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“Proceder pra vencer pra crescer prevalecer”

“Proceder pra vencer pra crescer prevalecer”

Imediatamente antes da frase que dá nome a este texto, o falecido rapper Sabotage, em sua música “Mun-Rá”, diz: “a lei das ruas, é rude faz você aprender” (Sic). Bem provável que daí venha o tipo de mensagem, que a frase que consta na foto a seguir, pixada (escrita assim mesmo, como os pixadores se referem a ela) pelas ruas de Ourinhos, na Vila Odilon, busca passar.

Acervo de Patricia de Oliveira

Esta mensagem pode ser encarada como um alerta sobre o ocorrido no assassinato de um jovem, com um tiro no pescoço, por um policial militar. Mas, mais do que isso, demonstra a sociedade brasileira em sua forma visceral: desigual, dividida até o osso. Muito se veicula sobre esse acontecimento no persistente jornalismo sensacionalista do qual a imprecisão dos limites é muito bem retratada no filme “O abutre” de Dan Gilroy – no momento em que o desempregado, que se torna jornalista free lancer, passa a aditivar e manipular as cenas noticiadas.

Verifica-se que provavelmente uma nova forma desse jornalismo vem se materializando, em textos como os do Blog do jornalista Kenedy Alencar. Claro que com outra conotação, mas com aquele protagonismo dissimulado do jornalista a serviço de seus patrões. Com textos pseudo isentos e com críticas desequilibradas que sempre pendem favoravelmente a balança para o lado da plutocracia. Sem nos aprofundarmos em uma analise exaustiva podemos observar o texto “Fracasso na economia dificulta retorno de Dilma” que enfatiza o que ele chama de erros da presidente eleita e o texto “Acordo com governadores ajuda Temer a consolidar poder” em que ameniza as intenções espúrias do vice em exercício. Muito diferente das contundentes críticas do Luis Nassif a ambos.

A crítica, talvez, acertada, mas transmitida de forma desproporcional no texto “Custo Brasil’ precisa de menos barulho e mais equilíbrio”, de que a presidente Dilma passa a impressão de que seria mais importante lutar pela fotografia histórica do que pela volta ao cargo, demonstra algo sobre o que as ruas têm muito a dizer. Sobre o que a sociedade brasileira tem muito a dizer. A sua profunda divisão proporcionada pela sua desigualdade encontra-se assentada sobre uma maioria que mais se identifica com as rudes leis das ruas do que com as negociações tangidas sobre chãos de carpetes – para citar Guilherme Boulos. O que não quer dizer que os efeitos dessas negociações realizadas nos bastidores das mais altas classes, sobre as ruas, nos menos afortunados economicamente,  seja menos catastrófica.

Embora existam em maior quantidade, estes brasileiros menos afortunados economicamente, tem pela frente diversos obstáculos provenientes de suas condições econômicas e político culturais (não no sentido de cultura valor, e sim de cultura como hábitos e costumes) que dificultam a elaboração de uma voz unívoca, que não esta descartada no horizonte.

Temos a exemplo disso a existência atual de uma espécie de Quentin Tarantino do rap brasileiro, o Edgar, um rapper de Guarulhos-SP que ao ouvirmos seus dois CDs (sem contar as demais manifestações artísticas elaboradas e compostas pelo brilhante brasileiro) nos embocamos por um túnel espaço-temporal que nos leva a afirmações: “Agora é o DMN, agora é o Sabotage, Ah! Agora é Black Alien! Mas esse ritmo é tango?! Jazz, etc.” Enfim diversas referencias que sem duvida possuem poucos consensos, mas um de destaque: a qualidade.

Qualidade esta, que está muito alem das características musicais, mas se expressam nas poesias que aparecem entre faixas do cd Paralelo 22s e em letras como a de “Mal necessário” – que diga-se de passagem ultrapassam a crítica apenas ao Brasil. Apêndices da sociedade brasileira, formada por leis rudes das ruas, negociações espúrias do carpete (e não menos rudes àqueles que estão fora, nas ruas) e sem duvida por desigualdades que a  dividem até o osso.

Porem, as recentes ofertas de espaço político para militares que não assimilaram os verdadeiros responsáveis pela fama antidemocrática dos mesmos, e a duríssima nota do MEC contra as ocupações – obras desse governo interino e ilegítimo – não darão conta de calar a voz rouca das ruas. Continuamos nosso proceder, em busca da vitória, em que poderão prevalecer os interesses dos desafortunados que vencerão esta sociedade doente.

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