Crônica:”A Importância dos Marimbondos” Jair Vivan Jr.

Uma das atividades de rua que muito me interessava era o ataque às casas de marimbondos, eu ostentava um invejável equipamento de combate acomodado em meu embornal, dentre: estilingue, pelotas de barro, algumas sementes de “sabão de macaco” para ataques específicos funcionava como uma espécie de bala de prata, canivete, punhal e outros apetrechos, os projéteis preferidos para a referida ação eram as setas feitas com tiras de papel, enroladinho apertado em forma de cone pontiagudo e lançados assoprando por um canudo de antena de televisão.

Assim saíamos em reconhecimento das antigas e em busca por novas colônias daquelas vespas sociais que sempre atacavam em bando. Os mais comuns por aqui eram os paulistinhas que fazem sua casa com fibras vegetais em uma forma arredondada com uma única entrada, envolta em uma membrana acinzentada que lembra bem o papel de seda.

Eram encontrados mais comumente nos pequenos coqueiros de jardim ou nas quinas de beirais de telhados de residências, às vezes a uma distância que exigia o armamento mais pesado e acabava acertando vidraças e trazendo outros problemas e correrias.

Mas o alvo inimigo mesmo era a casa daqueles insetos do tipo de uma mistura de abelha e formiga, tendo no gomo acima da cintura fina, uma mancha amarela nas costas, nervosinhos e velozes no ultimo, uma cutucada na redonda já cravada de setas virava um inferno, assim atacávamos preventivamente uma vez que cedo ou tarde seríamos ferroados.

 

Ouvíamos falar de outras espécies como o chumbinho ou o terrível marimbondo tatu, por exemplo, mas era raro no meio urbano, o mais temido por nossas bandas era o sorrateiro 24 horas, enorme, parecido com o solitário e abobado marimbondo cavalo, mas de um azul escuro cintilante medonho, diziam que uma ferroada dele, faria doer terrivelmente um dia e uma noite podendo levar a óbito, sorte que deste nós ganhávamos na corrida e nunca fomos alcançados.

O tempo passou, fui tocar minha vida, tentar ser uma pessoa mais importante e perdi o interesse por aquelas vespas minúsculas e irritadas que também se desinteressaram por mim depois que deixei de zoar seu habitat. Só depois, bem mais tarde com o avanço da ciência pude saber da importância daquele inseto, ao ter uma substância de seu veneno sendo estudada para o tratamento de câncer e o quanto ele se tornou tão mais importante do que eu que tanto o hostilizei.

JVivanJr.

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