Anos de Chumbo – Prestes e a longa jornada da democracia

João Teixeira*
A passagem dos 125 anos de nascimento de Luiz Carlos Prestes (3 de janeiro de 1898, em Porto Alegre, RS), engenheiro militar e líder comunista, um dos políticos mais influentes do Brasil no século 20, transcorre numa etapa crucial de nossa democracia.
Prestes, Basbaum, Grabois, Amazonas, Pomar Marighella, Câmara Ferreira, Lamarca, entre outros ícones revolucionários, estão inscritos no imaginário de gerações e inspiram a arte e a cultura do Brasil.
A heráldica figura de Prestes despontou no cenário político há um século, em 1922, marco do Brasil moderno.
A Semana de Arte Moderna; a Revolta dos 18 do Forte; a Fundação do Partido Comunista Brasileiro (PCB); o Congresso do Progresso Feminino; e o lançamento do rádio ocorreram em 1922.
A rebelião tenentista foi a origem da Coluna Prestes, 1500 fardados que durante 2 anos e 3 meses percorreu 25 mil km através de 13 estados , invicta, jamais foi derrotada em sua guerrilha de movimento, embora tenha combatido forças muitas vezes superiores em homens armados e apoio logístico.
No governo de Artur Bernardes, a Coluna lutava contra as oligarquias rurais, a corrupção política, o analfabetismo e a miséria das massas e o voto de cabresto, constituindo -se no maior movimento do Brasil em busca de si mesmo.
A Coluna Prestes foi um movimento imortal do Brasil numa etapa transformadora.
Prestes foi prisioneiro do Estado Novo (1937) do ditador Getúlio Vargas; anistiado em 1945; secretário-geral do PCB de 1943 a 1980, o pensamento hegemônico das esquerdas no Brasil na primeira metade do século passado.
O PCB apoiou Vargas em 1950 e Prestes exilou-se na URSS ao ter os direitos políticos cassados pelo regime militar (1964/85).
Assistiu á abertura econômica de Mikahil Gorbatchev, em 1986, e a dissolução do império soviético com a queda do Muro de Berlim, em 1989.
“Eu não sei o que vai acontece. Mas é lamentável que tudo isso tenha acontecido desta maneira” – declarou o Cavaleiro da Esperança.
“Sua missão foi resgatar a autoestima do povo brasileiro” – assim definiu Prestes seu médico particular, o Dr. Tufic Mattar.
“Seu único defeito foi ser comunista” – observou.
Prestes foi reverenciado na música (Taiguara); no cinema, em O País dos Tenentes, de João Batista de Andrade, em Kananga do Japão e Olga.
Em 1998, no centenário de seu nascimento, a Escola de Samba Acadêmicos do Grande Rio o homenageou com o samba-enredo Cavaleiro da Esperança.
Em 1997, Toni Venturi produziu o documentário O Velho – A História de Luiz Carlos Prestes.
A banda rock Os Subversivos dedicou-lhe uma de suas músicas.
O Prêmio Nobel Pablo Neruda, na poesia, denominou-lhe de “claro capitão” e também em Confesso que Vivi.
Jorge Amado e sua filha, Anita Leocádia Prestes, além de William Waack (Camaradas, 1983, Cia. das Letras) e Daniel Aarão Reis e o historiador russo Boris Kaval inspiraram-se em Prestes na literatura.
Inúmeras praças e logradouros públicos levam seu nome.
Nós, modestamente, nesta crônica, cujo título foi inspirado no livro recém-lançado do jornalista Carlos Marchi (A Longa Jornada até a Democracia, da Fundação Astrojildo Pereira), obra seminal em homenagem aos 100 anos de fundação do PCB, não podíamos finalizá-lo sem registrar o sinal dos tempos.
O texto de Prestes é comovente nesta época crucial em que o oportunismo, as benesses e a corrupção dominam a vida pública brasileira.
“A Câmara Municipal desta capital resolveu, por iniciativa de um de seus membros, sem consulta prévia a mim mesmo, conceddr-me, a título de ‘homenagem histórica’, uma pensão vitalícia de dez salários mínimos a serem pagos pelos cofres municipais. Grato pessoalmente pela homenagem, não posso, no entanto, aceitá-la. E isto devido fundamentalmente ao momento que atravessamos em nosso País, quando a autoridade executiva do município vem demitindo um número crescente de funcionários, muitos deles chefes de famílias, pela simples razão, como explica o senhor prefeito, e é certamente do conhecimento dos senhores vereadores, de falta de recursos financeiros. Estou certo de que tanto os senhores vereadores, como o senhor prefeito, Dr. Saturnino Braga, compreenderão as razões morais deste meu gesto.
Rio de Janeiro, 14 de junho de 1987.
Luiz Carlos Prestes”.
Os velhos comunistas morriam pobres.
Palavras-chave: Luiz Carlos Prestes; Anos de chumbo; O Cavaleiro da Esperança.
*João Teixeira, jornalista e escritor, integra o Conselho Editorial do Jornal Contratempo.

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