Do céu ao chão

A ideia de sair do meio da pequena multidão do posto de gasolina, para irem a um lugar isolado, tomou conta deles rapidamente. Um espaço destinado a festas de peão, vazio quase o ano todo. Amplo e pouco iluminado, pouca gente se aventurava por lá, com razão, talvez.

O brilho nos olhos e o sorriso sem motivo estavam a mil, debaixo de uma música com letra que, na real, é triste: “You’ll never see me again, so now who’s gonna cry for you”. Daquelas eletrônicas que só gente de rave sabe o autor – no caso, é do September, não que eu seja de rave.

Parecia tudo possível naquele 2011, ou 12, por aí. Pela primeira vez se podia comprar Heineken long neck com um pouco menos de preocupação com o bolso e ninguém quer preocupações. A vida poderia ser uma festa, não é? Ainda mais para a nossa juventude estendida, que não se ligava mais na ideia de uma adolescência que termina e dá lugar a uma rotina de casa-trabalho-banco.

Estavam lá o dono do carro, sua namorada, um amigo e uma amiga – só isso mesmo, tem dias que a alegria dispensa pegação ou muita gente. Um céu aberto, infinito, sem intromissão de luzes artificiais, jogava o espírito para o alto e permitia esquecer que existir tem problemas.

A empolgação aumenta e o amigo doido – sempre tem um no rolê – sobe no capô do carro e todo mundo ri. O vento saúda o corpo feliz que abre os braços e se rende ao tempo, ao momento, ao tudo que se sintetiza ali, naquele gesto simples, na total despretensão de todos e de ninguém.

Ele pula para descer e a ação dá errado: cai de esgueio, gira e bate as costas no chão, causando um barulho feio. O céu estrelado cobre tudo e ele fica deitado, com olhos fixos nos astros.

A respiração fica presa, todos se calam e olham para ele:

“YOU’LL NEVER SEE ME AGAAAAAIN”

O amigo doido grita o refrão da música com a energia de um narrador de rodeio. Levanta-se, bate a areia da roupa e a galera segue o baile.

 

Luiz Bosco Sardinha Machado Júnior

Psicólogo e professor universitário

(14)9 9850 0915

 

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