Música e pandemia: como sobreviver da arte musical?
Conheça relatos de dois músicos ourinhenses sobre como era a vida antes e durante a pandemia
Juliana Neves
Há mais de um ano vivemos a pandemia de coronavírus, uma crise sanitária que nos trouxe muitas consequências negativas. Uma delas é a questão da economia, seja em qual for o setor, que foi afetada pela razão das pessoas estarem mais tempo dentro de casa, não tendo tempo e nem dinheiro para compras não essenciais.
Com isso, as pessoas que vivem da arte, da cultura e da música não puderem mais trabalhar como antes. Por exemplo, os grandes shows e os pequenos, em bares, acabaram e estão proibidos até que a situação normalize. E diante deste cenário, o Jornal Contratempo conversou com dois músicos ourinhenses que sobrevivem de música para compreender melhor como está a vida e o cotidiano atualmente.
José Luis de Campos Alves, músico do instrumento violão, sempre viveu de música, apesar das dificuldades, mas não se projeta trabalhando em outra área. Já foi integrante de bandas por mais de 20 anos, tocava em bares e festas e é professor de violão. E antes da pandemia, sua principal atividade era a de professor na Escola Municipal de Música e no Projeto Acolher do bairro Itamaraty, bem como os shows em bares e era voluntário do Centro de Atenção Psicossocial (Caps).
“Com a pandemia todas as escolas foram fechadas e a de música e os bares, além da proibição de festas. Então, para sobreviver tenho alguns poucos alunos na minha casa. É uma situação difícil, pois as festas eram um bom complemento da renda. Mas além do dinheiro (que é importante) a falta de tocar para um púbico que gosta da música ao vivo nos deixa a todos, músicos e público muito tristes”, fala José.
Portanto, a lição de vida destes dias difíceis é a compreensão do quanto o dinheiro faz falta, o valor de um abraço, de um aperto de mão e da reunião de famílias, amigos e trabalhos. “Para o futuro vou esperar que as coisas voltem à normalidade (o mundo nunca mais será o mesmo). Acho que se as coisas voltarem ao que era antes da pandemia já será um avanço, mas não estou otimista”, observa o músico.
Outro músico é Fernando Camacho Pereira Alves, cantor e toca violão, que antes da pandemia a música era sua complementação de renda, agora é o ganha pão mesmo que que possua poucos alunos.
“Antes da pandemia a música para mim era um hobby e uma forma de ajudar pessoas e entidades. Até usava a música como forma de oração, pois tocava na igreja. A música em si também me ajudou a superar a depressão. Até o início da pandemia, consegui fazer, com alguns amigos, duas lives. Uma live com alguns amigos que são djs e a outra com alguns músicos que tocam na noite ou em cerimonias de casamento. Estava com um projeto engavetado para abrir um pouco mais o meu leque de opções para não ficar só com aulas de violão, que no caso é tocar em casamentos também e que por sinal ainda estou com esse casamento para tocar em julho. Se até lá a noiva não cancelar novamente, pois já foi adiado uma vez o evento”, conta Fernando.
Em razão da situação atual, Fernando ministra algumas aulas on-line e outras presenciais seguindo todas as normas de segurança e prevenção da saúde. E o seu diferencial está sendo a criação de uma campanha para ajudar uma entidade ourinhense. O seu aluno doa um quilo de alimento e ele ganha desconto na mensalidade da aula, entretanto não foi como esperado e encerrará a campanha neste mês.
“A lição é que se você quiser sobreviver no mercado da música nas atuais circunstâncias, você tem que buscar diferenciais, para mostrar ao seu público que o serviço que está sendo oferecido não é um supérfluo e sim uma necessidade. Com isso ela terá diversos benefícios, desde obtenção de conhecimentos até melhorias na saúde e no convívio social. E espero que os profissionais da área da arte tenham seu devido reconhecimento, pois a música no nosso país é pouco valorizada, e o pouco valorizado não está demonstrando ter qualidade em seu conteúdo. Enfim, reconhecimento e mais qualidade na música”, conclui o cantor.