Após coragem da jovem vítima em denunciar, abusador sexual é preso
Com a exposição do fato da jovem gestante, outras mulheres resolveram denunciar e o abusador foi preso em flagrante
Juliana Neves
No último domingo, 25, uma jovem de 21 anos utilizou da mídia social Facebook para expor o abuso sexual que sofreu por um rapaz que trabalha como entregador de alimentos, em Ourinhos. De modo mais específico, o fato ocorreu na Rua Ataliba Leonel, Vila Moraes, entre 22h20 e 22h30.
A vítima que é gestante de seis meses, terá a sua identidade preservada, relatou em um grupo de classificados do município que estava voltando para a sua casa, no período noturno, de motocicleta quando percebeu outro motociclista lhe perseguindo com a distância de dois quarteirões.
A jovem acelerou, mas o abusador conseguiu alcançar e, imediatamente, passou suas mãos nas partes íntimas da garota, mamas e genitália, quase a derrubou, e saiu em disparada na contramão. Com isso, foi possível identificar que o rapaz trabalha para um dos aplicativos de delivery mais famoso do país.
Inclusive, a grávida contou que soube de outro relato de abuso sexual praticado pelo mesmo rapaz. Desta forma, surgiu na mídia social a imagem da publicação escrita deste fato, em que a outra vítima conta que o abusador apertou suas mamas e deu um tapa em outra mulher, e conseguiu anotar o número da placa do veículo.
E na noite de segunda-feira, 26, a Polícia Civil realizou a prisão deste motociclista, identificado ser uma pessoa de 42 anos, que utilizava uma moto preta, é mecânico, casado, pai de duas filhas e à noite “faz bico” como entregador, desculpa para poder colocar em prática a ação de abuso sexual. Por fim, a delegacia recebeu oito denúncias de mulheres contra o abusador, uma das razões que ajudou na busca pelo indivíduo, bem como as imagens das câmeras instaladas pelas ruas do município.
Os trâmites desta ação foram realizados na Delegacia de Defesa da Mulher de Ourinhos (DDM) e o abusador foi encontrado na lanchonete em que ele, supostamente, presta serviços e recebeu ordem de prisão em flagrante. Ele já possui passagem pela prisão por diversos crimes e cumprirá sentença por estupro. Pois, de acordo com a Legislação Brasileira, o estupro vai além da penetração proporcionando situação constrangedora para satisfação do prazer sem consentimento do outro.
Em contato com a jovem vítima, que não hesitou em procurar pela proteção da delegacia, ela nos relata que no momento do abuso sexual “me senti e me sinto violada, horrorizada e traumatizada. Totalmente abalada psicologicamente. E na delegacia, foi uma abordagem séria, com delegados, investigadores, entre outros que estavam presentes, com reconhecimento do possível autor e apurando todos os casos e registros das vítimas violadas. A partir disso, ele foi preso, conforme os relatos das vítimas e reconhecimento de imagem, roupas, moto, capacete e caixa de entrega. Espero que ele cumpra a prisão e pague por todo mal causado em diversas mulheres que foram assediadas de alguma forma”.
A atitude de não ter medo de denunciar o abusador é sempre vista com bons olhos e é a única solução para a diminuição de abuso sexual. “É sempre ético reportar casos de abuso sexual, e esse fato ocorrido foi uma dessas formas. A denúncia encoraja outras vítimas a fazerem o mesmo, e aumenta suas formas de sentir amparada. Da mesma forma que uma pessoa abusada sexualmente e que não é identificada e não é tratada está sujeita a abusos subjacentes e sequelas biopsicossociais”, fala a psicóloga e especialista em terapia familiar e de casal, Mayara Labs.
Abuso Sexual
Abuso sexual são atos de violência sexual sem o consentimento do outro. Podendo ser realizado em diferentes formas, como exploração sexual, assédio sexual, estupro, aliciamento, carícias indesejadas, sexo oral forçado, entre outros. De acordo com dados do Ministério da Saúde, a estatística é de 70% dos casos denunciados de abuso sexual são relacionados com estupro em crianças e adolescentes.
Na visão da psicologia, “o abuso sexual é um problema considerado de saúde pública pelo seu nível biopsicossocial. É visto como uma das formas mais graves de maus tratos, e, infelizmente, acontece com grande frequência, causa grandes prejuízos para as vítimas e acontece de forma repetida, causando muitas vezes mais marcas psicológicas do que físicas. É um tema que para a psicologia deve ser tratado numa perspectiva multidisciplinar, pois acontece em todas as classes sociais, e, geralmente, os agressores são pessoas que não apresentam suspeita, diferente do que imaginamos que são pessoas com grande desequilíbrio mental ou marginal. Além disso, pesquisas mostram que 80% dos agressores são conhecidos da vítima, muitas vezes da mesma família”, explica a psicóloga.
Desta forma, não existe problema psicológico específico que identifique tais atitudes por parte dos abusadores sexuais. Está envolto todo um contexto histórico, de relações e sociedade. Entretanto, de modo geral, a psicologia entende que os abusadores, sejam homens ou mulheres, segundo Mayara, não aprenderam a respeitar mensagens de si mesmo ou do outro, como “não quero”, “não aguento mais”, “parou por aqui”.
Lembrando que, normalmente, o abusador é conhecido da vítima e utiliza de estratégias para ter a característica de ser uma pessoa de confiança, para conseguir ter poder de controle sobre a pessoa abusada. “Por esse motivo de confiança entre abusador x vítima, o agressor acaba convencendo o outro a participar desses tipos de atos por meio de persuasão, recompensas ou ameaças”, relata a especialista.
Contudo, não há solução para uma situação complexo de envolvimento de vários fatores e aspectos, mas o que pode diminuir os casos são as informações. Informação de orientação sobre abuso sexual, a importância de realizar denúncias, além de trabalhar com a orientação sexual saudável, uma conversa sem escuta, reconstrução dos vínculos familiares e buscar por uma rede de apoio.
Consequências
O abuso pode proporcionar para a vítima consequências como distúrbios de alimentação, sono, problemas escolares, ansiedade, problemas no esfíncter (controla a amplitude de um determinado orifício), interesse sexual precoce e/ou provocativo, uso de drogas, depressão, suicídio, traumas, nervosismo, sentimento de culpa e incapacidade, isolamento, medo de julgamentos, descrença etc.
Por isso, que o tratamento psicológico é recomendado após o abuso sexual, para que a vítima volte a ter vontade de viver a sua vida sem medos, receios e traumas. “Eu trabalho com um olhar que busca compreender a realidade do mundo não focando apenas o indivíduo, mas nas relações estabelecidas pelo mesmo em todo seu contexto. Para a psicoterapia sistêmica, o tratamento psicológico com a vítima vai no sentido de enxergar o que está acontecendo. Não é um momento de ficar focando no passado, buscando culpados, mas focar no agora avaliando quem está presente na situação, como essas pessoas interferem, ver os padrões relacionais que estão acontecendo no hoje. O tratamento da ênfase muito mais nas interações e funcionamentos desse momento e contexto, do que ficar focando no conteúdo do que aconteceu”, conclui Mayara.