Índia, Casa Civil e Iaras, MST (mundo sem transtornos)
Em finais de janeiro, princípios de fevereiro, a Índia registrava um pouco menos que 10.000 casos novos e cerca de 100 óbitos diários de Covid-19. Em março, o ministro da saúde declarava que o país estava na fase final da pandemia. Nessa altura permitiu festivais religiosos e comícios políticos. Escusado será dizer que hoje a Índia tem cerca de 300 mil infetados no espaço de 24 horas e mais de 2.000 mortes diárias. Caminha a passos largos para tirar o lugar ao Brasil e ser o novo epicentro da pandemia.
O primeiro-ministro se recusa a adotar o lockdown e joga nas costas da população o enfrentamento da crise. O sistema de saúde colapsa.
Vemos uma ligação siamesa com o Brasil. Dois governos negacionistas e com o mesmo modus operandi. Quem paga a conta somos todos nós. Estados Indianos estão adotando medidas de isolamento, de restrição por conta própria, já que até à data os indianos participam de eventos políticos, de casamentos e eventos esportivos, consequência disso têm hospitais lotados, suprimento de oxigênio diminuindo e registro de pessoas que morrem na fila esperando por atendimento.
O que mais me entristece é ver o Brasil ser colado a países como a Índia, a Venezuela. Atingimos o fundo do poço e só não vê isso quem não quer. Não termos Censo, a liberdade de imprensa estar em alerta vermelho, mostra que viramos uma Venezuela e não por culpa do PT.
Falando em culpa, que belo documento a Casa Civil enviou aos 13 ministérios. Os 23 crimes enunciados ultrapassam os 18 crimes apresentados à CPI da Covid-19. O general Ramos entregou munições que poderão ser utilizadas na CPI da Covid-19. Ao pedir aos 13 ministérios documentos físicos relacionados aos temas apresentados pela Casa Civil como prova de defesa, acredito que deu argumentos à CPI. Desde a negligência na compra de vacinas, na promoção de tratamento precoce sem comprovação científica, passando pela militarização do ministério da saúde, genocídio de indígenas, fabricação e disseminação de fake news sobre a pandemia por intermédio do gabinete do ódio.
Sabendo que os militares estão bastante desagradados com Bolsonaro e Pazuello podemos ver como uma vingança servida de bandeja à oposição. Sempre falei que Bolsonaro e seu governo não precisam de oposição, eles próprios fazem o trabalho que deveria ser realizado pela oposição. Ainda lembro em campanha quando Bolsonaro falava que ia escolher ministros técnicos. Nem um se aproveita, Guedes acabou de mostrar que nem para contador de uma associação serve. Um orçamento feito e aprovado que claramente levará o país a se mover no fio da navalha. Atrocidades umas atrás das outras que não nos permitem ter um minuto de descanso, um minuto de paz e pensar como foi que chegamos tão perto da igualdade de um país como a Venezuela e não num governo PT, como muitos queriam falsamente acusar Lula e Dilma e agora têm que engolir as palavras que proferiram. Inadmissível, inconcebível.
Inconcebível é ver que em Ourinhos a Prefeitura fez uma campanha comparativa das mortes por Covid-19 com munícipios do mesmo porte ou maior. Achei que era brincadeira ou então entendi tudo errado. Como em plena pandemia se pode comparar mortes em cidades? No Brasil, temos 391 mil mortes e em Ourinhos 244 óbitos. Passa a ideia que é irrelevante terem falecido 244 pessoas na nossa cidade, o que importa é a nossa taxa é de 2,2% comparada com outras cidades do mesmo porte ou maior. Acredito que eu esteja mais sensível, mas encarei como uma péssima forma de comunicação da nossa Prefeitura. Os 244 óbitos cada um deles tem um nome, tem uma família, um amigo. E ainda vem falar que age com transparência e responsabilidade e que dialoga com todos os setores desde o início da pandemia. Só no que lhe interessa porque pergunto se já está colocando em prática a lei 6.635.
Esperemos que os casos diminuam, tanto de infetados como de óbitos. Andamos fingindo que cumpríamos os decretos do Governo de São Paulo e os números mostram claramente que a gestão errou forte e feio. Não basta acusar a população, não basta passar a bola para o povo, há que mostrar firmeza, mostrar pulso forte e proteger a população e não outros interesses maiores. Exemplo disso volto a frisar é a crise na UPA, o tempo mostrará quem tinha razão, quem agiu defendendo a população e quem agiu defendendo outros interesses.
Falando em interesses, não posso deixar de falar sobre os MST de Iaras. As pessoas possuem menos recursos, mas estão munidas de uma imensa consciência política, MST mostra claramente que a política é quem estraga a relação do campo com a cidade, aliás acredito que o ministro do meio ambiente, Salles, deveria fazer uma visita aos MST de Iaras. Aprenderia que se pode praticar agricultura, criação de gado sem destruir, sem queimar qualquer pedaço de terra. Triste é a forma como a sociedade olha para o MST, como se fossem criminosos, formadores de quadrilhas, quando o que pretendem é somente uma reforma agrária. Estamos falando de um movimento social e as pessoas associam a atividade criminosa. A estrutura agrária brasileira é baseada no latifúndio.
A região dos MST de Iaras remonta a 1908, fruto de um esforço do governo para dar guarida aos imigrantes europeus.
Há muitos anos que notamos ausência de políticas públicas para os assentados. O Incra deveria regulamentar o quanto antes mais e mais terras e de uma forma menos burocrática, aliás os assentados estão mostrando que produzem mais que os políticos do nosso país. O que mais podemos notar é o espírito de ajuda entre todos, é o desejo de todos crescerem juntos, coisa que não somos capazes de ver numa cidade em que é cada um por si e quanto mais prejudicarmos melhor.
O que raia mais nos assentados é serem capazes no dia a dia de erguer a cabeça, de serem orgulhosos e mostrar que são capazes, que têm competência, basta deixá-los laborar e não persegui-los.
Como sempre, deixo-vos com uma frase, desta vez de Paulo Coelho: ” Quem tentar possuir uma flor, verá sua beleza murchando. Mas quem apenas olhar uma flor num campo, permanecerá para sempre com ela. Você nunca será minha e por isso terei você para sempre.”.
Pedro Saldida