Crônica: “As Matas do Ouro Verde” Jair Vivan Jr.

De tudo que avistasse no longe dos olhos e até onde ouvisse o canto do galo, eram terras
daquela viúva que tinha ficado muito bem de vida, herdara propriedades e o legado do finado benfeitor, ostentava o orgulho de ter o nome daquele que fora seu marido, em uma importante escola, em um bairro e em uma grande avenida da cidade, tinha ficado só com os três filhos, dois frutos do relacionamento e um que já tinha, uma vez que os do primeiro casamento dele, tinham uma certa idade quando da morte da mãe e não necessitaram dos cuidados da madrasta.

Ainda tardava o progresso que futuramente viria a ocupar todo aquele espaço da cidade com moradias, alguns bares e vendas.

Terra que não era pasto e não tinha cultivo de nada, mas de grande importância para as plantas nativas que abundavam naquele solo fértil, destacava-se a capitão, flor de um avermelhado opaco que coloria o avistado do horizonte, misturando-se ao amarelo e rajado de verde dos tomatinhos do diabo com caules espinhudos e pequenas flores roxas, e o laranja forte dos melõezinhos de São Caetano trepados nas forquilheiras, pés de mamonas e arbustos, estourando, expondo as sementes vermelhas e exalando o cheiro característico daquelas matas. Capins: amargoso, pé de galinha, gordura, colchão, colonião, picão, carrapicho, guanxuma e muitos outros. Urtigas, esvoaçantes dentes-de-leão com florezinhas amarelas e esporádicos beldroegões com bolinhas coloridas, arnica, quebra pedra, losna, serralha, tudo que é mato bom e tiririca.

Buracos de: tatu, cobra cega e venenosa, besouro, preá, lagarto do grande e calango,
e de formigas. Murundu de cupins e de lava pés, era bom conhecer para não pisar errado e ter que sair pulando, no caso era melhor seguir o atalho já tão batido de ficar rachado quando seco, atravessando a quiçaça de fora a fora, até chegar na casa sinistra de uma provável ex caseira da fazenda produtora de café desativada, que era aquele lugar, a moradia sombria daquela que supunhamos ser uma bruxa, era cercada de árvores em toda adjacência dificultando a sua exposição, o que fazia aumentar o mistério, propondo nosso afastamento, confirmado pelos tiros de espingarda de sal disparados quando alguém furava o cerco, o nosso interesse naquele espaço era a extração de cipó e se aproximar da velha mangueira que abrigava o enorme casulo de marimbondo tatu, para o qual fizemos diversos planos de apedrejamento, porém nunca concluídos com sucesso.

De água tinham duas opções a Cachoeirinha do Corrego Chumbeadinha mais distante e a Mininha, pequeno lago com nasceste forrado de Guarus de pegar com peneira e de nadar pelado, quando as mulheres de uma vila próxima que lavavam roupas e quaravam alí mesmo na vegetação rasteira, fossem embora.

Ultrapassadas as barreiras supostas pelo som e visão, chegava-se aos limites geográficos da abandonada gleba, ao sul a linha ferrea cuja passagem dava acesso ao antigo bairro com chaminés de olarias, ao norte a parte já habitada e em expansão, a oeste tinha uma cerca de arame mas era para bicho, mais para defender do que para prender, tinha bicho de tanto porte, poedeiras, de leite, de corte, de carga, de canto, de guarda e de caça, também tinha de ataque, nocivos, venenosos, peçonhentos, rastejantes que aparentemente não serviam para nada, mas viviam em sua maioria da cerca para dentro da “fazenda baldia”, tinham algumas galinhas com pintinhos que arriscavam o pescoço ciscando fora de seus domínios, no descampado encascalhado com pedrinhas diversas, torrõezinhos e cacos de casco de caramujos, que beirava o cercado com bagas de buchas penduradas.

Ao Leste, a saída que também exigia a travessia pela linha do trem já quase sem barranco, que passava por alí antes de fazer a curva limitando o sul, assim já estariamos na parte urbanizada pela Rede Ferroviária, usufruindo de calçamento e saneamento básico, ali onde tudo também já fora mato e depois fazenda de café antes de ser parte do centro da cidade.

JVivanJr.

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