Marchas e contramarchas
As opções na vida definem nossos destinos. A profissão, as amizades, o casamento, a orientação política e ideológica- mesmo a dos alienados, abúlicos e apassivados diante da política partidária e refratários ás instituições- são indícios seguros do caráter (ou da falta de caráter) humano. “Dize-me com quem andas, eu te direi quem és”. O homem é a sua obra. No tocante á nossa seara, na pescaria de pérolas em águas turvas, a comunicação social (jornalismo), cuja matéria prima é a notícia, a informação de primeira ou segunda mão, de fonte confiável ou não, é também opinião, a vida cobra um pesado tributo á independência, a reflexão e o senso crítico – além das escolhas políticas.
Senão, vejamos, tal qual o garimpeiro que vasculha o cascalho em busca da pepita de ouro, somos obrigados a enfrentar toda sorte de dificuldades e humilhações, como jornalistas, para obter um informe de órgão público pago e mantido pela população. Pagamos e, além de não sabermos onde estão gastando nosso dinheiro, não somos informados de nada pelos servidores que não nos servem. Malversação. Muitos os males do Brasil são. E não apenas saúde e educação.
A perseguição, a prisão, a tortura, o desemprego e a marginalização social endureceram tantos corações! “Viver é melhor que sonhar…” O jornal “última hora” (uh) havia sido vendido, então, para o Grupo Folha, de Otávio frias e Carlos Caldeira, em 1967. A Agência Folhas estava nascendo. Chamava -se “Agência de Informação e Correspondentes” e Miranda, Jordão era o diretor. Mário Patti, o secretário. Carlos Alberto Libanio de Cristo, o frei Beto, dominicano, o repórter.
Os três militantes de esquerda formavam o núcleo da futura Agência Folhas. Frei Beto era apoio da Ação libertadora Nacional (aln), de Marighela, influente na área religiosa e política. Todos são ex-presos políticos. Miranda, vivendo na ponte aérea Rio-Sp, passou a dar apoio á resistência armada e transformou em “aparelho” seu apartamento em Laranjeiras. Alguém foi preso e “abriu” o endereço onde a polícia achou matérias de propaganda, armas, dinheiro “expropriado” (roubado) de banco e caminhão de entregas.
Miranda fugiu para não ser preso. A polícia política (Dops) registrou um encontro dele com Patti em SP. Perseguido em SP, Miranda fugiu para o sul, com a polícia no encalço. Alcançaram-no no Paraguai, graças á dobradinha que o Dops fazia com a truculenta e corrupta polícia do ditador Stroessner. Preso, torturado, arrancaram-lhe o nome de Patti, o secretário de redação, membro do PCB, que entrou no índex do Dops.
As opções políticas tinham consequências nos “anos de chumbo”. A prisão, o desemprego, a desagregação familiar e social, a miséria. O jornalismo da Guerra Fria (1945/89) era mais que fato, é foto. Era época de ação e reação, de marcha e contramarchas, no motor da História.