Coluna: Luiz Bosco — Democracia é mais do que o direito de votar

A democracia não é só o direito de votar em representantes. É poder pensar no bem da coletividade e se manifestar publicamente sem receio. Para isso, precisamos que seja garantida a liberdade e a oportunidade de todas e todos terem acesso às ferramentas de conhecimento e comunicação, à educação e ao trabalho.

Que toda pessoa esteja assegurada de que seus filhos poderão estudar, mesmo com o dinheiro curto ou vivendo na periferia. Que toda família saiba que pode contar com a saúde pública para vacinar as crianças, para prevenir doenças, para socorrer nas emergências, para auxiliar os idosos, as gestantes, os doentes. Queremos que o adolescente tenha oportunidade de estudar no ensino médio ou técnico, sem medo de ficar desempregado assim que se formar.

Oportunidade essa que também seja dada ao jovem, ao sair da faculdade. Nós queremos uma democracia que assegure a velhice de todos nós, com aposentadoria digna e acesso a cultura para a terceira idade.

Queremos que todos nós, trabalhadoras e trabalhadores, tenhamos a certeza de que nosso trabalho não irá desaparecer da noite para o dia. Que possamos ser remunerados justamente e que nossos direitos sejam restabelecidos.

A democracia verdadeira é aquela em que todas e todos temos oportunidade de participar da vida coletiva igualmente, auxiliando os menos favorecidos pela economia, pelas questões históricas ou pelas diferenças sociais. Na democracia, todos somos iguais, mas precisamos corrigir os erros cometidos ao longo de séculos.

Que a mulher seja reconhecida em sua integridade, não como posse, não como menor que o homem, mas ao seu lado, recebendo o mesmo salário para a mesma função, com direito a que se respeite a gestação e o domínio sobre seu corpo, seu desejo e sua tranquilidade ao andar na rua.

Que negras e negros não tenham mais dificuldades para conseguir emprego, para prosseguir nos estudos e não tenham medo de ninguém, nem da polícia.

Homossexuais e transexuais não devem ter medo de estudar, de procurar auxílio médico, de fazer documentos, de procurar trabalho digno, de andar na rua, nem de caminhar de mãos dadas com quem ama.

A democracia verdadeira é aquela que reconhece o crime histórico contra os povos indígenas e lhes dá a oportunidade de vida digna, com suas culturas, com sua diversidade de idiomas e seus deuses. Que todos os deuses sejam respeitados, incluindo os do candomblé e da umbanda. Que se respeite aqueles e aquelas que não têm um deus, também.

Haja espaço para todas e para todos: que nenhuma limitação física impeça a participação na democracia plena.

A democracia que queremos é aquela que contemple as diferenças e as necessidades que cada diferença possui.

“Somos iguais todos os seres. Não mais deveres sem direitos, não mais direitos sem deveres!”

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