Anos de chumbo – O canto de fogo dos dominicanos – parte II
Anos de chumbo
O canto de fogo dos dominicanos – Parte II
João Teixeira*
“Aos que insistem em cantar na fogueira o cântico da esperança libertadora do povo”.
O prefácio de O Canto na Fogueira – carta de três dominicanos, quando em cárcere político – frei Fernando; frei Ivo; e frei Betto – Editora Vozes, 1977 – é eloquente como trilha do filme que foi a ligação da religião na subversão armada contra o regime dos generais (1964/85).
“…infekizmente, a Igreja perdeu de vista sua missão…” – frei Fernando expressava seu desalento com o reacionarismo conservador, de direita, da cúpula católica.
O sacrifício de Marighella foi apenas o intróito da via crucis percorrida pelos religiosos ligados á ALN de Marighella na prisão.
Estavam, áquela altura, após terem passado 2 semanas no Dops, numa pequena cela para 40 pessoas, no Presídio Tiradentes.
“…canto novo que já foi atingido! A Bíblia o descreve no livro do profeta Daniel…”.
Frei Ivo: “… a experiência da prisão tem sido muito importante para mim. Ser cristão não é apenas aceitar um credo, é buscar a verdade, viver o amor, lutar pela justiça. E correr os riscos que advém dela…”.
Frei Betto: “…náo nos permitiram ter missa no Natal e Ano Novo. É incrível que, num País que se diz cristão, prisioneiros não possam participar do sacrifício do Senhor…” (pág. 33, 5 de janeiro, em carta á família).
“… canto antigo que sempre reaparece, em prosa ou em verso, composto ou recomposto, nas melodias e tonalidades mais diversas, quando o povo é oprimido por Nabucodonosor…”.
Os religiosos domicanos haviam passado pelo inimaginável, a tortura, um crime que nem Marighella esperava que pudesse acontecer.
Religiosos no pau.
A ditadura era dura.
“… sou um homem plenamente feliz. Deus me confiou uma missão e eu tento me encarregar dela com todas minhas forças, Como Ele fui caluniado e torturado…”.
“… no Canto da Fogueira, quem canta é a liberdade nascida no coração de quem convive com o Deus vivo e libertador…”
“… nas piores condições de vida em que a fraqueza é total, experimento a força do Espírito…”.
“… Canto é a vontade de quem quer ser fiel ao seu Deus e ao seu povo…”.
Frei Fernando faleceu em 2019, na Bahia, dedicado á apromixaçao de religiões africanas aos católicos.
Frei Betto, ex-repórter da Folha da Tarde, autor de Batismo de Fogo, livro e filme, mantém-se fiel á esquerda histórica em favor dos fracos e oprimidos.
Frei Ivo afastou -se da Ordem Religiosa há 4 décadas.
Palavras-chave: prisão de dominicanos; anos de chumbo.
*João Teixeira, jornalista e escritor, é membro do Conselho Editorial do Jornal Contratempo.