Emoção e reflexão nos dias com suspeita de Covid-19
Juliana Neves
Quinta-feira, 25 de março, era para ser mais um dia comum em minha vida, um dia normal de trabalho, estudos e prática de atividade física e, claro, tudo realizado em casa em modo home office. Mas não foi. Eu acordei por volta das 10h30, não tomei café da manhã e em questão de alguns minutos comecei a sentir um incomodo no meu corpo, aquela sensação ruim gripal de corpo e muito sono. Me mantive em silêncio e fui para a casa da minha avó, moro ao fundo da casa dela com meus pais, pois sabia que minha mãe estaria lá com ela preparando o almoço.
Fiquei todo esse tempo na casa de minha avó, me sentindo muito mal, desejando ficar deitada o tempo todo, tentando dormir e não conseguia. Tinha a percepção que estaria demonstrando uma expressão facial de estar triste, talvez, um semblante nada comum para a família que convive comigo todos os dias, porém não queria comunicar a ninguém o que estava sentindo. E como toda mãe, minha mãe já havia percebido que algo estava errado, entretanto esperou para ver o que eu poderia fazer.
Finalmente o almoçou ficou pronto e eu pensei: quem sabe se alimentando melhora, até porque estou com fome. A fome passou, a sensação ruim de corpo continuou e a sensação de febre começou. Comecei a me sentir muito quente, como se estivesse pegando fogo mesmo, principalmente olhos bem fervorosos.
Bom, almocei e vim para a minha casa, direto para a cama e resolvi assumir para mim mesma e meus pais que eu não estava bem. Enviei uma mensagem para a minha mãe que estava precisando ficar deitada porque estava de corpo ruim e sentindo que poderia estar desenvolvendo uma febre, mesmo o termômetro demonstrando no máximo a temperatura de 36,8, porque eu estava, realmente, muito quente. Por fim, a decisão foi unânime entre meus pais: fomos para o hospital, a Unimed.
No hospital, fui direto para a recepção de sintomas gripais e naquele momento se iniciava uma cena de filme. A recepcionista preencheu uma ficha com meus dados e sintomas descritos e me indicou qual seria o caminho para a consulta médica desta forma: “Juliana, vire à esquerda e vá reto, aconselho que você não leve acompanhante porque a área está extremamente contaminada pelo coronavírus. Por isso, que Deus te proteja”. Já fiquei em choque, pois estava com sintoma gripal podendo ser covid-19 e se não fosse eu poderia me infectar a qualquer momento. Pois bem, segui o caminho e imaginei meus pais me vendo se afastando para a consulta em um caminho longo, como se houvesse a possibilidade de nem voltar mais. Uma baita cena de filme.
Na espera pelo atendimento, a enfermeira, no momento de uma pequena triagem, tratou minhas falas de meus sintomas com desdém, como se eu não soubesse identificar quando eu sentia meu corpo quente de calor e de desenvoltura da febre, até fiquei sem graça, sem saber o que falar e como olhar para o seu rosto. Passou. Ao esperar mais um pouco pelo atendimento, começo a observar que eu estava sentido o cheiro da comida sendo preparada no hospital, era um bom sinal, e preocupada, ao mesmo tempo, se eu estaria sendo infectada. Foram pensamentos malucos, uma realidade que muitas pessoas deveriam sentir e passar para compreender de uma vez por todas a gravidade da doença. E para completar, ainda sai uma senhora da consulta médica ligada em um cilindro de oxigênio. Oh céus, que mundo louco estamos vivendo!.
Fui atendida pelo médico, outra situação horrível de desdém. O médico nem permitia que eu falasse por completo minhas frases e me informou que seria muito cedo para afirmar o que eu estava tendo, realizando somente um exame manual em minhas costas e prescrevendo o remédio Tylenol, caso tivesse dor no corpo, e isolamento por três dias em meu quarto. Saímos do hospital indignados e fomos até a farmácia para realização de exame do covid-19.
No caminho, minha mãe ligou para um médico de confiança da família que já indicou para iniciar a ingestão de Azitromicina e Dexametasona para conter os sintomas. Na farmácia, fiz o exame de saliva que é indicado para o primeiro dia de sintomas com resultado em 20 minutos, e o resultado foi negativo. Apesar de ter sido negativada, fui orientada pela farmacêutica para ficar isolada no meu quarto durante três dias e me observar, e se fosse preciso voltaria no sábado para repetir o exame.
Em casa, tomei banho e iniciei o isolamento mais a ingestão dos medicamentos, e senti mais uma sensação de febre tomada por um calorão intenso logo em seguida, como se tivesse tido um pico forte de febre e passou ao mesmo tempo. Depois, não senti mais nada, dormi muito bem e amanheci me sentindo ótima na sexta-feira. Sendo assim, não tenho o que falar da sexta, trabalhei e fiz minhas atividades normais em meu quarto.
Medicada, no sábado amanheci mais uma vez me sentindo ótima, sem sensação ruim de corpo, sem sinal de dor de garganta, sem sinal de nada. Aproveitei para organizar estudos e tirar horas para lazer, como assistir um filme. A noite chegou e um incômodo nas costas apareceu, uma dor que surgia próxima a região da lombar e subia irradiando, um pouco, para os braços. Aquilo me fez ficar pensativa, porque não havia treinado mais e nem parecia dor de treino, e mais uma vez eu fiquei calada, não contei para ninguém. Dormi e acordei no domingo sem dor nas costas, mas com dor de cabeça e tomei o remédio para melhorar. Melhorou e a dor nas costas voltou aparecer em alguns momentos do dia.
Após o almoço me abri aos meus pais e avó e disse que estava decidida fazer o exame do covid-19 mais uma vez, agora seria o famoso do cotonete no nariz. Jesus! Liguei na farmácia e marquei o exame, quis realizar com a farmacêutica que fez o meu de saliva, porque seu profissionalismo me conquistou transmitindo segurança e confiança em seu trabalho e na realização do exame em si.
Mais uma vez eu estava na farmácia e estava tensa, um exame muito invasivo e rápido que provocou a sensação de ardência nas narinas quando ingerimos água pelo nariz durante o banho por acaso, mas triplica esta sensação para ter a certeza do que eu senti durante a coleta do material no cotonete. Exame feito e resultado rápido em menos de 20 minutos e, sim, foi negativo. Um alívio! A dor nas costas pode ter sido de tensão em avaliar se estaria com covid-19 ou não e por tudo que passei nestes dias. Por fim, era somente uma inflamação de garganta que valeu a pena tudo o que eu fiz para descartar a possibilidade de coronavírus.
Fim de domingo, senti que relaxei e tirei um cochilo no fim de tarde para início da noite, estava tranquila e tomei um banho para continuar a noite.
Antes de dormir eu rezo, faço minhas orações, e neste momento foi de reflexão no sentido que se eu tivesse pegado covid-19 foi por uma ida à médico, mercado ou farmácia, porque há um ano que eu não saio mais para festar, aproveitar a noite, ver amigos e estar em boas companhias, minha vida é home office para tudo, praticamente. E a lição que eu tirei disso tudo, sendo suspeita da doença, é o quanto precisamos valorizar as nossas vidas, valorizar cada minuto e segundo de tudo que fazemos em nosso cotidiano, seja uma atividade simples ou complexa, seja o que for. Eu finalizei o final de semana e iniciei a semana agradecendo a vida, sendo grata a Deus por estar viva e estar disposta em viver mais. Não via a hora de começar a rotina do dia a dia na segunda-feira para me sentir viva, plena e útil.
Diante do cenário e das situações que passei, já me solidarizava com as notícias sobre a pandemia, mas a cada notícia de caso ou morte de pessoas pela doença, agora, dói mais no meu coração, consigo ter uma percepção/imaginação do que é a possibilidade de estar com a doença, por isso peço pela amenização da pandemia para Deus e que Ele cuide de todos nós o tempo todo, que vidas sejam salvas e que as pessoas acreditem mais na ciência proporcionada por Ele para nos manter vivos.
Meu último recado: se cuidem, fique em casa quem pode, quem não pode siga à risca os protocolos de prevenção, use máscara e álcool em gel, lave as mãos e não neguem a ciência. Vacina Sim!