Crônica: “Mudanças” Jair Vivan Jr.
Agora era correr atrás, era o fim das molecagens e o início das sacanagens embora às vezes as duas se misturassem, saíamos em busca de emoções mais fortes, agora também envolvendo o coração, as modalidades para nossa faixa etária limitava-se a brincadeiras dançantes, normalmente em uma casa residencial, aos namoros no cinema e as paqueras na praça.
Já abusávamos dos acessos aos locais até então impróprios à nossa presença como os bares e lanchonetes, sessões proibidas de cinema, com a devida falsificação da carteirinha de estudante para entrar nas seções proibidas e a grande novidade agora presente em nossas opções de diversões, o Bolichinelo com impressionantes pistas de boliche espelhadas, atrelado ao Bar do Tide com as mesas de bilhar, o qual oferecia o serviço de porções, bebidas e cigarros.
Parecia-me importante circular sem meu pai pelos bares da cidade, ir sozinho ao Bar Central, Café Paulista, Bar Paratodos e outros por ali, entrar na Casa Zanoto e perguntar o preço de qualquer coisa sem o menor interesse em comprar, só para mostrar autonomia, sentar no Bar Seleto e pedir um sortido na hora do almoço, ou na Padaria Oriente e tomar um sorvete na taça, usando de uma pseudo independência, enfim gozar da liberdade oriunda do avanço da idade.
As novidades não paravam, no grande salão ao lado do Grêmio Recreativo foi inaugurado o Autorama Lanches, com uma grande pista e seus velozes carrinhos, era pago por tempo de uso e na maioria das vezes me limitava a assistir, o que já era demais.
Fui crescendo junto com a cidade, já usufruíamos do Cine Peduti com sua enorme tela, rebaixando o Cine Ourinhos para “Pulgueiro” que ficou bom só para beijação, ainda tendo que falsificar carteirinha para galgar mais um degrau na escala de censura, a meta logicamente era chegar aos filmes proibidos para 18 anos, mas tinha que ter aparência e contar com a colaboração do porteiro.
Porteiro era a peça chave também nos clubes, tinham que ser persuadidos, por não sermos sócios ou estar com a mensalidade atrasada.
E assim foi, o Boliche fechou e cedeu espaço para o Clube dos Jovens Terríveis, dando uma utilidade ainda melhor para suas maravilhosas e deslizantes pistas espelhadas perfeitas para a dança.
Para a calibragem que antecedia os bailes frequentávamos os bares e lanchonetes,o tradicional Jaracatiá que ocupou o local do Autorama e atualmente é uma ótica, a Lanchonete Bambi no lugar da Oriente, atual loja de calçados, o Rancho Alegre em frente a praça onde foi o Banespa e agora Santander, a Pão e vinho até hoje no mesmo lugar com pequenas mudanças, servia mais como ponto de encontro ou o efêmero Anhembi em frente a Radio Divisa, além de outros que abriam e fechavam.
Para tomar uma rapidinha tínhamos o Seleto, hoje uma pastelaria, o Bar do Português, onde já foi um “xing ling” e agora é uma assistência técnica de eletrônicos, mais um ou outro que também já foram transformados em outras atividades e em sua maioria sofreram transformações arquitetônicas.
A Zanoto transformou-se em um moderno Peg Pag, o primeiro auto serviço da cidade, depois abrigou outras atividades, passando por farmácia e atualmente é Chiquinho Sorvetes.
Dos que lembro que frequentávamos só o Bar do Joel continua o mesmo desde os tempos em que nos dava apoio nos bailes do saudoso Clube Palmeirinhas, que fora sediado nas proximidades do Sindicato Rural.
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JVivanJr.