UNESP realiza trabalho de campo em Timburi-SP

 

Os trabalhos de campo são fundamentais no curso universitário de Geografia porque relacionam os conceitos e teorias vistos na sala de aula, com a realidade. Desta forma, estudantes do curso de Geografia da Faculdade de Ciências, Tecnologia e Educação – FCTE/UNESP, campus de Ourinhos estudaram Timburi (SP) no dia 20 de junho de 2022 como parte das atividades de ensino das disciplinas do terceiro ano, envolvidas no projeto.

A cidade de Timburi foi escolhida, justamente porque tem paisagens e feições importantes e raras cientificamente. Os rios principais são o Itararé e o Paranapanema, rodeados por remanescentes de cuestas basálticas/areníticas e morros testemunho com vegetação de mata nativa. O município apresenta aspectos físicos, biológicos e sociais interessantes para o trabalho de campo, e que facilmente se enquadram em patrimônios culturais e naturais de diversas naturezas (histórico, arquitetônico, arqueológico, geológico e geomorfológico). Por ser um dos municípios que possui a maior porcentagem de vegetação original preservada na região e maiores manchas contínuas de Mata Atlântica de Interior, e boa qualidade e quantidade de recursos hídricos, Timburi merece ser estudada e valorizada.

As disciplinas envolvidas foram a Biogeografia e Geografia da População, lecionadas respectivamente pelas professoras Dra. Luciene Cristina Risso e Dra. Franciele Ferreira Dias e contou com a participação especial da professora Dra. Marcilene dos Santos, convidada para explicar o contexto geológico e geomorfológico da área e seus geosítios potenciais para um possível geoparque na região.

Após dois anos de ausência de trabalhos de campo devido a pandemia da covid-19, as professoras estavam muito felizes em realizar a atividade. Os discentes também estavam animados, já que para muitos, era sua primeira experiência em campo.

Ao chegarmos na cidade fomos recepcionados pelo vice-prefeito Anderson Solé e sua equipe, que nos acompanhou nos principais pontos turísticos, ecológicos e históricos da cidade e proporcionaram uma troca de saberes. Foram muito solícitos e gentis conosco, contribuindo com o sucesso pedagógico do trabalho de campo.

Visitamos a Igreja Matriz Santa Cruz construída com blocos de arenito Botucatu silicificado, abundante na região, com uma técnica antiga de mosaico. A igreja é um rico patrimônio histórico, arquitetônico e geológico. Em seguida, visitamos o Museu histórico da cidade, com peças e fotografias que nos fizeram viajar à história da criação do município e sua cultura e economia do século passado. Na Fazenda Domiciana, uma fazenda da época do café, visitamos sua igrejinha bucólica e histórica no alto do morro e com visão privilegiada da região, os estudantes puderam comparar setores ambientalmente mais conservados e outros mais degradados e entender os processos de movimentos de massa e erosão acelerada e suas causas.

O contato com a figueira centenária conservada em uma área de mata da fazenda também contribuiu para a reflexão da importância da conservação e preservação de espécies nativas e a capacidade de gerar biodiversidade que uma única árvore desse porte e idade possui. 

Os estudantes ficaram surpresos com uma área de relevante interesse ecológico, que são áreas de refúgios de bromeliáceas e cactáceas, um nicho ecológico de milhares de anos atrás encravado em meio à Mata Atlântica e que representam o registro de um clima muito diferente do atual. Fato de interesse relevante para o geoturismo, educação ambiental e turismo científico é a ocorrência deste nicho associada a rochas magmáticas ácidas geradas pela separação entre Brasil e África e que só existem na região de Timburi, algumas porções do norte do Paraná e Rio Grande do Sul, perfazendo 2% do magmatismo gerado pela abertura do Atlântico Sul. Por fim, visitamos a área do camping do Redondo e pudemos observar o contraste entre as benfeitorias que estão sendo feitas pela prefeitura e a triste ocupação das margens da represa na área do Camping com algumas casas de palafitas construídas por praticantes de pesca esportiva.

O trabalho de campo foi uma rica troca de saberes e experiências e, com certeza, contribuiu para a formação dos estudantes e conhecimento da região de Ourinhos e a diversidade de riqueza natural e cultural que nos cerca. Conhecer para valorizar e saber ocupar de forma que o meio ambiente e seus serviços ambientais não sejam prejudicados ou destruídos é a melhor forma de ensinar e aprender. 

Na opinião da aluna Luiza Erica Neto Carvalho “Fica difícil descrever em poucas palavras o quanto este campo foi importante, é a exata junção do que aprendemos dentro da sala de aula, com aquilo que é visível aos sentidos. Pude aprender na prática que uma igreja traz ensinamentos históricos, geológicos e geográficos. Vi uma figueira centenária que guarda a ancestralidade dentro de um conceito de biogeografia perfeito. Caminhei por cactáceas bromeliáceas em solo ancestral, que remetem a eras milenares, que são testemunhas da transformação que o planeta passou e que mesmo assim estavam ali ao alcance dos meus olhos. Também vi como o homem degrada a paisagem natural, e como alguns tentam preservá-la para aqueles que ainda virão. O Trabalho de campo na formação, tanto do bacharelado, quanto na licenciatura, nos leva para dentro do livro didático, e podemos perceber que tudo aquilo é real e indescritível. Como diz Milton Santos, o geógrafo é, antes de tudo, um filósofo, e os filósofos são otimistas, porque diante deles está a infinidade e foi isso que este trabalho de campo a cidade de Timburi me proporcionou”.

Para o vice-prefeito de Timburi, Anderson Solé, “através da Prefeitura Municipal gostaria de agradecer os professores e alunos da UNESP Ourinhos pela aula de campo em Timburi, sendo de grande importância e uma forma de levar os alunos a estudarem os nossos ambientes naturais na pratica e assim complementar as atividades de classe”.

Por fim, foi um trabalho de campo cheio de conhecimentos, ciência, debates e aventuras! 

Agradecimentos:

UNESP, campus de Ourinhos, pelo apoio e financiamento para o campo acontecer, e ao motorista Alexandre que nos guiou.

Prefeitura de Timburi, em especial ao Prefeito Sílvio Polo; Vice-prefeito Anderson Solé, Andrei Rueda (Secretário de meio ambiente) e assessor Paulo Minozi, Rodrigo Lopes (Secretaria do Meio Ambiente) e o biólogo José Otávio dos Santos Alves da Secretaria de Administração.

E aos discentes presentes.

Luciene Cristina Risso – Geógrafa e doutora em Geografia. Pesquisa temas relacionados à Paisagens, conservação ambiental e culturas. É Professora do curso de graduação em Geografia da UNESP, FCTE, Ourinhos e orienta no programa de pós-graduação em Geografia, da UNESP, Rio Claro.

Marcilene dos Santos – Geóloga e doutora em Geologia Regional. Especialista em Evolução de Paisagens, Neotectônica e Geomorfologia Tectônica e membro dos grupos de pesquisa CNPq “Solos, Paleossolos e Dinâmica da Paisagem” do IG/Unicamp, “O Solo como registro de mudanças ambientais” da Esalq- USP, e “Patrimônios” – FCTE – Unesp. É professora do Curso de Geografia da FCTE – Unesp, Campus de Ourinhos e co-orienta nos programas de pós-graduação em Geologia da UFPR e Solos e Nutrição de Plantas da ESALQ – USP.

Franciele Ferreira Dias – Professora Dra. do curso de Geografia da UNESP, FCTE, Ourinhos. Pesquisa temas relacionados a Rede Urbana, Pequenas Cidades e Especialização Produtiva.

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