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A barbárie bate à porta do ourinhense

A barbárie bate à porta do ourinhense

Por Luiz Alberto Marques Vieira Filho*

 

A pandemia se alastra pelo Brasil. Em menos de 24 horas, 133 brasileiros perdem a vida pelo coronavírus e 2.210 recebem a confirmação de que estão infectados. Bauru, Londrina e Marília começam a contar os seus mortos e já se sabe que há ourinhenses infectados, mesmo com toda a demora para receber os resultados dos exames. Sem as medidas de isolamento social, 500 pessoas estarão mortas em Ourinhos nos próximos 2 meses.

A despeito da quarentena decretada pelo governador do Estado de São Paulo, compra-se e vende-se de tudo no comércio de Ourinhos. Basta bater na porta de muitas lojas que um comerciante amedrontado e funcionários desesperados o recebem dentro do comércio. Sem ajuda do governo federal, comerciantes temem perder tudo o que juntaram ao longo de toda a vida. Sem o emprego, os funcionários não terão o que comer durante a pandemia e depois dela.

O Banco Central do Brasil já liberou R$ 1,2 trilhão para os bancos ajudarem os seus clientes em dificuldades. O crédito bancário já não era o auxílio ideal, pois aumentará os endividamentos dos empresários e dificultará a retomada da economia após a pandemia. Mesmo assim, os gerentes dos bancos da praça não retornam as ligações de seus clientes e têm quase nada para oferecer para aqueles que se aglomeram nas agências.

Mesmo com o surgimento da pandemia em janeiro, ainda não se viabilizou a pequena ajuda de R$ 600 aos informais. Aqueles que ganharam acima de R$ 3 mil por mês em 2017, não receberão nenhuma ajuda, mesmo aqueles que perderam seus empregos desde então. Muita gente atrasará as contas como aluguel e não voltarão a consumir após a tormenta.

A pergunta é como chegamos a tal ponto?

A verdade é que esquecemos o que é viver em sociedade. Não sabemos mais o valor da solidariedade. Agimos como David Luiz no 7 a 1, acreditando que individualmente seria possível uma virada contra a Alemanha. Ninguém enfrenta uma pandemia dessa sozinho.

Cabe ao governo, como agente racional e coordenador da sociedade, apresentar e implementar soluções ao problema. Todo cidadão tem o direito e a obrigação de exigir e propor saídas.

O Governo Federal possui R$ 1,4 trilhão em caixa na Conta Única do Tesouro Nacional e US$ 380 bilhões em reservas (a conversa de havia acabado o dinheiro era simplesmente mentira). Pode-se e deve-se usar esses recursos para resolver os problemas da saúde e econômicos de todos os brasileiros. Além disso, um estado nacional jamais quebra em sua própria moeda e pode emiti-la se precisar de mais recursos financeiros.

Emissão de dinheiro não gera inflação em uma economia praticamente parada. O que gera aumento nos preços é uma economia extremamente aquecida sem condições de atender à procura dos consumidores. As teorias econômicas dos anos 50 que propunham uma relação automática entre emissão de dinheiro e inflação, caíram em descrédito no mundo todo desde 2008. Já não possuímos um remédio confiável contra o coronavírus, não poderemos enfrentar o caos econômico com ideias de economistas que se recusam a se atualizar. Aliás, vocês se lembram da ajuda de R$ 1,2 trilhão aos bancos que foi citada acima? Pois é, essa dinheirama é aquilo que antigamente a gente chamava de “imprimir dinheiro”. Portanto, não se debate mais se haverá emissão monetária, o que está em discussão é apenas se trabalhadores e pequenos empresários terão sua parte no pacote de socorro.

A barbárie social e sanitária bate à nossa porta. Chegou a hora de todos compreendermos como funciona uma sociedade solidária.

*Luiz Alberto Marques Vieira Filho é economista (USP), mestre e doutorando em Ciências Econômicas (UNICAMP).

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