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Mediocridade

Mediocridade

Está complicado a contemporaneidade.

É sabido a crise dos valores, das referencias, dos modelos, dos paradigmas. Muitos já disseram isso.

Mas quantos perceberam que isso não são causas, mas consequências? Dizer que a vulgarização proveniente do consumismo é degradante, é tão óbvio quanto andar em círculos e redescobrir o inicio no fim. Ficar dentro desse pensamento cíclico não vai ajudar. Claro, assumindo que seja necessário ajudar.

E ajudando, pelo menos a mudar o foco do pensamento, não seria interessante parar e pensar nas causas, nos por quês que hoje temos tantos medíocres em todos os lugares? Quão maior for, quão medíocre é. A mediocridade em nível ontico. O melhor remunerado, o com maior visibilidade, é um quase nada em sua própria linguagem, no seu próprio jogo. É um erudito da superfície. Conhecedor profundo da abrangência do tolo. A massa dorme em paz sabendo ser ela pífia de intelectualizarão, e sabendo também que pode ser ela a próxima referência da semana. Ser o ídolo do mês. E assim, experimentar a imortalidade efêmera do artista de massa, produzido pelo e para o capital.

Somos movidos pela vontade. Vontade de ter, vontade de criar, vontade de ser, de ser desejado, de ser amado. Vontade de ser invejado.

Mas o que cria esta vontade? Onde nasce a vontade em si? Será que nasce em mim, a priori? Será que a controlo? Será que não me controlo? Será que penso em mim? Ou será que es denkt in mir[1]?

Nada precisa ser mudado. Tudo deve ser compreendido. Há muitas opiniões de mudança por todos os lados, mas por lado nenhum há entendimento do que há por todo lado. Há muito medo no ar. Medo do desconhecido, não sabemos quem somos e para onde vamos. Não existimos mais, por que não pensarmos mais. Devemos retornar ao cogito[2], se almejamos um dia voltar a sermos.

Antes da ação, pense. E depois, pense de novo, e de novo. O mundo está cheio de ações, de ímpetos. O mundo está cheio de opiniões. O mundo está vazio.

Uma mudança de observação deve ser notada, sair dos ciclos circulares e entrar nos ciclos senoidais de analise. Hora estamos no alto, na bonança, hora por baixo, no fundo, no caos, na lama. Onde estamos hoje.

Este não é um pensamento sobre os sintomas, mas sobre as causas. Não pensar nas consequências, nas aparências, nos fenômenos. Mas pensar a raiz, a origem. Estamos `a beira do abismo, temos de agir, mas não sabemos o que fazer. E assim deveremos permanecer, em inação, até a verdadeira solução ser encontrada, para voltarmos a subir, e não reencontrar o inicio no fim do ciclo.

Vivemos tão mediocremente. De todos os signos, a falta de ideal moral, falta de confiança na verdade, sob uma política hipócrita, sob renomados fajutos, artistas e intelectuais produzidos. Vivemos a toque de caixa, empurrados pela mídia de um lado, e o capital pelo outro. Vivemos a flor da pele, em ímpeto constante, estamos acuados e prontos para explodir. Vivemos a Idade Média Contemporânea. E para sair dela, só através de um novo Renascimento Cultural, e sobre isso, não sei em qual ideal vamos nos espelhar.

De bom neste mundo, é que de um mal não sofremos, o mal da consciência.

Aqui não apresento as causas, não as conheço também. Aqui apresento a questão e um convite, vamos debater?

[1] Algo pensa em mim. Do alemão, cunhado por Friedrich Nietzsche.

[2] Cogito ergo sum – Penso, logo existo. Do latim, cunhado por René Descartes.

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