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O neoliberalismo e a virtude do egoísmo

O neoliberalismo e a virtude do egoísmo

Imagem: WikiImages

Maurício Saliba

Historiador, Doutor em Educação pela Unesp; docente na UENP.

O neoliberalismo nasceu após a II Guerra Mundial como reação teórica e política contra o Estado intervencionista e de bem-estar europeu. O texto “O Caminho da Servidão”, de Friedrich Hayek, escrito já em 1944 é sua base teórica e faz um ataque contra o Estado e qualquer forma de limitação do mercado. O texto afirma que o Estado, além de corrupto e ineficiente, é uma ameaça à liberdade econômica e política. O título do livro faz referência à crítica do autor, segundo a qual “apesar de suas boas intenções, a social-democracia moderada inglesa conduz ao mesmo desastre que o nazismo alemão, uma servidão moderna”. A ideia central do texto de Hayek era combater o keynesianismo e o Estado de bem estar social imperantes e consolidar os alicerces de um novo capitalismo, livre de regras e de controles.

Quando o texto surgiu, teve pouca repercussão, o capitalismo de bem estar estava numa fase de auge e prosperidade. Hayek também denunciava, sem muita ressonância nesse momento que o (relativo) igualitarismo promovido pelo Estado de bem-estar destruía a liberdade e a concorrência, inibindo a prosperidade de todos e a riqueza dos países.

O que provocou a alavancagem das ideias neoliberais foi a grande crise do modelo econômico do pós-guerra,
em 1973, que provocou uma longa e profunda recessão, combinando, pela primeira vez, baixas taxas de crescimento com altas taxas de inflação. Nesse momento, o discurso neoliberal acusa as raízes da crise no poder “excessivo e negativo” dos sindicatos e dos movimentos operários, com as pressões reivindicativas sobre os salários e com sua
pressão “parasitária” para que o Estado aumentasse cada vez mais os gastos sociais. Dessa forma, esses processos obstruiriam os níveis necessários de lucros das empresas, levando os sistemas à crise econômicas e sociais.

Agora o “caminho da servidão” de Hayek fazia sentido e passou a ser o “mantra” dos liberais em toda a Europa. Para eles, a saída para a crise era manter um Estado forte, sim, em sua capacidade de romper o poder dos sindicatos e no
controle do dinheiro, mas parco em todos os gastos sociais e nas intervenções econômicas. Além disso, a teoria neoliberal defendia que era necessária a contenção dos gastos com bem-estar e a restauração da taxa “natural” de desemprego, com fins de quebrar o poder dos sindicatos e baratear os custos dos salários, que corroíam os lucros.

Mas, se na Europa a implementação do neoliberalismo se inicia no governo Thatcher, em 1979, na América chega com a eleição de Reagan em 1980. Na prática as medidas neoliberais provocaram o intenso advento das operações puramente parasitárias, gerando as condições para a inversão das ações produtivas para as ações especulativas. O aumento nos anos 80 do mercado de câmbio internacional enfraqueceu o comércio mundial de mercadorias tangíveis.

 

Esse texto é parte 2 de 3 da série “O assujeitamento de subjetividades na realidade brasileira”, constituída de resumos oriundos de uma mesa-redonda de mesmo nome, realizada por Diogo Almeida, Luiz Bosco e Maurício Saliba, em 2018.

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