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ANOS DE CHUMBO – A FARSA NO FIM DE MARIGHELLA

ANOS DE CHUMBO – A FARSA NO FIM DE MARIGHELLA

Por João Teixeira*
Há 53 anos, na noite do dia 4 de novembro de 1969, a forte emboscada policial-militar que liquidou Carlos Marighella (27 homens, um cão, e duas mulheres, armados) foi marcada pelo teatro no confronto entre os guerrilheiros urbanos e as forças de segurança.

O fim do procuradíssimo líder da Ação Libertadora Nacional (ALN), o “inimigo número um” da ditadura civil-militar brasileira (1964/85), o Guevara brasileiro, resultou em tiroteio generalizado que matou uma investigadora da polícia e um dentista que deu o azar por lá na hora errada.
“Foi tudo uma farsa”.
“Eu vi os policiais colocando o corpo no banco de trás do carro” – revelou á Comissão da Verdade /SP o fotógrafo Sérgio Jorge, da extinta revista Manchete, 40 anos mais tarde, e á revista IstoÉ, em março de 2012.

O fotógrafo fazia a cobertura do clássico Corinthians (4) e Santos (1), no estádio do Pacaembu, quando o alto-falante do estádio anunciou a “morte do terrorista Marighella”, sob os aplausos do público.
Jorge e os demais fotógrafos da Imprensa chegaram logo á Alameda Casa Branca, local da emboscada, e foram recebidos aos gritos pelo comandante da operação policial, o delegado do Dops Sérgio Fleury, o algoz da esquerda armada.

“Não quero ouvir um Clic. Todos encostados no muro, com as máquinas no cháo” – ordenou o temido Fleury.
O mulato guerrilheiro baiano, o corpulento Marighella, assassinado aos 58 anos, quando iniciava os preparativos da guerrilha rural no Brasil, o “Preto” venerado pela militância estudantil da ALN, estava no banco da frente do fusca, com uma perna para dentro e outra para fora, os dois braços caídos, quase sem sangue na roupa.

Três policiais retiraram o corpo do carro e o deitaram na calçada.
Abriram sua calça e registaram os bolsos.

No imaginário de alguns policiais, o valente Marighella poderia acionar uma granada, através do fecho éclair da calça, mandando aos ares os que estivessem perto.
Tentaram, então, colocá-lo no banco de trás.
“Mas não conseguiram e foi preciso que um dos policiais desse a volta no carro e pusesse o corpo para dentro”.

A cena arranjada durou 40 minutos.
Foi só isso o que os fotógrafos puderam registrar para os leitores dos jornais censurados.
Desta forma, a improvável e mal ajambrada imagem do cadáver de Marighella, que nunca convenceu os jornalistas, correu o mundo e entrou para a História.

Palavras-chave: ditadura militar de 1964; o assassinato de Marighella.
*João Teixeira, jornalista e escritor, é membro do Conselho Editorial do Jornal Contratempo.

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