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“Inclusão, palavra forte e bonita, mas a realidade é bem diferente”- Crônica de Pedro Saldida

“Inclusão, palavra forte e bonita, mas a realidade é bem diferente”- Crônica de Pedro Saldida

 

Pedro Saldida é Servidor público, Bacharel em administração

Estava esta semana pensando no que escrever quando me deparo com a notícia que a Gestão vai construir o primeiro Centro de Referência do Autista, encaminhando um projeto de lei para repassar recursos para a APAE.

Pois bem tudo isso seria muito bonito, e de se ovacionar de pé, se esta Gestão colocasse em prática e fizesse uso de tal palavra em condições dignas de registo. Mas para todos os lados que olho vejo tudo menos inclusão.

Porque razão a Gestão, em 1 Km de acesso à APAE Rural colocou em sua extensão areia? Alguém me explica? Já viram os perigos inerentes a esta postura? Nem todo mundo é rico, alguns têm motos e imaginem os pais transportar seus filhos em uma estrada de areia durante 1 Km. E se a moto derrapar? Quais as consequências para as crianças? Atenção que não há somente crianças indo de transporte coletivo.Inclusão?

Porque razão a Gestão não colocou no SUS Neuropediatras? Neuropediatra no SUS é gratuito para os pacientes. Porque fazem os pais gastar entre R$190 e R$250( média, mas cobram bem mais porque a procura é imensa e tem fila de espera) em uma consulta no privado e que não dá direito a retorno? Fora os exames solicitados, como testes neuropsicológicos, EEG, Ressonância Magnética, tractografia, magnetoencefalogia. Inclusão?

A Gestão é tão desastrada no quesito inclusão, os outros nem vou abordar agora, que pede renovação dos laudos atestando autismo ou deficiência permanente. Várias instituições pedem, mas não sabem, ou não querem saber, que no dia 10 de Maio de 2023, a Câmara dos Deputados aprovou a Lei do Romário( Senador e defensor de tão nobre causa), que ratifica a validade indeterminada para laudos atestando autismo ou deficiência permanente. Eu sei que não é a área do Secretário de Inclusão, mas poderia se inteirar de assuntos relevantes na área onde foi colocado e dialogar com outras secretarias, ou então que tivesse uma boa assessoria que fosse capaz de fazer bem mais que usar a palavra inclusão em vão. Mas o que esperar de alguém que, querendo mostrar e ensinar inclusão para as crianças do nosso Município, pediu para as mesmas gritarem bem alto, quando tinha nas suas fileiras crianças autistas? Todos nós sabemos, ou deveríamos saber, que uma das mais sonantes e culpadas por crises em crianças autistas é a hipersensibilidade auditiva. A criança vai apresentar desconforto, mostrando até sinais de medo, quando ouve sons altos. Há casos até que sentem dor física quando expostas a sons altos.

O que esperar de um Secretário de Inclusão que permite que um Secretário da Educação, que é Psicopedagogo e Professor, logo alguém que deveria saber com quantos paus se faz uma canoa, permite que Professores de crianças especiais, de AEE( AtendimentoEducacional Especializado) tenham sob sua responsabilidade 3, 4 até casos com 5 crianças?  Até 5 crianças que precisam de atenção especial, que são diferentes, que são mais irrequietas que uma criança dita “normal” e uma Professora somente consegue cuidar destas crianças em sala de aula e no intervalo? Inclusão?

Não contente com a situação a Gestão decidiu aumentar a carga dos Professores de AEE e vai incluir os Psicopedagogos no Estatuto, ou seja, vai ampliar os cargos para 39 horas semanais, eu pergunto se Professor de AEE vai ver ser aumentada sua carga, significa que poderão trabalhar dois períodos, mas o professor que tem 39 horas tem 1/3 da jornada de horas de estudo, ou seja será que vai poder ficar dois períodos? O período tem 30 horas até onde sei. Fora que o cansaço de 5 crianças de manhã sumirá para acolher mais 5 crianças à tarde?

Fico com outra dúvida no ar, com estas decisões mostra claramente que não tem verba para contratar mais professores e está enxugando o máximo que pode. Mas se não tem verba para contratar mais, tem verba para pagar a ampliação de jornada dos professores? A ver vamos. Um claro sinal que as coisas não estão bem é o que vai fazer na Educação Infantil, em que vai contratar uma empresa terceirizada para vai fazer a contratação.

Outro exemplo claro foi a publicação em Diário Oficial da extinção do CAREM, a comissão que estudava o estatuto do Magistério, ou seja, vai decidir sozinho, com Democracia e Transparência, mais uma vez apanágio desta Gestão. A tal Gestão que tem Psicopedagogos na sua Rede mas só trabalham meio período, não por culpa deles, como é lógico não atribuo a culpa a eles. Mas sempre questionei se uma criança do período contrário àquele em que a Psicopedagoga se encontra como é atendida? Há coisas muito estranhas mesmo, tão estranhas que esta Gestão ainda não contratou Psicólogos e Assistentes Sociais, conforme a lei de 2019, que derivado à pandemia foi adiada a obrigatoriedade de efetivação 1 ano após sua aprovação. Mas a Gestão fala tanto em inclusão que poderia já ter tomado as diligências para tal ato, mostraria que não usa a palavra inclusão somente na teoria, que na prática o faz sem olhar a meios, só que o dinheiro não deve chegar para tudo. E não podem argumentar e se desculpar com a verba do Fundeb. Foi garantido pelo Governo Federal a mesma verba para 2023 que a repassada em 2022, e este ano foi dado um aumento. Perante os números não consigo entender onde está a Gestão Pública de recursos.

Aproveitando que estou falando de inclusão e educação aproveito para deixar um recado a um pré candidato a  Prefeito da nossa Cidade. Meu caro amigo,vi e escutei com atenção um vídeo em que falavas de eleições para a gestão das unidades escolares. A meu ver é um erro grande que cometes. Defendo muito mais um processo seletivo ou concurso público. Uma eleição será igual aos cargos que temos atualmente, uns bons, outros menos bons e alguns ruins demais e presos a um qualquer político a quem devem vassalagem. Digo isto porque basta 1 gestor para destruir uma equipe que funciona perfeitamente. Acredito que eleição acabe se tornando igual à nomeação. Porque a inclusão também tem que se dar com estagiários. Esses estagiários são seus pares. Não pode um formador desprezar e ignorar seres humanos como escutei aqui há uns dias. Mas me sinto do lado dos estagiários porque os funcionários são destratados há muito tempo. Somos somente números que temos que fazer o trabalho de 10 porque faltam funcionários em todos os setores.

Falando em Inclusão não posso deixar passar em claro a tentativa de inclusão por parte de Bolsonaro dos Militares na tentativa quase lograda de Golpe de Estado e consequente Ditadura. Uns se incluíram e outros se excluíram.

Para além do vídeo da reunião de 2022, e que não é um vídeo institucional, pela disposição das pessoas e pelo ângulo da câmera, por detrás de um vidro, foram encontrados documentos comprometedores para o ex Presidente.

A Polícia Federal encontrou um documento sobre o estado de sítio na sede do PL, mais precisamente no gabinete de Bolsonaro. Além disso tinha escrito expressões por ele usadas. Acharam uma minuta golpista em conversas de auxiliares de Bolsonaro em que previam a Prisão de Rodrigo Pacheco e Ministros do STF. Engraçado que o nome de Lira não estava na minuta, porque será? Inclusão?

Acredito que haverá muito mais provas que as até agora apresentadas, não acredito que iriam prender até militares na ativa, sabendo as consequências de tais atos.

O que conseguimos ver após o dia da operação, é que as instituições voltaram a funcionar independentes e não emparelhadas a qualquer sujeito.Lembremos da operação em Angra dos Reis, em que Bolsonaro e seus filhos foram informados da ida da Polícia Federal nas suas residências, logo tiveram tempo de pegar a moto de água, o famoso jetski, e ir pescar antes de receber as personagens fardadas em sua porta.

Lembremos que Bolsonaro falou no vídeo que tinha 70% dos votos, mas que não poderia vencer a eleição porque não iam deixar. Então é nesse momento que fala que as coisas têm que ser feitas antes da eleição, porque se fosse depois poderia ser considerado uma guerrilha., logo o plano B tinha que ser botado em prática.

Confesso que ainda não assisti o vídeo todo, mas percebe-se claramente que há um cuidado extremo com as palavras por parte de Bolsonaro e Anderson Torres( chega até a falar que sabe o que a Polícia Federal vai fazer, mas que é sinal que esteja emparelhada). O único que teve medo antes de falar foi o representante da CGU que perguntou se a reunião estava sendo gravada. Esperemos o desfecho de todas as investigações que recaem sobre Bolsonaro, como o boletim de vacinas, as jóias, e esta última. Acredito que todas estejam atreladas e em breve teremos um final em que provavelmente decairá ainda mais a popularidade de Bolsonaro.

A inclusão deveria ser um estado de espírito. Veja-se a forma como os imigrantes são recebidos de maneira diferente em todos os Países. Temos Países Europeus com a mente mais aberta e são recetivos, mas também temos Países mais fechados que dificultam a vida dos estrangeiros.

Eu pessoalmente não me queixo muito da forma como fui recebido no Brasil, tive alguns casos em que presenciei um roçar de xenofobia, mas de resto fui acolhido da melhor forma possível, os pontos negativos não superaram os pontos positivos.

Como sempre deixo-vos com uma frase, desta vez de Thiago Fernando de Queiroz:

“ A inclusão não se faz apenas com a informação, mas sim, com as ações verdadeiras advindas do coração!”

Pedro Saldida

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