Coluna: Luiz Bosco — Crônica das férias das redes sociais
Saí do Facebook e do Instagram no início de janeiro, para me dedicar a um projeto pessoal. No fundo, o mais importante era o desejo de revitalizar minha mente, arejar minhas relações e me fortalecer para o combate necessário que travamos nessas mesmas redes.
Eu vinha percebendo que as redes me entristeciam. Sentia-me inútil diante do mar de informações desencontradas disseminadas de forma sistemática e parcialmente organizada. Até pouco tempo atrás, a grande mídia era uma das principais aliadas na construção da hegemonia de pensamento, de uma ideologia acachapante que passa por cima do bom senso e da ciência.
Tudo tornou-se tão volátil e frívolo que não é difícil encontrar quem sinta saudades da onipresença da grande mídia. As redes sociais se tornaram a usina do pensamento e das relações sociais corriqueiras.
Mesmo que eu nunca tenha me envolvido em polêmicas mais renhidas, constatar essa degradação das comunicações, das relações e da veracidade das informações vinha me fazendo mal.
Não consigo rir das pataquadas do novo governo. Tenho pena de nós, que sofremos com essa mescla de acacianismo, fanatismo e orgulho da ignorância, triste característica secular de nós, brasileiros.
Já não me serve, tampouco, polêmicas inúteis, inclusive dentro do campo progressista. Luta identitária é tão importante quanto luta de classes, e vice-versa. A redundância dessa frase é necessária, frente a reiterada disputa por visibilidade de argumentos muitas vezes idiossincráticos, outras vezes emitidos na pressa ou baseados numa valentia pouco construtiva.
Dei-me conta de que acompanhava linhas discursivas inúteis, quando não seriamente desgastantes.
Não tenho nenhuma figura a quem eu abomine em minhas redes sociais. A questão, aqui, tem sutilezas importantes. Muitas pessoas, incluindo algumas a quem eu não conheci pessoalmente, sigo para me manter informado, para participar de bons debates e para dar boas risadas. Contudo, percebi a criação de certo entulho cognitivo e emocional no meu dia a dia: pessoas a quem eu conheço pouco, ou nada,
mas que eu seguia nas redes sociais.
Percebo que acompanhava a vida de pessoas a quem estimo, mas não são tão presentes em minha vida, a ponto de eu me interessar pelo chope que tomaram sábado. Conheci mais dessas pessoas do que a meu vizinho, ou ao meu colega de trabalho, que eu vejo a semana inteira.
Esse desfilar de intimidades também fisgava meus momentos de fragilidade e alimentava afetos tristes, como comparações invejosas ou derrotistas. Via-me precisando responder a falas as quais simplesmente não há porquê eu responder.
Senti-me mais livre para pensar, menos entediado e menos preocupado. Percebo que, em alguns momentos, eu ficava alheio às conversas ao vivo, pois não estava inteirado de notícias do campo progressista, que tem se esforçado por usar as redes sociais (visto não terem espaço na grande mídia); ficar por fora de memes é o de menos. Mas ficou claro o quanto as redes são parte da vida da maioria das pessoas e eu fiquei um pouco estrangeiro nas conversas por não acompanhá-las.
Já havia abordado ano passado, em eventos dos quais participei, como me parece que as redes podem ser mobilizadas para entristecer ou excitar, enfraquecer ou fortalecer, grupos sociais em momentos-chave. O derramamento de notícias falsas nos finais de semana dos turnos das eleições demonstra bem isso.
Assim, volto às redes para continuar a utilizá-las como instrumento de divulgação, bom debate e diálogo. Recomendo a todos férias regulares delas. Um período de vinte ou trinta dias sem acessá-las.
Diminuir o ritmo com a qual as acompanhamos. Desinstalar o aplicativo do celular. A não ser que você tenha assumido fortemente o papel de ativista digital, não precisamos o tempo todo de você por aqui, na Internet.
Precisamos de mais gente no cara a cara, na rua, nas instituições, dando a mão para quem sofre.