O jeito tucanalha de roubar merenda
por Gabriel Grazzini*
Já que vivemos em dias que o poder econômico mantém um relacionamento sério com o poder informacional é valido nos mantermos sempre atentos aos desdobramentos desta relação e mais ainda aos impactos que isso causa nas profundas e aceleradas mudanças pelas quais a sociedade vem passando. Simplificando: será que a grande mídia brasileira vai cobrir com a devida proporcionalidade o escândalo tucano da merenda?
Lembro-me de um texto interessante em que o jornalista Paulo Nogueira do DCM sugere que o único remédio para a grande mídia golpista que se encontra instalada em nosso país é o boicote, o descarte ao detrito sólido de maré baixa (como diria Paulo Henrique Amorin, especificamente sobre a revista Veja) produzido por estas empresas.
Mas a realidade é tão complexa que nos pega no pé de apoio e se vacilarmos tombamos. Os leitores destes produtos existem e compõem a nossa sociedade como tantos outros que formam a fascinante luta pelo direito a diferença que forja a igualdade dos seres humanos. E é ai que tá uma coisa que vem assolando meus pensamentos: a luta para ser tratado com diferença reforça ou enfraquece a igualdade humana? Com certeza enfraquece.
Ao exemplo concreto: Porque um professor que comia merenda nas escolas estaduais tem que diferentemente dos estudantes “cortar fila” e ir direto ao começo dela retirar seu prato? Pode ser algo entorno do direito a diferença ou simplesmente a pressa para descansar em meio a uma jornada de trabalho esmagadora. Claro que nem todos professores que comiam merenda faziam isso e na verdade a socialização entre estudantes e professores durante o intervalo em que consumiam a merenda só beneficiava-se e enriquecia os sujeitos envolvidos nesta relação.
Agora um exemplo mais concreto ainda: Por que o governo mandou e-mails institucionais às escolas determinado que os professores não poderiam de forma alguma se alimentar com a merenda escolar?Este segundo exemplo é mais fácil de tentarmos responder: devia estar faltando dinheiro, não para a merenda em si, mas, sim para o Moita (Luiz Roberto dos Santos, ex-chefe de gabinete da Casa Civil de Alkimin, que voltou para sua função na CPTM um dia antes do inicio da operação da policia civil: Alba Branca – que investiga as fraudes nas licitações de compra de produtos agrícolas para a merenda escolar do estado de São Paulo e de prefeituras) e todos os envolvidos neste esquema de desvios de verbas.
O que nos faz pensar, nestes tempos de judicialização da política, que movimentos de bastidores levaram ao caminhar desta investigação? Ahá! Tem dedo do PT ai, esperneiam os desavisados! Ou aqueles mais atentos podem se questionar: porque nesta altura do campeonato estoura um escândalo no colo do Alkimin? Será algo ligado a uma disputa interna do partido? Será que tem dedo daqueles que como Aécio e Serra não querem ver o atual governador de São Paulo representar a legenda na disputa pela presidência em 2018? Não da para saber (talvez por enquanto).
O que da para saber é que estes desvios somam montantes em torno dos 200 milhões de reais (48% do orçamento destinado a merenda de agricultura familiar). Sendo que era cobrado até 25% a mais nos preços que iam para a propina. Aparece envolvido também outro ex-secretário (da pasta da educação, demitido no dia 28/01) próximo ao governador tucano: Fernando Padula (que deve ter lido o “Manual do Guerrilheiro Urbano” pela direita. Ou nós de esquerda não temos de ler Milton Friedman também?) que estava a frente do esquema e é provavelmente aquele ao qual se referem nas gravações como “nosso homem” segundo texto feito por Mauro Donato no DCM.
Ah! Mais é uma cooperativa que fornece a merenda e quem vê isso é o ministério do desenvolvimento agrário, balbucia o lisíssimo governador como quem ao fazer uma jogada burocrática e de informação descartasse o momento o qual vivemos em que corruptos e corruptores tendem a ser evidenciados como agentes criminais.
É isso o que costumeiramente podemos identificar, nos blogs progressistas ao discutirem: impeachment, corrupção, golpe, mídia e etc., como o confronto entre o Brasil produtivo e o Brasil improdutivo ou Brasil velho e Brasil novo.
No mais, aplica-se à realidade brasileira e a grande parte de seus cidadãos a letra de uma ótima música do grupo B-Negão e os seletores de frequência: “Enxugando o gelo, sua realidade segura por um fiapo de cabelo. Apego pelo tempo, melhor não tê-lo; segurá-lo, não quero, nem há como contê-lo.”
Agora, resta-nos saber se os professores que cortavam fila votaram no Alckmin, e por sua vez viraram as costas para essa corrupção, enquanto esculhambam o governo federal. Só que o picolé vai derreter! E como diz meu pai: “esse é o jeito ‘tucanalha’ de governar”.
Referencias
* Grabriel Grazzini é professor e colaborador do Jornal Contratempo