“A Rainha do Lar e a Modernidade”, na crônica de Jair Vivan Jr.
Minha mãe levava a gente na linha mas dava mole, acabava aliviando para os filhos, escondia muita coisa, mantinha o controle
aplicando penas leves e assim evitando castigos maiores, esporádicos mas bem aplicados.
Ela tinha que nos envolver nas tarefas, ora ajudando, ora atrapalhando, coisas secundárias como enxugar louças, varrer e lavar quintal ou fazer peso sentando no escovão para passar palha de aço no assoalho de tábua corrida, sendo preparado para ser encerado e forrado com folhas de jornal para aguentar lustroso todo o final de semana, esta tarefa era bem divertida, salvo quando a dobradiça da junção do cabo beliscava alguma pele fina do corpo, quando era a mais fina então, doía nheim.
Depois ela adquiriu uma enceradeira, uma modernidade, três escovas, estávamos motorizados pensei, mas não rolou, o peso era demais para o motor e flopava, mas já aliviou bem para ela.
A vida estava começando a ficar mais fácil,
já tínhamos saci para acender fogão à gás, ebolidor com resistência, liquidificador, batedeira e andavam falando em aspirador de pó e até máquina de lavar, já era possível fazer suspiro sem ter que usar dois garfos para bater as claras em neve, muita novidade boa.
Ali a rainha do lar não era fraca, depois de cumprir as tarefas domésticas, sentava na máquina de costuras para contribuir na arrecadação, costureira de mão cheia, era o seu ofício, muito procurada para atender a demanda de roupas para festas e bailes, que quase na totalidade eram produzidas artesanalmente.
Esta atividade laboriosa de minha mãe contrariava meu pai, que defendia garantir sozinho a responsabilidade do sustento da família, mas ela dava seus pulos e vivia cheia de encomendas, o que me proporcionava uma outra diversão, me acomodava no pedal para galopar no galeio do vai e vem da operação de costura, mas teve os dias contados, mesmo porque pelas cabeçadas percebi que estava crescendo e logo não ia dar mais, mas o que houve é que minha mãe foi agraciada pela leva de novidades das inovações que vinham surgindo e conseguiu comprar um motorzinho para a máquina acabando com mais uma chinfra de nosso entretenimento, mas foi bem merecido.
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JVivanJr