Abandono
11.
Prefiro as máquinas que servem para não funcionar: quando cheias
de areia de formiga e musgo – elas podem um dia milagrar de flores.
(Os objetos sem função tem muito apego pelo abandono.)
Também as latrinas desprezadas que servem para ter grilos dentro –
elas podem um dia milagrar violetas.
(Eu sou beato em violetas.)
Todas as coisas apropriadas ao abandono me religam a Deus.
Senhor, eu tenho orgulho do imprestável!
(O abandono me protege.)
Manoel de Barros.
Livro sobre nada, 2ª parte, poema 11. – 1996
Tomo emprestado este poema, Barros é muito inspirador, um brincalhão nos sentidos e nos casamentos das palavras.