Entrevista com Leandro Faria, diretor do grupo teatral Soarte.
Leandro Faria, 43, é o atual diretor do grupo teatral Soarte. Com mais de 20 anos de envolvimento com a arte dramática, aqui comenta um pouco sobre o grupo, o trabalho atual e a vida como artista independente.
Como surgiu o Grupo Soarte e sua ligação com ele?
O Grupo Soarte surgiu em 1993, através de leituras dramáticas realizadas pelo Sérgio Nunes quando ele voltou para Ourinhos. Nesse ano, o Sérgio foi convidado pela secretária de cultura, Neusa Fleury, a desenvolver ações culturais na cidade.
Uma vez eu estava indo ao teatro para assistir o ensaio de um grupo local, e encontrei o Sérgio. Começamos a conversar e surgiu a ideia de formar um grupo de teatro. Convidamos algumas pessoas e começaram os primeiros encontros.
Meu envolvimento com o grupo sempre foi muito intenso. Participei da maioria das montagens. Foram poucos os períodos em que fiquei afastado. Foram anos de muito aprendizado, na convivência com o Sérgio e o grupo.
Sua vida no teatro se iniciou com o grupo?
Não. Eu já tinha tido uma experiência com teatro na adolescência. Na escola que eu estudava tinha um professor que também trabalhava com teatro. Ele era conhecido como Lapa, e resolveu montar um grupo de teatro com os estudantes. Creio que isso foi em 1990. O grupo não durou muito e só realizou uma peça chamada Batom A Esquizofrenia. Apesar da pouca duração, essa experiência me marcou muito, e fez com que alguns anos depois eu voltasse ao teatro.
Desde quando o grupo tem caráter independente?
Desde o início o Soarte foi independente. O Sérgio desde aquela época já percebia que para termos essa independência, teríamos que nos organizar como grupo. O próprio nome veio de encontro a esta ideia. Soarte: Sociedade Ourinhense dos Amigos da Arte.
O Grupo Soarte só existiu por causa do Sérgio Nunes, a paixão dele pela arte e pelo teatro sempre foi um exemplo para as pessoas que trabalharam com ele. O Sérgio tinha muita generosidade em passar seus conhecimentos. Claro que a convivência com ele não era fácil, sua paixão pelo teatro era tanta, que algumas vezes transbordava. Por causa deste temperamento, muitas vezes ele não foi compreendido. Mas sua influência marcou para sempre o grupo, desde o respeito por essa arte, até a estética e ideologia que o grupo carrega até hoje. Se não fosse ele a história seria outra.
Como foi a passagem da direção do Sérgio para você?
Essa passagem aconteceu naturalmente, o Sérgio estava começando a montar uma peça com um pessoal que estava começando. Neste período ele estava passando por problemas de saúde, e pediu para eu acompanhar os ensaios. Eu participava dos ensaios junto com o Sérgio. Após um tempo, seu problema de saúde se agravou, então ele se afastou e pediu que eu continuasse o trabalho com o grupo. Em 2008 o Sérgio Nunes faleceu, então eu acabei assumindo a direção do grupo, pois os trabalhos não podiam parar. Em 2009 fui procurado por dois atores que queriam realizar a montagem da peça Balada de um Palhaço, do Plínio Marcos, e essa foi a minha primeira direção.
Qual o trabalho atual do grupo?
Atualmente o grupo esta prestes a estrear mais uma peça. Reunião de Família. Texto do autor gaúcho Caio Fernando Abreu. Hoje o Soarte se encontra em uma fase de renovação. A maioria do elenco é formado por atores que não fizeram parte do início. A maioria das pessoas que ajudaram a fundar o grupo seguiram seus próprios projetos individuais, e esta reciclagem foi necessária para a continuidade dos trabalhos. Este novo trabalho foi um grande desafio para o novo elenco. O texto é de uma densidade e complexidade, que exigiu muito estudo e ensaios da equipe. A peça vai estrear dia 28 no Teatro Municipal Miguel Cury. Ano que vem o grupo completa 25 anos de atividade, e nossa ideia é preparar um festival para celebrar esta data.
Como é ser artista independente hoje?
Penso que hoje em dia o desafio em ser uma companhia independente, está cada vez mais difícil. Os mecanismos de produção mudaram muito. Nós ainda conseguimos trabalhar de uma forma independente, devido ao longo caminho que percorremos. As cidades que contratam nossas peças já conhecem nosso trabalho, começamos devagar e fomos rompendo as barreiras. Mas, um grupo que começa hoje em dia é muito difícil conquistar este espaço, pelo menos da forma que a gente trabalha. Hoje a produção cultural depende muito da aprovação de editais, pagos com o dinheiro público. Não que sejamos contra este sistema, nós também já aprovamos nossos projetos, e pretendemos continuar participando dos editais. Mais é bom saber que conseguimos realizar um circuito teatral de forma totalmente independente. Nesses tempos de entretenimentos digitais, games, seriados, redes sociais, canais pagos, o teatro acaba sendo ainda mais transgressor. Apesar de todas essas concorrências o teatro ainda é uma experiência única. É extremamente necessário sentar na poltrona e ver dentro daquela caixa preta, o reflexo do comportamento do espírito humano. Por esse motivo essa arte milenar nunca terá fim.
Ficha técnica.
Elenco:
Bruna Camargo
Bruna Domingues
Cinthia Siqueira
Gabriel Arcanjo
Gabriel Monteiro
Luiz Bosco
Maria Inês
Mayara Souza
Rubia Rochetto
Sirlene Aquino
Direção:
Leandro Faria
Produção:
Marcelo Piraju
Iluminação:
Neguitinho
Cenário e figurino:
Grupo Soarte
Adereço:
Nilza Guerreiro
Fotografia e entrevista:
Roberto Kaihara
P.S. Para conhecer mais sobre o Sergio Nunes veja o documentário produzido em 2010 por Rafael Lefcadito.
Parte 1: https://youtu.be/93l3u6ARJKg
Parte 2: https://youtu.be/Sn7aPvx-iDc