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Da roça aos corredores da Câmara de Ourinhos: um trajeto (im)possível

Da roça aos corredores da Câmara de Ourinhos: um trajeto (im)possível

Guilherme Gonçalves, 29 anos, funcionário público de profissão, todos o conhecem como o homem que expõe a injustiça, que luta diariamente contra a desigualdade. Sua página no facebook tem 986 mil seguidores e se identifica como o defensor dos direitos do povo e ajudante de causas sociais. Mas uma coisa é a máscara que vemos, que querem que vejamos, outra coisa é conhecer verdadeiramente as pessoas. Tentei conhecer um pouco mais profundamente Gui. Logo de início uma situação que me causou alguma celeuma foi o fato de Guilherme não ter usado a página para campanha. Impressionante a pessoa se conseguir eleger, sendo conhecida pelas causas sociais e não embarcar as 986 mil pessoas nessa luta. Como diz o ditado: cada macaco em seu galho.

Guilherme cresceu em Ourinhos e estudou toda a sua vida em escola pública, sempre bom aluno, nos períodos em que não estava estudando ajudava os alunos que tinham dificuldades. Foi coroinha da Igreja (rezava o terço todas as noites). Sua paixão de infância foi o xadrez, conseguiu ir ao campeonato paulista e seguidamente ao brasileiro onde conseguiu ficar entre os melhores sub10 do país (chegou a ganhar uma bolsa em uma escola particular, mas não aceitou porque amava as suas origens de escola pública). As causas sociais, as injustiças já estavam coladas em sua pele, nunca teve uma caixa de 24 lápis de cor, dividia com os amigos mais necessitados. Fez parte do time de futebol chuteirinha de ouro, mas aos 14 anos, fruto de uma visita a um amigo em um sítio, os trabalhadores questionaram a presença de dois moços na roça achando que estavam procurando emprego e falando que não iriam nunca aguentar o trabalho rural, Guilherme resolve mostrar que era capaz. Pediu ao dono da propriedade (odeia escutar que alguém lhe diga que não é capaz) uma vaga. O proprietário entendeu logo que Guilherme teria mais chances e era bem mais capaz de atingir coisas boas na cidade, mas perante tamanha insistência anuiu. Nesse mesmo dia, conversou com os pais que o autorizaram e Guilherme começa a sua jornada. Até na roça Guilherme arrumou uma forma de ajudar as pessoas. Conseguia trazer verduras, legumes para os mais necessitados. E a grande visibilidade de Guilherme surge exatamente neste momento da sua vida. Entre os funcionários, tinha um que tinha retardo mental e num dia no mercado passou a mão na cabeça de uma criança e sorriu. A mãe da criança gritou que o funcionário havia tocado em seu filho, nem vale a pena falar o que aconteceu de seguida. Levaram o homem para a rua e o espancaram, ninguém sabia de seu retardo. Por pouco não foi morto. Este funcionário é o responsável pela página de Guilherme, pelo fato de ter 986 mil seguidores, por ser uma das 30 páginas com maior engajamento no país. Guilherme procurou a família do funcionário e informou que o iria defender, prontamente a família autorizou. Após o vídeo do homem apanhando ter tido a repercussão que teve, Guilherme fez um vídeo contando como ele era de fato, a deficiência que possuía e mostrou a tamanha injustiça e equívoco dos agressores. A defesa de seu amigo o fez criar a página no facebook e de imediato atingir 8 mil seguidores. Aos 18 anos, prestou concurso na Prefeitura de Ourinhos de auxiliar de serviços gerais, deixando a roça e abraçando nova chance na vida. Passa em duas faculdades públicas, sempre estudando, mas nunca esquecendo a sua vertente social. Três anos depois decidiu migrar para a SAE, porque historicamente valorizava os funcionários.

Guilherme sempre se posicionou em toda a sua curta e cheia existência, nunca gostou de sistemas, de arranjos, de facilitações ou qualquer tratamento diferenciado ao amigo do rei (como ele se refere ao prefeito), e, por isso, aquando da entrada na SAE, não estranhou a ninguém que os funcionários o respeitassem, compreendessem sua representatividade (quiçá fruto da raíz roceira) levando o superintendente a oferecer-lhe ajuda (prontamente declinada para não ser diferenciado dos outros).

Na SAE trabalhou como escavador, como diretor, coletor, encanador, em todas as funções, quando criava vínculos o trocavam de função. No meio do percurso, Lucas Pocay o convida para se filiar ao MDB. Guilherme pergunta se o partido é subserviente. Perante a resposta positiva, Guilherme declina o convite porque não disputa em partidos subservientes, aí começa a rivalidade entre Lucas Pocay e Guilherme Gonçalves. Foi procurado por representantes do governo para se associar, mas sempre teve a intenção de ser livre e recusou mais uma vez os convites. Em conversa com o pai, tentaram montar seu próprio partido e então começaram a correr atrás de candidatos independentes. Sempre que avançavam um pouco Lucas Pocay tirava esses candidatos de suas pretensões. Foi aí que criaram a chapa do “Podemos”, mas até nisso foi uma luta porque Lucas Pocay tentou um último golpe conversando com os líderes nacionais, já que Lucas Pocay sempre usou a Prefeitura para benefício pessoal. Ao final de muita luta conseguiu ser candidato e conseguiu ser eleito com 1.151 votos (quando acharam que iria ter 600 votos fruto do uso da página do facebook, coisa que Guilherme nem usou como máquina para se eleger e conseguindo ser eleito na raça).

Antes da eleição, Guilherme passou no concurso de Guarda Municipal da Prefeitura de Ourinhos, mas foi eliminado com a alegação de suposta disfunção na atm, quando entende que foi claramente por questões políticas. Quando assim é o baque é muito maior. Mas o passar em tal concurso permitiu-lhe ganhar o respeito moral dos comandantes da prefeitura, já que boa parte dos cargos havia tentado e falhado. Após tomar posse informou que sempre iria estar do lado do povo em todas as pautas levadas em sessão, esquecendo ou ignorando acordos que o pudessem deixar bem financeiramente, mas sempre cumprindo a promessa eleitoral que o levou a se sentar naquela cadeira.

Em 7 meses já foi encaminhado ao Conselho de Ética, já teve diversos boletins de ocorrência, pela questão da UPA, pela Polícia Militar, que alinhados à atual gestão procuram desesperadamente e desenfreadamente cassar seu mandato.

A nível de pretensão política Guilherme sempre tentou fazer o melhor onde estava. Não descarta nenhuma possibilidade, deixa nas mãos de Deus. Quanto a políticos de inspiração de Guilherme o mesmo me afirmou que se revê e tenta muito se equiparar a Cleitinho Azevedo, de Divinópolis, já que o mesmo sempre defendeu o povo, que abraça as causas do povo.

Guilherme sempre viveu intensamente cada local, cada causa que abraça, o único arrependimento é o não ter passado mais tempo com seus filhos.

Política serve para combater injustiças, serve para fazer diferente de outros políticos, e religião ele segue o principal mandamento “amai-vos uns aos outros como eu vos amei.”

O intuito desta vossa crônica foi a de dar-vos a conhecer quem muitas vezes é esquecido na luta pelos nossos direitos no município, tentei trazer-vos uma conversa amena entre duas pessoas e para a semana irei conversar com Roberta Stopa do coletivo Enfrente!. Mas o principal objetivo é mostrar um pouco mais dos seres humanos que são colocados de parte porque o que nos lembramos sempre é do ser político.

Deixo-vos com uma frase de Florbela Espanca: “A vida é sempre a mesma para todos: rede de ilusões e desenganos. O quadro é único, a moldura é que é diferente.”.

Pedro Saldida

 

Imagem da capa: Facebook Guilherme Gonçalves

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