“Antes da Televisão e dos Grandes Eventos” – Crônica de Jair Vivan Jr.

As enormes faixas de pano furadas para vazar o vento, grafadas com enormes letras em preto e vermelho, de poste a poste no alto atravessando a avenida em pontos estratégicos, anunciavam algum grande acontecimento na cidade.

Dependendo da monta da importância do evento ainda utilizava-se do serviço do carro com auto falantes, panfletagem com folhetos normalmente de papel jornal, impressos com tinta preta que soltava fácil nas mãos, além de destaques no jornal e na rádio local.

Naquele fim de tarde todos se dirigiram à rua de baixo da praça central para ver o Euclides Pinheiro com suas derrapagens fantásticas e manobras certeiras, encerrando o show desfilando em pé na janela de seu Sinca Chambord empinado lateralmente, rodando em  apenas duas rodas, simplesmente incrível, servia de comentários por muito tempo, além da playboyzada que tentava imitar, na maioria das vezes causando acidentes.

 

Até que acontecesse uma nova programação para mudar o assunto, desta vez não se falava em outra coisa que não fosse o show dos Aqualoucos no Clube Atlético Ourinhense, que não bastasse às perfeitas estripulias no trampolim, teve seu ponto máximo quando uma pessoa exaltada na plateia começou a tumultuar dirigindo criticas em tom agressivo, dizendo que era marmelada, que aquilo era fácil de fazer, até que um dos artistas se mostrou irritado, parou o espetáculo e disse para que ele subisse lá e fizesse melhor se fosse capaz, o final, adivinhem…, era um deles, o melhor dos acrobatas e o show continuou, fantástico.

E continuava, sempre tinha uma nova atração na cidade como o enorme ônibus Zeppelin expondo curiosidades e aberrações como fetos monstruosos e animais com anomalias embalsamados, com duas cabeças, pernas a mais e coisas assim, motivo de tirar o sono de muita criança, era muito impressionante e levavam semanas para superarmos o medo.

Impressionante também era a “mulher aranha” que vinha exposta nos fundos de um ônibus, onde a cabeça de uma bonita mulher ficava fixada em uma grande teia com um corpo de aranha, que com um jogo de luzes e espelhos talvez, escondia seu corpo, realmente muito impressionante, ficávamos tentando desvendar o mistério para amenizar a paúra causada pela estória de maldição que fez ela se transformar, narrada com uma voz tétrica durante a visita.

 

O museu de cera com as perfeitas e impressionantes estátuas de Lampião e Maria Bonita em tamanho natural expostas logo na entrada, lá dentro, outras personalidades com admiráveis semelhanças, muito parecidas com pessoas reais.

Corridas de bicicleta, normalmente com patrocínio da Caloi, vinham ciclistas de diversas localidades e às vezes até de países vizinhos, os prêmios variavam entre uma bicicleta de marchas para o primeiro e uma mortadela para o último colocado.

E a vida seguia com jogos de basquete no Monstrinho, football nos campos do Operário ou do Ourinhense, os circos, os parques de diversões que incluíam atrações como a mulher gorila, faquir, equilibrista de corda bamba e outras mais, até os ciganos quando acampavam na cidade viravam atração  quando então aproveitávamos para ler a mão e conferir a sorte antes que fossem expulsos.

Ainda não contávamos com as feiras agropecuárias e grandes eventos com shows em locais públicos, as coisas estavam apenas começando a mudar, pois recebíamos uma novidade revolucionária para as nossas diversões e entretenimentos, a televisão e em certo momento achei que era bem mais divertido antes.

JVivanJr

APOIE

Seu apoio é importante para o Jornal Contratempo.

Formas de apoio:
Via Apoia-se: https://apoia.se/jornalcontratempo_apoio
Via Pix: pix@contratempo.info