50 ANOS DO MAIOR FILME DE TERROR DE TODOS OS TEMPOS: “O EXORCISTA” (1973) Por Bruno Yashinishi

Provavelmente, as gerações mais jovens já ouviram falar ou até mesmo já assistiram ao filme de William Friedkin, “O Exorcista”, que estreou nos Estados Unidos em 26 de dezembro de 1973. Baseado no romance homônimo de William Peter Blatty, essa obra é considerada por muitos como o filme mais aterrorizante de todos os tempos e completa 50 anos em 2023.
Mas, será que esses espectadores mais jovens de fato reconhecem a força desse filme? “O Exorcista” é mesmo o maior terror do cinema? Depois de meio século, ainda temos coisas a dizer sobre o filme de Friedkin?. Bom, vamos por partes.
Em 2014, a revista científica estadunidense “Developmental Cognitive Neuroscience” publicou o resultado de uma pesquisa intitulada “Exciting fear in adolescence: Does pubertal development alter threat processing?” (Medo excitante na adolescência: o desenvolvimento puberal altera o processamento de ameaças?). Entre os apontamentos, o texto afirma que há uma relação entre a busca por experiências intensas na adolescência com assistir filmes de terror ou suspense.
De fato, os mais jovens também consomem o gênero de horror, mas de formas diferentes do que há 50 anos. Os chamados filmes slasher (“Halloween”, “Pânico”, “Jogos mortais”, e tantos outros), que tiveram como precursor “O massacre da serra elétrica” (1974) e ganharam impulso nos anos 80 com franquias como “A hora do pesadelo” e “Sexta-feira 13”, parecem ser os mais assistidos entre a juventude, embora a classificação indicativa destes não seja adequada a esse público. Alguns personagens, como Pennywise, de “It, a coisa”, ou Chucky, de “Brinquedo assassino” tornaram-se estampas de cadernos escolares ou souvenirs, como chaveirinhos em mochilas. O que era pra ser assustador acabou sendo encampado pela lógica da indústria cultural, fazendo com que muito de sua essência tenha se perdido, ou então, mudado de propósito na cultura do entretenimento.
Apesar disso, uma característica marcante dos filmes de terror ainda permanece: o sobrenatural. E é também essa característica que fundamenta os maiores clássicos do gênero de horror no cinema, como “Frankenstein” (1931), “Drácula” (1931), “O bebê de Rosemary” (1968) ou “O iluminado” (1980), por exemplo. O sobrenatural é a peça chave em “O Exorcista”, embora o filme vá muito além de se deter em uma simples estória sobre o dualismo entre bem e mal, Deus e o diabo ou sobre possessão demoníaca. A força de “O Exorcista”, que talvez seja desconhecida pelo público atual, reside em todas as engrenagens de sua forma e de seu conteúdo. Não só no sentido técnico, mas no próprio roteiro e na condução da narrativa, a obra de Friedkin extrapola a exibição do horror sem precedentes na cinematografia, assim como em sua posteridade.
Acalorados debates se dão em torno de se considerar “O Exorcista” como o filme mais aterrorizante da história. Grande parte da crítica especializada e do público cultua o filme como um verdadeiro clássico do cinema norte-americano. Foi o primeiro filme de terror a ser indicado ao Oscar de Melhor Filme em 1974, obtendo ainda indicações nas categorias de Melhor Diretor (William Friedkin), Melhor Atriz (Ellen Burstyn), Melhor Ator Coadjuvante (Jason Miller), Melhor Atriz Coadjuvante (Linda Blair), Melhor Direção de Arte, Melhor Fotografia e Melhor Edição. Ganhou os Oscar de Melhor Roteiro (William Peter Blatty) e Melhor Som (Christopher Newman e Robert Knudson).
Em todos os aspectos, “O Exorcista” não é um filme simplista ou apelativo, por mais que algumas cenas sejam aterradoras visualmente. Há relatos de que nas primeiras sessões, era preciso que uma equipe médica se instalasse nas imediações dos cinemas, pois muitas pessoas passavam mal ao assistirem as cenas em que a jovem Regan (Linda Blair) é submetida a exames médicos. As famosas cenas da escada, da cabeça rodando em 360º ou do crucifixo em nada soam como superficiais ou vulgares, tais como as “jumpscares” dos filmes atuais.
E depois de 50 anos ainda há muita coisa pra se dizer de “O Exorcista”. Dessas, duas merecem nossa atenção aqui. A primeira é que, apesar de todas as transformações culturais, cinematográficas e sociais ocorridas ao longo dessas cinco décadas, o embate titânico entre o sagrado e o profano (ou entre o divino e o diabólico) persiste em quase todas as expressões artísticas, das comerciais até as “belas artes”. O drama da menina Regan, possuída pelo demônio Pazuzu (demônio do vento e das secas nas mitologias assíria e babilônica) e que recebe o ritual de exorcismo do padre jesuíta Lancaster Merrin (Max von Sidow), auxiliado pelo padre e psiquiatra Damien Karras (Jason Miller) nos faz pensar em quão frágil é a natureza humana diante dos mistérios que estão além de nossa compreensão racional, assim como nos faz refletir sobre o sagrado, independente de crença ou descrença religiosa.
A segunda coisa a ser dita é que, mesmo tendo como fundo e cena uma estória absurdamente grotesca e aterrorizante, “O Exorcista” só alcançou tamanho prestígio devido ao esforço digno de reverência de seus produtores, roteirista, direção e elenco. Desde os diálogos até os cenários, da iluminação até os efeitos sonoros, do explícito ao tácito há uma combinação certeira entre aquilo que os realizadores quiseram mostrar e aquilo que de fato o filme mostra aos espectadores. Certamente, quem viu o filme nos cinemas há 50 ou 40 anos, ou ainda que tenha locado o VHS, o DVD ou acessado através das plataformas digitais posteriormente, não se decepcionou. Se a expectativa é ver um verdadeiro filme de terror, “O Exorcista” foi e continua sendo uma das melhores opções.

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