É hora de estarmos juntos

 

As pessoas que não aceitam as políticas do atual governo, nem o discurso neoconservador que as sustenta, devem expressar suas opiniões na Internet. Se aparentemente não influenciam o posicionamento de alguém, ao menos produzem a sensação de um alívio individual, por se fazer algo e por expressar um desabafo que estava entalado na garganta. Transformações verdadeiras no sombrio momento que atravessamos dependem da batalha nas redes sociais, não nos iludamos de que podemos abrir mão disso. Contudo, não ocorrerão sem a mobilização nas ruas, na imprensa, na Educação, e em todos os espaços que compõem a esfera pública. Acredito que qualquer pessoa razoavelmente conhecedora do funcionamento da batalha política saiba disso.

O que podemos constatar é que, mesmo cientes dessa necessidade, não há mobilização. Já abordamos algumas razões para esse cenário (em texto com a jornalista do Contratempo, Eduarda Schuh). Estamos acuados, cansados e divididos por ninharias. As estruturas que tradicionalmente sustentam o campo progressista brasileiro (partidos políticos e sindicatos) parecem continuar distantes de nossas inquietações. É um cenário bastante difícil.

As ações que têm surgido fora dessas instituições recebem pouquíssimo apoio. Nem mesmo os mais ardorosos debatedores de Facebook se animam a aparecer nas reuniões das iniciativas dos poucos que ainda não sucumbiram sob a apatia.

Reconhecendo que a situação pode ser paralisante para muitos, é preciso pensar de onde poderiam vir forças para reverter um quadro de opressão objetiva e subjetiva. Constato que um elemento muito importante que podemos fazer estamos deixando de lado, e se trata de algo fundamental não só para a mudança da situação política; é também para nossa sobrevivência.

O mínimo que deveríamos estar fazendo é nos mantermos unidos. Parece chavão isso. Estou falando de união quanto às iniciativas que têm surgido e também na nossa vida cotidiana. É preciso se manter junto a camaradas progressistas. Infelizmente, muita gente tem medo de andar com aquelas e aqueles que apresentam maior engajamento, como se fossem portadores de uma doença infecciosa. Ou alguém marcado para morrer – se eu andar com ele, morro também.

Precisamos estar juntos no dia a dia, em todos os espaços. Frequentarmos lugares em comum, visitarmo-nos uns aos outros, termos momentos conjuntos de diversão. Sentir-se sozinho ou sozinha diante do maremoto de retrocessos é dilacerante e pode nos levar a quadros reais de ansiedade e/ou depressão. Somente juntos nos sentimos potentes, podendo conversar sobre nossas inquietações e utopias, sem medo se expressar.

O apoio pelas “redes sociais” é indispensável, mas não substitui a presença face a face. Trata-se de algo concreto que precisamos fazer agora. Chame aquele ou aquela camarada para um café. Pode ser que esteja precisando. Hoje.

 

Luiz Bosco é psicólogo e educador.

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