Campanha da Fraternidade exorta cristãos a refletirem sobre o combate à fome na Quaresma

 

A  CNBB – Confederação Nacional dos Bispos do Brasil lançou a Campanha da Fraternidade 2023 no mês passado com o tema Fraternidade e Fome . É a terceira vez, em quase 60 anos de campanha, que o tema da insegurança alimentar é abordada pelo movimento católico. Hoje, as famílias brasileiras vivem o agravamento das desigualdades, preços altos e falta de direitos básicos.

O tema foi escolhido pela CNBB com o objetivo de impulsionar as reflexões sobre a volta do Brasil ao mapa da fome e os números da insegurança alimentar. Quase 60% da população convive diariamente com algum grau de insegurança alimentar e mais de 33 milhões de pessoas passam fome.

Como guia para o trabalho, a confederação escolheu a tradicional e conhecida passagem bíblica “Dê-lhe você mesmo algo para comer!” (Mateus 14,16). A ideia é chamar os fiéis e as paróquias à ação e minimizar o impacto da fome entre as famílias vulneráveis ​​ao problema.

Os 40 dias entre o Carnaval e a Semana Santa são simbólicos para o cristianismo. Considerado um momento de recolhimento e preparação para a Paixão de Cristo, costuma ser acompanhado de jejuns, orações e caridade.

O jornal  Contratempo conversou com Eduardo Vieira dos Santos, Bispo da Diocese de Ourinhos desde maio de 2021 na Catedral do Senhor Bom Jesus. A pedido da reportagem o bispo falou sobre a importância da Campanha da Fraternidade deste ano, relembrando campanhas passadas em que o tema da fome levou os cristão brasileiros  a tratar da realidade da fome no país.

Para o religioso todos os anos, durante a quaresma, os fieis são chamados por Deus a percorrer um caminho de verdadeira e sincera conversão, pode ser um  movimento pessoal interior, mas também uma atitude social.  Confira a mensagem de Dom Eduardo Vieira dos Santos na entrevista para Jornal Contratempo.

Quaresma e conversão

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil desde há 60 anos vem trabalhando a Campanha da Fraternidade desde 1964, essa é a septuagésima campanha e também a terceira vez que trata a realidade da fome, a primeira vez foi em 1975 a segunda vez em 198.  E agora em 2023 é de fato uma luta que vem pela frente na quaresma, temos esse tempo favorável para a conversão de modo particular dos cristãos.

Contudo uma conversão é um movimento inicialmente pessoal e interior, ela pode ser de fato uma atitude individual, mas também pode ser uma atitude é comunitária e uma atitude social, falo do exercício de piedade

sobre a oração, o jejum sobre a caridade. Assim buscar nos levar-mos a refletir nos exercícios quaresmais sob um ponto que é a questão social e a realidade da fome, um instinto natural e poderoso de sobrevivência de todo ser vivo.

 Enfrentar a desigualdade com sinceridade

E dessa forma dessa forma todos nós nos comprometemos assim diante dessa realidade e a buscar um meio de sair dessa situação, a fome de fato não é uma condição plausível para ninguém nem para o ser humano nem para os animais.

O papa Francisco durante as comemorações dos 75 anos das organizações das Nações Unidas para a para a alimentação e agricultura, disse que a humanidade passa fome e essa fome é uma tragédia e também uma vergonha para toda a sociedade.  Em grande parte ela é provocada pela má distribuição do dos alimentos dos frutos da terra e tem crescido e as consequências são dramáticas, a  fome leva o planeta a decadência. O papa fala com todas as palavras que a fome é repudiada por todos mas também não é enfrentada por todos como seriedade.

Atitudes e comportamento

Portanto a igreja é a primeira instituição é repudiar a fome e a buscar meios para enfrentar essa triste realidade, no Brasil a igreja é a única instituição no mundo que tem durante a quaresma esse compromisso social de levar os seus fiéis a refletir como compromisso de fato. Esse período da quaresma é  um caminho para que todos tomem consciência e busquem nesse período a conversão das nossas atitudes e comportamento.

Então vê-se que nos falta a partilha a distribuição, porque o Brasil produz muito alimento e todos os anos batemos recorde de produção soja,  milho, trigo cana-de-açúcar, carne e tantos outros alimentos. Então o que nos falta é nos convertermos ao evangelho, olhar com sinceridade a necessidade de tantos que passam fome e repartir com aqueles que que não tem ou pouco tem.

Muitos estão a viver com fome a ponto de perder a própria dignidade arrastar-se pelas ruas revirar o lixo e morrer de fome, não é algo natural ou seja desejado por Deus.  No Brasil a fome não é simplesmente um problema ocasional é um fenômeno social e coletivo estrutural produzido e reproduzido no curso ordinário da sociedade que normatiza e naturaliza a desigualdade.

Naturalização da miséria

Uma sociedade que normatiza e naturaliza a desigualdade traça um projeto de manutenção da miséria em vista de perpetuação do poder. A questão foi radicalizada pela pandemia, sobretudo nos últimos três anos. Desde março de 2020 nós temos um Brasil com milhares de pessoas passando fome todos os dias,  então basta levantarmos os olhos para vermos essa multidão de brasileiros e tudo começa com um ato de ver.  É preciso fazer como Jesus levantar os olhos e ver a realidade da fome ao nosso redor. Então na Campanha da Fraternidade somos convidados a refletirmos sobre a realidade .

Jesus disse, “Dai-lhe vós mesmos de comer” então eu convido a todos da nossa diocese a tomar em suas  mãos o material da Campanha da Fraternidade a refletirmos sobre essa realidade que assola uma grande parte da nossa população em todo o Brasil, aliás em todo mundo mas de modo particular para nossa diocese de Ourinhos que todos tenhamos o coração aberto para a esmola. Que Deus nos abençoe a todos e nos ajude a vivermos o que Jesus nos ensina.

 

APOIE

Seu apoio é importante para o Jornal Contratempo.

Formas de apoio:
Via Apoia-se: https://apoia.se/jornalcontratempo_apoio
Via Pix: pix@contratempo.info