A plateia sempre paga o ingresso para ver a mesma apresentação. O corpo de atores e direção muda, mas sempre seguindo o mesmo texto e adaptação. A luz que ilumina os espectadores em uma sala de espetáculo chama-se “luz de serviço”, que clareia contraditoriamente o local onde normalmente a peça não é exibida. Bem vindos ao teatro de ilusões.