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Ratatouille Luso- Brasileiro

Ratatouille Luso- Brasileiro

Hoje dedicamos a nossa atenção à gastronomia de Portugal e Brasil. Noto a imensa aculturação provinda dos Estados Unidos e muito pouco de Portugal, pelo menos no Estado de São Paulo.

Desde que cheguei no Brasil, a saudade da gastronomia de Portugal é imensa, sorte que a Eryka com uma costela italiana(avó) e outra portuguesa (avô) consegue preencher essa lacuna (mais uma) da minha singela existência. Sempre que sinto saudade da comida do meu país, passo a receita e mesmo que ela nunca tenha feito, fica extraordinário, exemplo disso é o Bacalhau Espiritual feito no forno que até o cunhado, o Lão, esconde para comer sozinho (até a baba de camelo que eu faço, um doce bom para quem não frequenta academia já que é extremamente calórico, leva somente leite condensado, ovos e bolachas ou amêndoas, ele faz o favor de esconder e não deixar ninguém comer, nunca vi igual). Lembrando que a Eryka participou de um concurso aqui em Ourinhos, o Festa na Mesa, com o prato Bacalhau Espiritual, sendo um dos pratos em destaque e qual não foi a nossa surpresa quando ligaram para ela do Masterchef a convidá-la para participar do programa. Como só pagavam a estadia acabou por declinar o convite. As contas mensais falaram mais alto e eu não trabalhava.

Quando falamos de comida típica do Estado de São Paulo, falamos necessariamente de pizzas, do pão com mortadela, da coxinha, do pastel de feira, mas podemos encontrar pratos bons que muitas vezes o paulistano se esquece, tirando o feijão e arroz. Temos o famoso picadinho de carne, o cuscuz à paulista ou o famoso virado à paulista. Agora nunca vi ser humano como o brasileiro para fazer um churrasco. Qualquer pretexto é válido para fazer um churrasco. Quando aqui cheguei o que mais me causava impressão, já que era um pouco contrário aos meus costumes, era o fato do brasileiro começar a beber logo pelas 09h00 da manhã no churrasco. Não conseguia entender, não entrava no meu cérebro como era possível. Hoje posso entender. Quando faço um churrasco, gosto muito de fazer a costelinha no mel em alumínio e, claro, o calor das brasas aliado ao calor da natureza me levam a começar a beber às 09h00 da manhã, é pela boca morre o peixe.

O meu país é referência mundial na gastronomia. Tantos pratos tão bons que só de lembrar a saliva escorre pelo canto da boca.

Posso enumerar alguns, que muitos não conhecem, mas acredito que iriam gostar. Comparando com os lanches e pratos rápidos do Brasil temos a famosa bifana, em pão francês, como falamos aqui no Brasil, e leva bifes de porco temperadas com vinho, limão em suco, louro, colorau, alho e depois de colocada no pão tempera com mostarda.

Temos também o queijo da Serra, cremoso e feito com leite de ovelha, pode servir de entrada, o tradicional pastel de bacalhau (ou bolinho como chamam cá), o bacalhau à lagareiro, assado em postas e servido com batatas, cebola e alho e regado com muito azeite, ingrediente que não pode faltar numa boa mesa portuguesa. Um ensinamento para vocês brasileiros, quando comprarem azeite comprem com acidez igual ou menor que 0,5%, não sendo o único fator de escolha, acaba por ser um dos mais importantes. Outro prato típico de Portugal é a famosa Alheira, uma linguiça sem carne de porco, com muito alho. Não sou apreciador, mas tem imensa aceitação. A Francesinha, outro prato típico do norte do País, mais precisamente no Porto, recheada com vários tipos de carne, como linguiça, bife bovino, salsicha, coberto com queijo e ovo. O segredo está no molho quente e apimentado, jogado em cima que derrete o queijo. Em algumas pessoas provoca azia ou queimação. Não podemos deixar de fora o famoso pastel de nata, vocês chamam pastel de Belém erradamente, de Belém só os de Belém, região de Lisboa, mas compreendo já que os de Belém atingiram um status incomparável. Da cidade da minha mãe, não posso deixar de fora os ovos moles, gente eu comia sozinho duas caixas, feitos somente com a gema do ovo e cobertos por uma espécie de suspiro, é um ícone da nossa gastronomia.

Agora chegamos na parte que muitos vão detestar, mas que são manjares dos deuses para quem gosta e aprecia. Enquanto vocês são loucos por churrasco, muitos de nós portugueses somos loucos por petiscos. Adoramos uma boa tasca, com muita cerveja ou vinho à pressão, o verde então nem vos falo. Quando nos juntamos numa tasca é igual a vocês num churrasco. Muitos já não podem dirigir de volta para suas casas (os nossos petiscos dos Craques da Bola, nosso time de Futsal do Banco é exemplo dessa tormenta). Temos o famoso pica pau, uma combinação de porco e picles, o prego no pão, bife de vaca, e cujo segredo se encontra no tempero (mais uma vez o tempero, nós somos bons nos temperos), mostarda, caldo de carne, cerveja, alho. Lembro do sabor dos pipis (Brasileiros não sejam maldosos) que é uma mistura tenra de todas as coisinhas boas da galinha. As moelas estufadas, uma versão reduzida dos pipis. As pataniscas de bacalhau, as gambas fritas com alho, a salada fria de polvo (com um vinho branco à pressão ou, até mesmo, cerveja uma maravilha). Não esquecendo da orelheira, da morcela de arroz assada, das sardinhas pequeninas, da santola recheada (ou sapateira, que depois de cozida em água, sal e folhas de louro, a carne é retirada da carcaça e desfiada, temperada com pimenta, vinho do porto ou cerveja, mostarda, maionese, e ketchup, onde se inclui também picles, ovo cozido e salsicha e servida com tostas). Lembro também dos Perceves, uma espécie de crustáceo que vive e cresce entre as rochas e o mar.

Passando agora para os pratos típicos, são tantos que espero não me esquecer dos mais importantes. Começamos com o bacalhau, temos mais de 300 versões (bolinho de bacalhau, pataniscas, punhetas de bacalhau-salada, a nossa versão portuguesa do vosso ceviche, consumidas com pão e azeitonas, à bras, em que o bacalhau é desfiado e leva batatas e ovos tudo misturado e temperado) e qual delas a melhor. O famoso Cozido à Portuguesa com carne, couve e vegetais cozidos. Que falar então do Caldo Verde, que nos aquece no inverno (sim, porque as estações em Portugal são bem rigorosas, contrariamente ao Brasil), ou do arroz de pato. Um prato muito debatido é o arroz de cabidela, feito com o sangue fresco da galinha caipira. Não podemos esquecer das festas populares com a famosa sardinha assada que se encontra incutida na nossa cultura.

Não pretendia de modo algum deixar-vos com água na boca, mas somente mostrar mais uma das grandes diferenças dos nossos países. Quem passa mal com a coluna sou eu mesmo, a saudade bate imensamente.

De modo algum a minha coluna pretenda qualificar a melhor gastronomia, somente uma mostra das diferenças, mas como bom português que sou posso afirmar, a meu ver, nem preciso escrever, vocês sabem a minha opinião.

Lembrando agora de uma história engraçada que me marcou negativamente com a Eryka. Como português, aprecio mais vinho que cerveja e sou extremamente possessivo com as iguarias do meu país. Quando vamos no Pão de Açúcar discutimos. A Eryka quer que eu prove vinho chileno, que também é bom, diga-se de passagem, mas eu quero sempre vinho português. Nós temos o costume de tomar vinho em temperatura ambiente, muitas vezes, no inverno, pedimos para aquecerem ligeiramente o vinho, ou colocamos junto da lareira por forma a que ele fique um pouco mais quente que o frio que se faz sentir no inverno. Um dia abro a porta do frigorífico, já sabem que é geladeira, e qual não é o meu espanto e me deparo com uma garrafa de vinho tinto. Xinguei, briguei, fiquei bravo. Vinho no frigorífico somente branco ou verde, tinto nunca. A Eryka explicou-me que o calor é imenso. Lá está em Roma sê Romano, mas para mim não dá não, nem consegui sentir o sabor do vinho. Imagino quem está sem paladar fruto dessa pandemia avassaladora.

Esta semana ficamos sabendo que, mesmo com a Anvisa, entidade idónea e prestigiada, afirmando que medicamentos para vermes não são eficazes contra a covid, a empresa responsável pelo fabrico do mesmo medicamento dando cobertura a Anvisa, e mesmo numa sociedade capitalista, em que o lucro é mais importante que o ser humano, tiveram a hombridade de negar a eficácia do medicamento, uma subida brutal nas vendas dele. Tudo porque temos um governo negacionista e desumano. Eu, tal como muitos brasileiros que se deslocam aos médicos, os mesmos falam em protocolo de prevenção e tratamento precoce do Ministério da Saúde. A pessoa se desloca a um posto de saúde, ou ao Upa, e o médico, mesmo que seja uma crise de asma, com um raio x com bom resultado, manda fazer o teste, coisa que não fazem no UPA, e prepara a receita do tratamento precoce. Ninguém fala nada neste país, ninguém faz nada quanto a isto. Um país liderado por pessoas que nada têm a ver com medicina ou ciência recomendando medicamentos, nem na República das Bananas. Onde está o Conselho Nacional de Saúde numa hora destas. Os médicos estão seguindo o protocolo de saúde, sem qualquer fundamentação médica, sem qualquer embaso científico. Eu não fui comprar, me recuso a tomar, aguardo serenamente a minha vez para tomar a vacina (se calhar é melhor marcar uma viagem para Cuba, aqueles esquerdistas, aqueles comunistas), por forma a voltar à nossa rotina de vida.

Como o meu colega de bancada nas colunas do Jornal Contratempo, Dr Alexandre Padilha, formado em Medicina e Ex Ministro da Saúde, implementador do excelente programa Mais Médicos, escreveu: ” Mas, é claro, vivendo no país governado por Jair Bolsonaro, as notícias ruins e assustadoras, infelizmente, são diárias.”. Melhor definição dos tempos sombrios que vivemos, surrealista demais, parece um daqueles dramas Hollywoodianos que achamos que nunca irá sobreviver e passar do guião.

O Brasil tem o maior sistema de vacinação do Mundo, com um posto de saúde em cada bairro, nem a Europa consegue tal façanha. E nós vivendo este tormento fruto da falta de consideração, de empatia, de solidariedade e logística de um governo que vive no obscurantismo.

Deixo-vos com um link de imagens e um Fado (música tradicional e patrimônio imaterial da humanidade, declarado pela Unesco) do meu país, mas não se apaixonem por favor, visitar e residir são coisas totalmente distintas. Lembro de ter feito um roteiro para a minha grande amiga Rose, que trabalha na Caixa, quando ela foi visitar Portugal. Digo muitas vezes que o meu país deve ser visitado sem guias turísticos, porque a sua beleza está nos mais recônditos lugares.

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Pedro Saldida

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