O Rio Pardo vai secar?

SAE divulgou baixa do rio que pode comprometer o abastecimento de água e especialistas explicam a razão desta ser a situação atual do rio

 

Juliana Neves

 

O Rio Pardo é um rio paulista que tem a sua nascente em Pardinho, região da Cuesta Botucatu. É o rio principal da bacia hidrográfica e atravessa 15 municípios do centro oeste paulista até desaguar no rio Paranapanema, em Salto Grande. A sua extensão é de 264km desde a nascente até a sua foz.

Atualmente, o rio está com 75% das suas Áreas de Preservação Permanente ocupadas por matas ciliares, capoeiras ou formação campestres. O ideal seria 100% de proteção das matas nativas, mas é algo que se mantém desta maneira há décadas.

E o Rio Pardo vive um processo de redução do volume de água. Mas não há risco de secar por completo. “Nas últimas décadas, grandes áreas da bacia hidrográfica do Rio Pardo tiveram a cobertura do seu solo modificadas, tendo as florestas nativas sido substituídas em um primeiro momento por roças e pastos e posteriormente estes usos trocados por agricultura e pecuária intensiva. No mesmo período, as áreas com infraestruturas que impermeabilizam o solo, como áreas urbanas, rodovias e estradas, também foram bastante ampliadas. Este conjunto de atividades agropecuárias intensivas e de infraestruturas (principalmente as urbanas) compactam e impermeabilizam o solo, aumentando o escoamento superficial das águas o que faz com que estas águas sejam direcionadas para o final da bacia em grande velocidade, o que causa inundações, erosões e assoreamento de corpos d´água e ainda causa a “perda” dessas águas. Em condições naturais, a água das chuvas não escoaria (ou escoaria muito pouco). Mas sim infiltraria no solo, recarregando o lençol freático e sendo disponibilizada lentamente nas nascentes, que são as formadoras dos córregos que vão formar o Rio Pardo. Então, como infiltra menos água no solo devido à compactação e à impermeabilização, a maior parte da água das chuvas que cai sobre a bacia do Rio Pardo acaba sendo “perdida” pelo escoamento superficial. Como o solo tem menos água armazenada, há menos água para brotar nas nascentes, tornando-as mais “fracas” e consequentemente reduzindo o volume de água dos córregos que contribuem para a formação do Rio Pardo. Assim, o Rio Pardo também fica “menor””, explica Edson Luís Piroli, professor universitário e cientista.

“O desrespeito com as leis ambientais e a omissão dos órgãos fiscalizadores contribuem muito por fatores negativos de destruição. Existe uma frase importante que “É PRECISO PLANTAR FLORESTAS PARA COLHER ÁGUA “, esta frase vai de encontro ao momento, pois somente teremos qualidade de vida futura se protegermos nossas florestas e nossas águas”, fala Luiz Carlos Cavalchuki, presidente da ONG Rio Pardo Vivo.

Luiz ainda ressalta que o descaso humano com maus tratos dos rios e na maneira de uso da água, reflete no rio a destruição da nascente, as reservas legais e as áreas de preservação. Em consequência, o rio sofre assoreamento, má qualidade da água e diminuição do fluxo.

Outra questão, é que nos últimos anos tem sido instalados sistemas de irrigação na área da bacia do Rio Pardo, principalmente na região de Itatinga e Avaré, que é algo que retira o volume de água considerável dos tributários do rio. Naturalmente contribui para a redução do volume de água. Além da construção de algumas represas no rio, com destaque para a PCH Ponte Branca em Águas de Santa Bárbara.

Segundo Edson, “essa represa retém água do Rio Pardo para manter volume que permita sua operação, o que compromete a sequência do rio. Dados extraoficiais de monitoramento realizado em Santa Cruz do Rio Pardo indicam que o volume do rio naquela cidade reduziu em torno de 10% depois da entrada de operação da PCH. Destaco que a retenção de água de rios em reservatórios com grande lâmina de água, expõe esta água diretamente ao sol, o que aumenta consideravelmente a evaporação, contribuindo para a redução do volume de água do rio”.

Luiz acrescenta que o Rio Pardo está em transformações ambientais e Grandes Lagos estão sendo formados em Botucatu (barramento para acumulação de água) e em Águas de Santa Bárbara (com a represa) que estão destruindo grandes áreas ambientais. A consequência é que Ourinhos e Santa Cruz do Rio Pardo estão sendo afetados com relação ao volume de água e com a captação deste líquido.

Na opinião de Edson Piroli, a busca por melhorias do Rio Pardo só tem um caminho. “Em primeiro lugar um plano de manejo integrado da bacia hidrográfica visando a produção de água. Para isso, é necessário que as prefeituras dos municípios com área no Rio Pardo atuem de maneira conjunta em direção a esse objetivo. O Comitê da Bacia Hidrográfica do Médio Paranapanema, do qual a bacia do Rio Pardo faz parte, tem papel fundamental nesse processo. Da mesma maneira, é preciso que moradores das áreas rurais e urbanas sejam conscientizados da importância da participação de cada um na manutenção da qualidade ambiental e principalmente das águas da bacia. As áreas urbanas também devem ser geridas pelo poder público visando a redução do escoamento superficial, o que inclusive causa grandes transtornos, prejuízos e perdas de vidas com os alagamentos e as inundações. Essa gestão urbana deve ser feita a partir de planos de drenagem adequados às condições de cada cidade, pensando sempre no aumento da infiltração da água das chuvas. […]Também devem ser adotadas calçadas permeáveis (ecológicas) em todas as ruas, entre várias outras possibilidades. O estado e os municípios da bacia também precisam participar desse processo, principalmente como organizadores e reguladores das atividades. […] Além disso, estes entes têm a responsabilidade de investir em estruturas e em pessoal para organizar estes projetos”, destaca o cientista.

Entretanto, é importante que a população colabore para melhorar as estatísticas do Rio Pardo. Luiz Cavalchuki sintetiza que “a população deve colaborar com o uso racional da água, evitar queimadas, cobrar e participar dos órgãos públicos que apliquem e cumpram as Leis de proteção ambientais. A ONG Rio Pardo Vivo tem desempenhado um papel importante no enfrentamento da não construção de hidrelétricas no rio Pardo, elaboração de Leis Ambientais municipais e estadual, assegurando que o rio mantenha preservado para futuras gerações”.

O Rio Pardo é um dos poucos rios que se encontra em estado natural de conservação estável, é detentor de grandes belezas naturais por toda a região com cachoeiras, saltos e corredeiras. Por isso, para o futuro, espera-se evitar grandes barragens propostas, aplicação do desenvolvimento racional, fomento do turismo regional e garantia do rio como o principal patrimônio ambiental da região.

 

Superintendência de Água e Esgoto de Ourinhos – SAE

Superintendência de Água e Esgoto de Ourinhos – SAE

Na terça-feira passada, dia 17, a SAE divulgou a notícia sobre o baixo nível que se encontra o Rio Pardo e esclareceu que seis municípios já estavam enfrentando o racionamento pela falta de água.

“Em Ourinhos a situação vem sendo monitorada constantemente. Manobras de abastecimento ainda mantém cheios os reservatórios que abastecem a cidade, porém o nível do Rio Pardo cada vez mais baixo acende um alerta. A captação de água do rio na Estação de Tratamento de Água da SAE precisa ser interrompida caso o nível fique abaixo de 1 metro”, de acordo como está descrito na matéria.

Gráfico SAE (Foto: site SAE)

Portanto, solicitou que a população seja consciente no uso da água e declarou algumas dicas para o consumo de água:

-Evite desperdícios

-Reduza o consumo

-Faça captação da água da chuva

-Reaproveite água do chuveiro e da máquina de lavar

Isso ajuda a poupar água potável do planeta, preservar os mananciais e economizar com a conta de água.

Confira algumas dicas para um consumo consciente de água:

1- Feche a torneira ao escovar os dentes ou ensaboar a louça

2- Tome banhos curtos

3- Cubra a piscina quando não estiver usando

4-Evite regar as plantas nos horários de sol forte

5-Use a vassoura para limpar o quintal ou calçada

6-Use um balde e um pano para limpar o carro

7-Conserte vazamentos na sua casa

8- Incentive pessoas à sua volta a adotar ações de economia e redução de água

9-Reutilize águas do chuveiro ou máquina de lavar para limpar áreas externas

10-Use cisternas para fazer a captação e armazenar a água da chuva

No mesmo dia, durante o jornal do meio-dia da TV Tem, o repórter Adolfo Lima fez um ao vivo para falar sobre o Rio Pardo e disse que o nível ideal do rio seria de 2,2 metros e o registro era de 1,25 metros. Para isso, conversou com Helio Serafim, gerente de captação na SAE, que disse que a consequência da baixa seria o desabastecimento de água nas residências.

“Essa baixa representa o comprometimento do nosso trabalho de produção, uma vez que nossos equipamentos dependem de um bom nível do rio para operar em segurança, o que pode provocar o desabastecimento de água potável na cidade”, falou Helio.

 

Fonte: SAE e G1

Imagem capa: Wikipédia