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Artigo: Comunidades quilombolas do Vale do Ribeira por Nilto Tatto

Artigo: Comunidades quilombolas do Vale do Ribeira por Nilto Tatto

Por Nilto TattoTalvez muita gente não saiba que em São Paulo existem dezenas de comunidades remanescentes de quilombos, boa parte delas no Vale do Ribeira, região sul do Estado, onde mantêm vivas práticas e saberes ancestrais, patrimônios imateriais do nosso povo. As formas de ser e existir destas comunidades, além da riqueza cultural, também nos trazem outras lições, em especial de convívio harmonioso com o meio-ambiente.

Tenho muito orgulho de ter coordenado, no final dos anos 2000, o programa Vale do Ribeira, do Instituto Socioambiental, período em que foi gestada e implementada a Feira de Troca de Mudas e Sementes Tradicionais das Comunidades Quilombolas da região. Em sua 14a edição, das quais estive presente em quase todas (se não todas), a Feira reúne anualmente no município de Eldorado, diversas comunidades do Vale para seminários; oficinas; troca e comercialização de sementes e mudas; apresentações culturais; culinária quilombola; venda de produtos tradicionais e atividades para crianças.

Quem conhece os desafios para criar um banco de sementes criolas, ou para sistematizar as práticas e saberes da lida com a terra, além é claro da organização de um evento plural como esse, em uma região com quase nenhuma infraestrutura de transporte, pode imaginar o tamanho desta conquista. Mas o desafio maior para os homens e mulheres quilombolas do Vale, está no seu dia a dia, para viabilizar sua roça; ter transporte; comercializar seus produtos; ter acesso a água potável, energia elétrica, saúde, educação e todos os direitos e serviços essenciais.

Estas comunidades quilombolas, estão inseridas em uma das regiões com maior preservação de Mata Atlântica original, sendo o maior corredor contínuo deste bioma, graças em grande parte a seu próprio modo de vida. Se estes povos são os grandes protagonistas da conservação, cabe a nós sermos ainda mais parceiros das lutas quilombolas, reconhecer e fortalecer sua presença no território, as histórias e trajetórias, suas manifestações religiosas, artísticas e culturais, mas acima de tudo, abrir o ouvido e escutar o que eles nos tem a dizer. Quem tal começar visitando a Feira de Troca de Mudas e Sementes Tradicionais, que já está chegando?

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