Coluna Os Antípodas: Como ser mais sustentável? – O ciclo de nutrientes humano.
Alan Mortean
O ciclo de nutrientes humano.
Uma coisa seja dita: neste momento, nossa humanidade não é sustentável, e assim vai caminhando para a beira do precipício. Experimente pesquisar no Google por “pegada ecológica”, e verá como estamos consumindo os recursos do planeta numa velocidade superior à velocidade de geração destes recursos pela própria Terra.
Como podemos esperar um futuro sustentável se não educamos para a sustentabilidade? Se nem ao menos falamos sobre esse tema?
Fala-se pouco sobre sustentabilidade, e faz-se menos ainda. Normalmente, ações de sustentabilidade ficam restritas a pequenos gestos isolados como comprar um produto reciclável, comprar produto com embalagem reciclada, utilizar folhas recicladas, fechar a torneira enquanto se escova os dentes, etc.
Mas a sustentabilidade, que é a capacidade de satisfazer nossas necessidades sem prejudicar a capacidade das gerações futuras de satisfazer suas próprias necessidades, é muito mais abrangente que isso.
Eu diria que a sustentabilidade é um modo de viver, e que só podemos ser mais sustentáveis se observarmos e copiarmos a natureza (que tem bilhões de anos de experiência), especialista em criar abundância. Experimente abandonar um terreno rural onde foram arrancadas todas as plantas, por exemplo, como se ele estivesse sendo preparado para o plantio. Mas não plante nele, só deixe ele lá, e observe. A natureza, sozinha, através de um processo chamado de sucessão natural irá recuperar essa área, reflorestando-a e tornando-a cada vez mais complexa com o passar dos anos. Depois de algumas décadas, poderia ter-se nessa área uma pequena floresta.
Dá pra falar em sustentabilidade neste momento de nossa humanidade em que somos mais urbanos e mais desconectados com o meio ambiente do que nunca?
Felizmente há muita gente pensando e agindo em prol da sustentabilidade, como é o caso dos permacultores, ou dos agricultores sintrópicos, e muitos outros profissionais e não profissionais, pois ela não depende de títulos.
De minha parte, como engenheiro ambiental, proponho uma reflexão sobre os ciclos de nutrientes naturais, através do olhar do saneamento sustentável.
Se pararmos para observar os ciclos naturais nos diversos ecossistemas terrestres (como a Mata Atlântica, no caso de Ourinhos-SP), uma das conclusões à qual podemos chegar é: o que é considerado ”lixo” para um ser, é alimento para outro. Por exemplo: a folha seca que cai da árvore é alimento para milhões de microrganismos que vivem no solo.
Assim, na natureza não há resíduos, e isso nos remete à famosa frase:
“Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma” – Antoine Lavoisier.
Se nos lembrarmos que nós, humanos, também somos animais e pertencemos a ecossistemas terrestres, temas como Plantio Orgânico, Alimentação Natural, Geração de Resíduos e Compostagem tornam-se temas complementares, pois o que é resíduo para nós, pode ser alimento para outros seres, cujo resíduo é adubo para plantas, que, por sua vez, nos servem de alimento… e o ciclo reinicia. A imagem a seguir (retirada do livro “The Humanure Handbook”) ilustra essa ideia:
Porém, atualmente, o que estamos fazendo, como humanidade, é: utilizar fertilizantes químicos, plantar, comer, excretar (mijar e cagar), e gerar poluição e desperdício, pois, aproximadamente 90% do esgoto produzido no planeta não recebe tratamento, segundo GTZ, órgão do governo alemão (no Brasil, os dados oficiais falam de uma taxa de tratamento de esgotos de aproximadamente 50%). Esse esgoto termina poluindo solos, lençol freático, lagoas, rios e mares. Esta ideia pode ser vista na imagem a seguir, também extraída do livro “The Humanure Handbook”:
Como fazer essa mudança e nos tornarmos mais sustentáveis? Nos próximos textos, falaremos sobre cada tópico do ciclo de nutrientes humano, para ver o que podemos fazer para alcançar uma maior sustentabilidade em nossas vidas.
Cuidado ao ler esta coluna, pois as informações aqui contidas não se encontram facilmente disponíveis e é quase desconhecida pelas pessoas. Quanto mais você lê, mais responsabilidade você terá, pois, como disse o tio Ben, tio do Homem-Aranha: “Grandes poderes trazem grandes responsabilidades”.
[Um detalhe: apesar de ter estudado numa universidade pública que possui bastante renome, só fui aprender sobre saneamento sustentável no México. Se os engenheiros ambientais não falam seriamente sobre sustentabilidade, quem falará?]