O silêncio da grande mídia pós 15M
por Gabriel Pozza*
“Para que alguns cidadãos possam receber informações e ideias, deve-se garantir a outros o direito de transmiti-las. E esse direito, como todos nós sabemos, é propriedade de um oligopólio de poucas empresas de comunicação.”
“Consequentemente, a mídia corporativa não exerce o direito à liberdade de expressão, e sim à censura, já que decide o que será publicado e o que não.”¹
O significativo número de pessoas e categorias que se manifestaram no dia 15/03/2017 ficará registrado na história. Dois anos após os atos pelo “fora Dilma”, amplamente patrocinados pelos gigantes da “comunicação”, presenciou-se nesta data a total falta de comprometimento com que os barões da mídia agem no Brasil. O mundo vendido por eles não é o mundo real.
Exemplos de barganha com o mundo midiático vendido não faltam (quantos patrocinadores né?). Através de visões caolhas dos acontecimentos que repercutem via grande mídia temos que agir de forma questionadora, crítica. A ótica imposta e transmitida não pode ser engolida. Como silenciar a política de Estado genocida que historicamente perseguem populações negras e indígenas deste país? Como silenciar o hit do último carnaval: “…Fora Temer! Fora Temer! Fora Temer!…”.
A forma irresponsável, persuasiva e manipuladora pela qual o jornalismo dos grandes meios de “comunicação” atuam não são novidades. Justamente por isso, pela acumulação histórica destas direcionadas omissões comunicativas, acredito que os cidadãos brasileiros e principalmente a classe trabalhadora não irão tardar em saturar-se (como vem saturand0-se) das tamanhas publicidades falsificadas da realidade. O dia 15/03/17 é um exemplo, entre tantos outros.
A tentativa de retirada de direitos fundamentais, como o previdenciário e trabalhista, vem aguçando as lutas de classes. O governo golpista e seu projeto antipopular colocado em curso com a “Ponte para o futuro” e “Travessia social” tentam de todas as formas fazer o trabalhador pagar pela crise.
A prática do silencio informativo sobre determinados acontecimentos correspondem às necessidades e interesses do grande capital e suas forças políticas presentes nos poderes executivo, legislativo e judiciário. O modelo de atuação da mídia dominante exerce um novo tipo de censura, pois restringe o direito à informação.
Além dos grandes centros urbanos, também foi registrado manifestações contrárias às reformas do governo em cidades menores do interior do país, como Ourinhos/SP. Os manifestantes conseguiram inclusive serem atendidos pelos assessores do Deputado Federal do município, o qual se comprometeu através do celular em votar contra a absurda Reforma da Previdência.
Apesar de toda agitação no país, a mídia silenciou de forma conivente, minimizando a importância do dia e sua mensagem contrária às retiradas de direitos dos trabalhadores. Alguns jornais inclusive deram foco especial aos “transtornos” gerados pelas paralisações de categorias como motoristas de ônibus do transporte público, garis, metroviários, professores e bancários.
Cabe ressaltar aqui a postura semelhante com que os meios de comunicação se comportaram em 1984, época das Diretas Já. A insistência da mídia em abafar as ações de mais de 300 mil pessoas em São Paulo naquela época foram absurdas e ineficazes. Como agora, seus interesses colidiram com os interesses populares. O agravante disso tudo é que as redes sociais não permitem o silêncio das informações como épocas passadas deixando em maior ou menor evidência toda a parcialidade da grande impressa e suas filiadas.
Diante da unificação de pautas dos trabalhadores os monopólios da comunicação fingem nada ver, expressando assim todo seu posicionamento político, seu lado, seus interesses e objetivos. E é óbvio. Não estão do lado dos trabalhadores e nunca estiveram. Daí urge a necessidade do fim dos monopólios da comunicação no Brasil e uma real democratização da informação.
Quando as grandes mídias são empurradas a noticiar o que tentam primeiramente escamotear, procuram fazer de forma oportunista para que as pautas sejam distorcidas. Não é novidade para ninguém que o investimento do governo Temer em propaganda com os mesmos meios de comunicação aumentou exponencialmente depois que conseguiu chegar ao poder. Assim como financiamento de campanha não é caridade alguma, aumentar a receita das mídias com dinheiro público visa certamente interesses e conchavos.
A chamada neutralidade e imparcialidade dos grandes meios de comunicação estão totalmente atoladas em intensões de poder político e financeiro². Tais características não passa de um mito, uma fábula, um ideal criado para que a população aceite como verdade o discurso construído pelos grupos dominantes. Ou seja, trata-se de uma nova forma de censura.
A influência e o poder dos meios de comunicação de massa ainda são consideráveis, mas cada vez mais vem dando sinais de fragilidade. Tais sinais, como a censura midiática ocorrida durante e pós o 15/03/2017, servem de combustível para que as lutas pela manutenção dos direitos sociais se intensifiquem nas ruas. O resultado das ações nas ruas é que determinará as forças capazes de barrar os retrocessos históricos com que este governo golpista vem tentando impor ao povo brasileiro.
Para concluir, gostaria de compartilhar as palavras de Eduardo Galeano a respeito da televisão, criando as seguintes reflexões:
“A guerra é a continuação da televisão por outros meios, diria Karl von Clausewitz, se o general ressuscitasse um século e meio depois e começasse a praticar o zapping. A realidade real imita a realidade virtual, que imita a realidade real, num mundo que transpira violência por todos os poros. A violência gera violência, como se sabe, mas também gera lucros para a industrial da violência, que a vende como espetáculo e a transforma em objeto de consumo. Já não é necessário que os fins justifiquem os meios. Agora os meios, os meios massivos de comunicação, justificam os fins de um sistema de poder que impõem seus valores em escala planetária. O Ministério da Educação do governo mundial está em poucas mãos. Nunca tantos tinham sido incomodados por tão poucos.”
¹ Trecho do livro: MORAES, Dênis. RAMONET, Ignacio. SERRANO, Pascual.
Mídia, poder e contrapoder: da concentração monopólica à democratização da informação. São Paulo: Boitempo, 2013, Página 76.
² Cabe destacar aqui a reportagem Crônicas de América – O poder bancário real, o qual aborda a mescla do poder financeiro, político e midiático ocorrido nos últimos anos na América Latina. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=Z8t6K7moq7o
³ GALEANO, Eduardo. De pernas pro ar: a escola do mundo ao avesso. Porto Alegre, RS: L&PM Editores, 2015. Página 279.
* Gabriel Vidal Simõis Pozza, 29 anos, natural de Piraju, morador de Ourinhos e Corinthiano. Formado em Geografia pela Unesp Ourinhos e pós-graduado em “Ensino e Pesquisa na Ciência Geográfica” pela Unicentro/PR. Atualmente é professor de Geografia da rede estadual do Paraná (Jacarezinho).