A batalha dos chocolates na Páscoa
Conheça histórias de confeiteiras ourinhenses para enfrentar a concorrência do grande mercado durante a época de Páscoa
Juliana Neves
Páscoa é a data religiosa do cristianismo que relembra a crucificação, morte e ressureição de Jesus no terceiro dia ou no domingo de Páscoa. Sendo uma das mais importantes celebrações pela ênfase do significado da volta de Cristo dos mortos para os cristãos. Algo escrito na Bíblia afirmando que “se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação e é vã a nossa fé”, de acordo com o livro do apóstolo Paulo.
Com isso, como já divulgado em uma reportagem em 2018 no portal BBC, diz que o coelho foi o primeiro ser vivo a testemunhar a ressureição de Jesus, pois ele estaria preso no túmulo aberto na rocha. Por isso, teoricamente, o coelho teria o privilégio de anunciar a boa nova para as crianças no domingo de manhã da Páscoa.
E o ovo é o símbolo de vida e renascimentos. Na Antiguidade, os romanos disseminavam a ideia de que o universo teria uma forma oval e na Idade Média acreditaram que o mundo poderia ter surgido de dentro da casca de um ovo. Logo, surgiu o hábito de presentear as pessoas com ovos de galinhas, segundo a reportagem da época.
Diante do cenário, ao passar dos anos, as grandes marcas que fabricam chocolates começaram a ofertar para o grande mercado ovos de chocolates na época de Páscoa, vendendo um mês antes da data oficial do ano. Em paralelo, surgiram os ovos artesanais ou caseiros produzidos pelas pequenas empreendedoras.
Em razão desta oferta e demanda de mercado durante a época de Páscoa que a equipe de jornalismo do Contratempo conversou com três confeiteiras de Ourinhos, duas estão com a carreira mais consolidada e uma é nova no ramo da confeitaria com apenas alguns meses em atividade na cidade.
Maria Eduarda Ferraro – Confete Branco
Maria Eduarda é estudante de odontologia e, é reconhecida pelos seus clientes através do seu apelido de Duda, a gastronomia sempre esteve presente em sua vida. Afinal, a sua essência de confeiteira e referência é de sua bisavó que enxergou neste trabalho de confeitaria de cozinhar como uma fonte de renda para sustentar os filhos em São Paulo após a separação do marido.
“Confesso que nunca pensei na confeitaria como profissão, apesar de “nascer” na cozinha. Muitas vezes, nós ficamos preso em profissões como advogada, médica, engenheira e por esse motivo acabei fazendo a faculdade de odontologia. Até hoje eu tento encontrar algo que eu goste na odontologia, mas sei que a confeitaria tem meu coração. E não sabia antes o quanto era possível crescer nesse ramo”, conta Maria.
A pandemia foi o momento que Duda mais se desesperou e percebeu que a sua calmaria era quando preparava arroz, mas cada vez mais sentia que a sua saúde mental estava piorando. Até que se deparou com a oferta de um curso de confeitaria na mídia social Instagram, ganhou de presente de aniversário, iniciou o curso e começou a fazer os doces para os amigos, amigos dos amigos e aí surgiu a Confete Branco consagrando a Duda como empreendedora de confeitaria.
“A comida se faz presente em todos os momentos de felicidade das pessoas. Acho que este é o motivo que a confeitaria me comove, quando me fazem um pedido e vou produzir, é como se eu estivesse falando “está aqui esse presente que vai te dar alegria, te dar fé para continuar nesses dias difíceis””, explica a empreendedora.
Certamente, a Páscoa é a época mais corrida para as confeiteiras, mas Duda se sente grata e feliz por já possuir 100 encomendas faltando poucos dias para a data tão especial. E sua equipe é composta somente por ela mesma que coloca a mão na massa em todos os processos de sua empresa, valendo cada surto e nervoso como ela mesma sintetiza.
Em sua opinião, sobre a produção e oferta dos ovos caseiros em relação à concorrência dos ovos das grandes marcas é que sempre prezou em comprar dos pequenos negócios, porque acredita na necessidade de ajudarmos o próximo sempre que for possível. Além disso, com a pandemia que “estamos enfrentando tenho visto que o pensamento está mudando e as pessoas têm tido preferências em adquirir produtos caseiros (já que muitas pessoas tiveram que se reinventar, assim como minha bisavó para dar sustento à família). Poderia dizer que o mundo se tornou mais empático”, opina a jovem.
A princípio os ovos caseiros possuem mais qualidade, sabor e são feitos com mais carinho. E na visão econômica é um dinheiro gasto com um pequeno empreendedor da região, ou seja, é um investimento que retorna para a própria população por estar incentivando a movimentação da economia local, além de gerar emprego.
Produtos da Confete Branco (Foto: arquivo pessoal)
Portanto, comprar ovos de Páscoa do pequeno negócio da confeiteira local proporciona a vantagem de conexão do consumidor-empreendedor e a facilidade do cliente em receber um doce sem precisar sair de casa, provando um produto diferente e de sabor inesquecível feito artesanalmente contribuindo com a diminuição de degradação ambientação e, mais uma vez, incentiva a economia regional e local.
Sendo assim, Duda se considera ansiosa para a Páscoa por perceber que as pessoas estão desejando presentear mais as pessoas neste período de crise sanitária e garante que o diferencial de seus produtos será o amor em cada etapa da produção dos ovos. “Cada fruta, cada combinação, cada chocolate ele é tratado com cuidado. Para quem conhece minha empresa sabe o quanto eu gosto de propor sabores exóticos, que eu não costumo ver muito em produtos de grandes marcas. Costumo dizer que provar um dos nossos doces é como ter uma experiência gastronômica”, conclui a jovem.
Jessica Almeida – Brigaderia Império do Sabor
Jessica depois de ser mãe resolveu que não queria mais voltar para o seu antigo emprego, por desejar estar mais próxima de seu filho, até que sua irmã lhe apresentou a ideia de estudar sobre brigadeiros gourmets para iniciar o seu empreendimento autônomo. Decerto a confeitaria tornou-se, para Jessica, um modo de adoçar a vida das pessoas com muito carinho e qualidade.
E a Páscoa “é a época mais deliciosa e doce que existe, trabalho muito, e ver os melhores feedbacks dos clientes no final é gratificante. Mas não é fácil ser pequena empreendedora, pois muitas pessoas ainda não valorizam o trabalho artesanal, porém trabalhamos e lutamos para cada dia que passa sermos mais reconhecidos”, relata Jessica.
Produtos da Brigaderia Império do Sabor (Foto: arquivo pessoal)
Desta forma, na opinião da Jessica, os produtos artesanais deveriam ser mais reconhecidos por serem de altíssima qualidade e remetem a muita dedicação por quem produz para chegar ao resultado mais saboroso e personalizado para o cliente.
“Minha expectativa é superar a Páscoa 2020, que graças a Deus foi um sucesso. E neste ano, teremos deliciosas lembranças, como ovos de colher e trufados de vários tamanhos e infantis para atender todos os gostos”, finaliza Jessica.
Camila Terçariol – Doces Madah
Camila decidiu ser confeiteira em 2020 por ser uma profissão que permite trabalhar com a criatividade. Afinal, Camila é uma jovem que gosta de inventar cosias novas, fazer testes e de levar alegria para os clientes por meio de docinhos.
“A confeitaria é um ramo muito importante no qual os profissionais colocam muito amor e dedicação. E a Páscoa costuma ser um período de maior movimento, e por esse motivo é uma grande oportunidade de crescimento. Mas, ao mesmo tempo, é difícil concorrer com as grandes marcas dos mercados, o público já notou que os valores estão absurdos. Além disso, os ovos caseiros são mais personalizados e confeccionados de acordo com o gosto do cliente, sendo feitos com carinho e atenção”, opina Camila.
Produtos da Doces Madah (Foto: arquivo pessoal)
Portanto, a expectativa da jovem empreendedora para a Páscoa é conseguir aumentar o seu fluxo de vendas e, consequentemente, mais pessoas conheçam a sua empresa trabalhando com o seu carro chefe que é pão de mel com opções específicas para a época mais recheada de chocolate, além de mini ovos.
Por fim, baseado nas histórias acima citadas, é possível compreender o tamanho da luta do pequeno empreendedor da área de confeiteira no cotidiano e, principalmente na Páscoa, para conquistar o seu espaço no mercado tão concorrido pelas grandes marcas produtoras de chocolate e outros doces.