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China expande sua capacidade de transporte aéreo estratégico: preparativos para expandir sua esfera de influência a níveis globais.

China expande sua capacidade de transporte aéreo estratégico: preparativos para expandir sua esfera de influência a níveis globais.

Traduzido do inglês por Filipe Luiz dos Santos Rosa.

Imagens e legendas disponíveis na internet e adicionadas pelo tradutor.

Embora as aeronaves de combate como o caça furtivo J-31 e os caças de aviação embarcada  J-15 sejam os destaques das manchetes, a China teve conquistas significativas no domínio do transporte militar, patrulha marítima de longo alcance e aviação embarcada de Alerta Aéreo Antecipado e Controle* (sigla em inglês AEW & C) no ano passado. Estreando em 2016, o transporte militar Y-20 é agora o maior desses aviões em produção no mundo. Aproximadamente do mesmo tamanho do Boeing C-17 Globemaster, o Y-20 é um componente crucial na crescente capacidade da China de expandir suas capacidades estratégicas de projeção de força. Depois de inicialmente anunciar a necessidade de 400 dessas aeronaves, a Aviation Industry Corporation da China (AVIC) declarou mais tarde que esse número foi revisado para 1000.

Acima: J-31, caça furtivo médio chinês
Abaixo: J-15, caça naval chinês, baseado no Su-33 Russo.

A AVIC iniciou a produção do hidroavião AG600 em julho de 2016. O AG600 é um grande barco voador, capaz de pousar e decolar na água ou em pistas de pouso terrestres, pois possui também um trem de pouso convencional retrátil. É semelhante ao tamanho de um avião comercial 737 ou Airbus 320 sendo o maior hidroavião atualmente em produção em todo o mundo. A função declarada da aeronave é busca e resgate, combate a incêndios e auxílio humanitário; no entanto, também pode estar predestinado a complementar o Harbin SH-5 em patrulhas de combate anti-submarino de longa distância (sigla em inglês ASW) e reconhecimento aéreo.

AG600: hidroavião (anfíbio) de fabricação chinesa.

Quando o porta-aviões CV-16 Liaoning foi comissionado em serviço na Marinha do ELP (sigla para Exército de Libertação Popular) em 2012, sua dependência de helicópteros Z-18J de alerta Aéreo Antecipado e Controle* (AEW&C) foi imediatamente identificada como uma fraqueza. Os sistemas de lançamento STOBAR** por rampa do CV-16 Liaoning e do segundo porta-aviões chinês recém lançado CV-17, não são capazes de suportar a operação de uma aeronave AEW&C grande, de asa fixa. As operações de CATOBAR**, que utilizam vapor ou catapulta eletromagnética são necessárias para ajudar tais aeronaves grandes e pesadas a decolarem dos porta-aviões. Outras evidências de que a China planeja construir um terceiro porta-aviões que permita operações CATOBAR foi a descoberta do que parece ser uma aeronave AEW&C de asa fixa, semelhante em aparência ao Northrop Grumman E-2 ‘Hawkeye’ da Marinha dos EUA, na instalação de teste de Wuhan. Se esta aeronave é um protótipo ou uma maquete ainda não é conhecido.

CV-16 Liaoning, destaque para a rampa de decolagens STOBAR** usada pelos caças J-15.

Convés de voo do CV-16 Liaoning dois j-31 e helicóptero Z-18J de alerta Aéreo Antecipado e Controle*, estes helicópteros são menos eficientes que aviões maiores dedicados à mesma tarefa.

Northrop Grumman E-2 ‘Hawkeye’ da Marinha dos EUA com seu gigantesco radar dedicado à função de Alerta Aéreo Antecipado e Controle (AEW&C).

A produção em larga escala do Y-20 é uma conquista significativa da indústria de aviação estatal da China, e prevê o crescente desejo da China por uma robusta capacidade de transporte aéreo estratégico. Não só o Y-20 pode transportar uma grande quantidade de carga ou tropas por grandes distâncias, mas também pode transportar tanques de guerra e outros veículos blindados. Com uma carga útil máxima de 66 toneladas métricas, o Y-20 pode transportar os modernos tanques modelos tipo- 99A ou tipo-96 do Exército de Libertação Popular (ELP) e quaisquer veículos de combate de infantaria (IFVs) e veículo blindado de transporte de tropas (APCs) atualmente em serviço. A aeronave tem um alcance máximo superior a 10 000 km e pode transportar uma carga útil reduzida de 36 toneladas a uma distância de 7,8 mil quilômetros. O alcance com a carga útil máxima de 66 toneladas  é de aproximadamente 4.500 km.

Muito semelhante em design, dimensões e aparência ao Boeing C-17 Globemaster e Ilyushin IL-76, o Y-20 foi construído para preencher os papéis do transporte aéreo estratégico, do transporte de pára-quedistas e das missões de lançamento de cargas pesadas em vôo. É um pouco maior do que o IL-76, porém menor que um C-17. Com o C-17 já não sendo produzido pela Boeing desde 2015, o Y-20 é agora o maior avião de transporte militar atualmente em produção.

Avião de transporte Xi’an Y-20 em missão de lançamento de cargas em vôo.

Como a China faz um esforço combinado para garantir seus interesses estratégicos, tanto próximo a suas fronteiras quanto a distâncias tão amplas como o Chifre da África, uma capacidade estratégica viável de transporte aéreo é considerada essencial. Com uma capacidade de decolagem curta declarada de 700 metros, o Y-20 pode prover tropas e suprimentos em qualquer um dos postos nas ilhas chinesas no Mar da China Meridional que tenham uma pista de pouso, como nas disputadas Ilhas Spratly e Ilhas Paracel. Quaisquer operações militares em resposta a incursões territoriais por parte de outros países reivindicando os territórios em disputa na região que exijam invasão e ocupação de terras, dependerão muito de suporte estratégico e de transporte aéreo adequado. Após a diminuição significativa das tensões entre a China e as Filipinas com a nova administração de Rodrigo Duterte e com as relações cordiais com a Malásia e Brunei, a probabilidade de tal cenário se reduziu consideravelmente desde o verão passado.

A aeronave também pode ajudar o Exército de Libertação Popular a manter a nova base militar em Doraleh, no Djibouti. A nova base militar está localizada a apenas 13 km de Camp Lemonnier, a maior instalação militar dos EUA no continente africano, e servirá como uma base logística capaz de apoiar os interesses marítimos chineses no Oceano Índico, no Mediterrâneo e no Golfo Pérsico. As Forças de Autodefesa japonesas também operam um pequeno centro de suporte logístico adjacente ao Camp Lemonnier, e aparentemente estará expandindo esta instalação em resposta ao projeto chinês.

A questão de Taiwan, e qualquer tentativa futura de retomá-la militarmente, exigiria uma enorme capacidade anfíbia e aérea. A China no momento não possui nenhum, mas como a Southfront documentou recentemente, o Exército de Libertação Popular expandiu e modernizou suas capacidades de guerra anfíbia. Qualquer invasão a Taiwan exigiria não só uma armada anfíbia considerável, mas um esforço estratégico substancial para o transporte aéreo. A aquisição de até mil Y-20s avança um longo caminho na direção da construção do núcleo de tal força. O desenvolvimento da aeronave marítima AG600 é um estudo de caso que confirma claramente o crescimento da indústria de aviação da China. Desenvolvido pela AVIC como uma aeronave anfíbia destinada a servir uma série de missões civis e militares, embora a AVIC esteja minimizando qualquer papel militar para o avião, foi projetado e construído em cerca de dois anos. O Harbin SH-5, que o AG600 substituirá, exigiu quase 15 anos do incipiente setor de aviação chinês para projetar e produzir, resultando em apenas um lote de 6 aeronaves. A AVIC recebeu pedidos de 17 aeronaves até agora, todos para o mercado interno. Embora a aeronave possa acomodar 50 passageiros, nenhuma companhia comercial expressou interesse no projeto até agora. É mais provável que o AG600 seja utilizado pela Marinha do ELP como uma aeronave de patrulha marítima de longo alcance.

Com muito em comum com o hidroavião ShinMaywa US-2 utilizado pelas forças japonesas de Autodefesa Marítima (JMSDF), o AG600 ocupará um papel semelhante na Marinha do ELP. O US-2 atualmente opera como uma aeronave de resgate de ar-mar (SAR) e de patrulha marítima/vigilância. Também é bastante provável que o AG600 seja futuramente modificado em uma aeronave de patrulhamento anti-submarino (ASW), como o antecessor Harbin SH-5. A medida que a China reforça a sua posição no Mar da China Meridional e continua a desenvolver sua infra-estrutura de defesa em várias ilhas artificiais, uma aeronave SAR de longo alcance será um grande recurso no apoio das patrulhas aéreas da Marinha e da Força Aérea operadas a partir dessas ilhas. O AG-600 está equipado com trem de pouso retrátil e pode operar a partir de um aeródromo, bem como da água. O alcance máximo reportado do AG600 é de aproximadamente 4.500 km.

Após décadas de investimento em seu setor de aviação nacional, com origens humildes e aprendendo tanto quanto possível do design de aeronaves russas e norte-americanas, a China alcançou a habilidade de desenvolver uma capacidade estratégica de transporte aéreo estratégico. Embora ainda dependam em grande medida da produção de motores de aeronaves russas em suas aeronaves mais modernas, análogos chineses de muitos outros projetos russos definitivamente proporcionaram à indústria de aviação chinesa uma maior independência. A maturidade desta indústria na última década impressionou seus pares na Rússia e em vários países ocidentais.

Os recursos e o financiamento alocados para adquirir transporte aéreo estratégico no nível expresso em relatórios oficiais de imprensa do governo e reportados pela mídia estatal na China, todos comunicam um desejo óbvio de ampliar a capacidade de projeção de poder e responder estrategicamente aos desafios aos interesses nacionais chineses em um escala global. A China está se libertando rapidamente do seu status de poder regional e continuará a ganhar maior influência de nível global nas esferas econômicas, políticas e militares.

A China pode comunicar suas intenções pacíficas por via diplomática; no entanto, está enviando uma mensagem bastante diferente em termos reais, pois continua a desenvolver e fortalecer sua posição no Mar da China Meridional e no Chifre da África. Está sabiamente procurando proteger as principais vias comerciais que são a sua própria força vital, o benefício econômico deste comércio enriqueceu a nação e ajudou a tirá-la de uma era de estagnação e submissão a interesses externos. A China está novamente subindo para o nível de influência e importância global que costumava desfrutar durante a maioria esmagadora de seus mais de 5.000 anos de história. É crucial notar que, na grande maioria de sua história, a China adotou uma postura militar estrategicamente defensiva, muito raramente envolvida em campanhas militares de expansão contra seus vizinhos. Ao consolidar ainda mais a sua posição no Mar da China Meridional, a China está ocupando sabiamente a “posição central” como parte de uma estratégia defensiva em uma escala superior para proteger as vias comerciais vitais e os recursos que irão garantir sua prosperidade contínua.

Uma coisa é clara, a China está desenvolvendo os meios militares para defender sua posição como potência mundial e está enviando uma mensagem clara aos seus pares: não irá mais subordinar seus interesses nacionais a forças estrangeiras, mesmo que elas tenham status de superpotência global. Uma força viável de porta-aviões e uma grande capacidade estratégica de transporte aéreo enviam uma mensagem clara aos Estados Unidos e ao Japão de que a China está determinada e é capaz de garantir e defender seus interesses nacionais em uma escala global. Esta postura cada vez mais assertiva não precisa levar a conflitos militares; no entanto, um E.U.A. ainda mais assertivo já se manifestou contra a possibilidade de renunciar a qualquer controle sobre o que vê como sua exclusiva esfera de influência global.

 

* Alerta Aéreo Antecipado e Controle: É um sistema de radares acoplados a uma aeronave com o objetivo de detectar outras, utilizado tanto para operações defensivas como ofensivas.

** STOBAR e CATOBAR são Sistemas utilizados para o lançamento e recuperação de aeronaves a partir do convés de um porta-aviões, sendo:
CATOBAR- sigla para Catapult Assisted Take-Off But Arrested Recovery (Decolagem Assistida por Catapulta e Recuperação por Arresto) onde lança-se o avião utilizando uma catapulta de decolagem e pousa-se sobre a embarcação com o uso de cabos de arresto.
STOBAR- a sigla para Short Take-Off But Arrested Recovery (Decolagem Curta e Recuperação por Arresto), onde aeronaves são lançadas por força própria através de uma rampa de decolagem mas também requerem cabos de arresto para que pousem na embarcação.

Escrito originalmente por SouthFront.org:
https://southfront.org/china-expands-its-strategic-airlift-capability-prepares-to-expand-its-sphere-of-influence/

Filipe Luiz dos Santos Rosa é graduado em geografia e possui especialização em história militar.

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