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Saídas do neoliberalismo em tempos de pandemia na rede pública estadual de Educação do Paraná

Saídas do neoliberalismo em tempos de pandemia na rede pública estadual de Educação do Paraná

Prof. Gabriel Pozza – Secretário de Comunicação do Núcleo Sindical da APP Jacarezinho

A crise humanitária, que se aprofunda com a pandemia do novo coronavírus (COVID-19), é antes de tudo, o reflexo da crise sistêmica do modo de produção econômico e político que vivemos. As contradições do capitalismo são cada vez mais agudas, desnudando a incapacidade deste modelo de sociedade atender necessidades básicas da maioria da população. A lógica macabra do neoliberalismo opera na perspectiva do lucro a acima de tudo, nem que pra isso milhares de vidas humanas tenham que ser sacrificadas. A mesma lógica impera nas redes públicas estaduais de ensino. O direito à Educação, bem como o futuro das novas gerações, também vem sendo relegado para atender aos interesses mercantis.

Nesse sentido, tanto o governo federal de Jair Bolsonaro (sem partido) e Paulo Guedes, quanto o governo do Paraná de Ratinho Jr (PSD), estão empenhados em garantir a lucratividade da burguesia, afinal, foram eleitos para isso. Como bons oportunistas a serviço do capital, aproveitando-se da crise sanitária que o Brasil atravessa, estes governos vêm executando medidas que atacam o conjunto da classe trabalhadora. No Paraná, especificamente na rede pública de ensino, os(as) trabalhadores(as) da educação estão enfrentando duras investidas. A terceirização e o ensino a distância, para citar apenas alguns exemplos, são sintomáticos.

Alguns dias depois de antecipar o recesso escolar de julho, como medida para conter a proliferação do coronavírus, o governador Ratinho Jr enviou para a Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP) o Projeto de Lei 189/2020, o qual visa extinguir diversos cargos públicos de nível fundamental e médio. Na educação pública, os funcionários (as) de escolas (agentes I e II) serão completamente impactados caso o projeto seja aprovado. Com isso, o governo busca terceirizar estas funções, afetando quase 30 mil profissionais que atuam nas escolas do Paraná em serviços como alimentação escolar, limpeza, conservação, bibliotecas e serviços administrativos.

As consequências da terceirização para os (as) funcionários de escolas são inúmeras, abrindo caminho, considerando a Reforma Trabalhista sancionada no governo de Michel Temer (MDB), inclusive para a terceirização de professores (as). De forma geral, estes contratos de trabalho são bastante precários haja visto o aumento da carga horária, a diminuição de salários, a perda de direitos trabalhistas, sem contar a maior incidência de acidentes no trabalho e a permanente ameaça de demissão. Além disso, fragiliza as organizações sindicais diante de negociações coletivas, fragmentando a categoria e enfraquecendo o poder de luta dos(as) trabalhadores(as).

A terceirização de políticas públicas não é algo inédito, porém, na educação compromete diretamente as conquistas relativas a Gestão Democrática e a autonomia da escola fixadas na Constituição e na LDB. A luta dos profissionais da educação para efetivar relações democráticas no espaço da escola, com essa medida, será desmantelada. Me parece que o governo do Paraná se espelha em seu vizinho, o Estado de São Paulo, onde funcionários da limpeza e da cozinha já são terceirizados, processo que se iniciou em 2008, quando José Serra (PSDB) era governador do estado.

O Secretário da Educação do Paraná, o empresário Renato Feder, herdeiro do grupo Elgin (de eletrodomésticos) e dono da Multilaser (do ramo de tecnologia), desde o início do mandato está atuando junto as empresas ligadas ao Instituto Leman³ e ao Grupo Positivo4. Observa-se assim que a Secretaria de Educação e de Esporte (SEED) vem agindo descaradamente em benefício de interesses privados. A terceirização, bem como a implantação da educação à distância (EaD), suposta saída neste momento de isolamento social, representa grande oportunidade de lucro para tais frações burguesas, transformando um direito social básico em mercadoria.

A contratação milionária, sem licitação, de empresas privadas para implantar o EaD na rede pública estadual deixa claro a lógica mercantilista neoliberal. É bom lembrar que nos últimos anos o governo do Paraná vem retirando, sistematicamente, direitos dos professores e funcionários de escolas com a justificativa de que não tem dinheiro disponível para investimentos públicos. Porém, de forma contraditória, injetou recentemente R$20,9 milhões em empresas de telefonia celular, contratadas para o uso de dados pelo aplicativo “Aula Paraná”. Mais R$900 mil foi pago a TV Record, para que transmita aulas através de canais abertos, além de R$300 mil para a IP-TV LTDA, responsável pela construção de uma “plataforma” de streaming que dialogue com as operadoras de telefonia celular.

Não bastasse todo esforço para engodar com dinheiro público iniciativas privadas, outro agravante é o fornecimento de dados pessoais de milhares de estudantes e professoras (es) para o Google, via aplicativos de celular. Ao invés de utilizar a estrutura pública das Universidades, Institutos Tecnológicos e Federais presentes no Estado do Paraná, os quais possuem profissionais altamente qualificados, o empresário Renato Feder prefere conceder a uma grande corporação privada tal iniciativa. Esta medida é grave no sentido de gerar imensa insegurança a todos, tendo em vista as práticas de espionagem de dados pessoais que o Google realiza em benefício próprio.

A realidade econômica e social dos estudantes paranaenses foi completamente desconsiderada, assim como a opinião dos professores e funcionários de escolas. Tais fatos indicam o absoluto descolamento de interesses entre os burocratas serviçais do capital e os sujeitos educacionais. A lógica de mercado, de gestão empresarial, não pode ser a lógica da Educação ou qualquer serviço público. Este caminho está fadado ao fracasso, da mesma maneira que o sistema capitalista, não sendo a solução mas sim o problema a ser superado. Diante disso, qual a principal tarefa para os(as) trabalhadores(as) da educação da rede pública estadual?

Sem dúvida, uma das principais necessidades dos trabalhadores em educação é se organizar nos instrumentos de luta da categoria. Não há saída individual frente a obstáculos coletivos. Por isso, o fortalecimento dos sindicatos é fundamental para enfrentar os desafios do agora e do futuro. O governo Bolsonaro e Ratinho Jr. possuem um projeto de poder que precisa ser confrontado radicalmente, afinal, trata-se da sobrevivência de direitos básicos da vida. Acumulando forças nesse caminho teremos condições concretas de fazer a disputa objetiva por uma Educação Pública popular, humanizadora, laica, de qualidade e democrática. Uma Educação onde os sujeitos envolvidos tenham autonomia para se desenvolver plenamente em busca de um novo mundo, onde a vida e o futuro dos nossos jovens estejam acima dos lucros.

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