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O Primeiro de Maio é dia do trabalho, não de celebrar um genocídio

O Primeiro de Maio é dia do trabalho, não de celebrar um genocídio

Imagem: Laura James, Pexels

Nossa maior luta é pelo trabalho. Dele depende nossas condições materiais de vida, nossa autonomia, nossa identidade, nossa organização social, nossas ideologias e nossa saúde da mente e do corpo. Tudo que atinja o trabalho, atingirá a qualquer pessoa.

Lutar pelo trabalho é lutar pelo direito de estarmos em pé. O governo Bolsonaro tem feito de tudo para que todos os trabalhadores e trabalhadoras fiquem de joelhos frente ao capital e se submetam a quaisquer caprichos. O mais óbvio indício disso foi o fim do Ministério do Trabalho logo no início de seu mandado. A fiscalização das condições de trabalho e o controle sobre a garantia de direitos ficaram seriamente comprometidas, como qualquer trabalhador pode verificar em seu dia a dia.

Com uma pandemia trucidando a população, não há fiscalização do fornecimento e uso de máscaras, que deveriam figurar na lista de Equipamentos de Proteção Individual para todas as categorias em trabalho presencial, ao menos até o fim dessa tragédia.

Vemos o avanço descontrolado do trabalho precarizado, aquele regido por contratos sem garantias e sem acesso a direitos. Entregadores e motoristas se submetem a ditadura dos aplicativos, que pagam mal e não dão qualquer respaldo: se o trabalhador adoece, ele vai arcar com os dias não trabalhados e não receberá qualquer assistência. Professores e outras categorias também sofrem, com o avanço de contratos para Pessoa Jurídica ou Micro Empreendedor Individual. Todas esssas formas não prevêem aposentadoria, nem afastamento por doença; não pagam direitos como férias ou descanso semanal remunerado.

Coloca-se um falso problema: salvar vidas ou salvar a economia. Não há evidência maior da crueldade do capitalismo e do governo Bolsonaro do que sugerir que as pessoas devam se sacrificar para que o sistema econômico continue em pé. Evidentemente, ninguém corre o risco de ser mais uma vítima do coronavírus por amor ao capital; simplesmente, ou se expõe a isso, ou se morre de fome. Com a tremenda má vontade em se proporcionar um auxílio emergencial decente e amplo, além da completa falta de apoio ao pequeno e médio comerciante, a população brasileira continua a se expôr e se avolumam os mortos, além das milhões de pessoas que viverão com sequelas.

Quem faz parte de um grupo que sofre perseguições, exclusão e retirada de direitos, é atingido com mais força ainda. Mulheres ainda recebem menos que homens exercendo funções iguais e são colocadas em funções subalternas a homens; pessoas negras têm mais dificuldades para concluir os estudos e conseguir inserção profissional, compondo a maioria de nossa população periférica; a população LGBT também tem dificuldades semelhantes. Poderíamos continuar descrevendo como é difícil a vida de cada grupo marginalizado na sociedade brasileira.

Qualquer redução de direitos trabalhistas ou piora das condições de trabalho, atinge com maior força a esses grupos. O problema é os discursos e ações pró-inclusão e anti-discriminação não tocarem na questão essencial do trabalho. Esse caminho é perigoso, pois não toca naquilo que traz melhores condições de vida de forma perene e concreta, além de proporcionar a superação da posição dependência econômica.

Não importa se você faz parte ou não de um grupo minoritário; se você é desempregado, trabalhador informal, celetista, concursado ou autônomo: a luta por trabalho com remuneração suficiente para garantir moradia, alimentação, educação, transporte e acesso à cultura é de todos nós.

Queremos uma sociedade em que o trabalho não sirva mais à riqueza de poucos, enquanto a maioria vive à mercê da fome, do medo e do desamparo. Queremos um mundo em que toda riqueza produzida esteja à disposição de todos que a produzem, de maneira que sejamos realmente livres para exercer a atividade laboral que desejamos e que nos leva ao crescimento individual e coletivo.

O Primeiro de Maio não é dia a ser dedicado a quem não se importa com os trabalhadores e trabalhadoras, que menospreza as mortes pela pandemia e lança toda uma nação ao desespero. É o dia da luta pelo reconhecimento de que nós, trabalhadores e trabalhadoras, merecemos dignidade. Nós, que tudo produzimos, tudo a nós pertence! Basta de mortes, de carestia, de fome, de desemprego e de precarização! Vacina, pão e trabalho para todas e todos!

 

Luiz Bosco Sardinha Machado Júnior

Psicólogo e professor universitário

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