Coluna: Luiz Bosco — A educação como convite à vida

Quando a Educação é um convite e o Ensino, uma oportunidade real, está aberto o caminho para a transformação das pessoas e da sociedade. 

A Educação precisa ser um convite, um abraço estendido para todas e todos. Em seus diferentes formatos e níveis, deve ser um mundo aberto à curiosidade. Permitir que se explore a realidade, a fantasia, a teoria e a prática, o racional e o inconsciente.   

Precisamos estabelecer espaço para não abafarmos a curiosidade da criança. Ela nasce exploradora, inquieta diante do mundo que se revela pouco a pouco e a convida para o conhecimento. Meninas e meninos correm, pulam, abrem, fecham, sobem, descem, torcem, puxam, balançam, sacodem, rabiscam, imitam, admiram, vão em direção ao mundo sem receios, nem pré-concepções. 

A Escola precisa ser espaço em que todo esse encantamento pelo mundo encontre novos elementos que não são facilmente encontráveis sem a mediação da educadora e do educador. A leitura e a escrita, os números, os conceitos, tudo pode vir como brilhante descoberta que permita a ampliação dos horizontes da criança. 

Antes limitada à esfera doméstica, dos valores da família e do conhecimento imediato, a criança na escola passa a se preparar para a esfera pública e para o conhecimento científico. Ela tem contato com crianças e adultos que pensam e vivem de maneira diferente da forma com que se acostumou em sua casa e isso é indispensável para construir a vida em sociedade. 

Permitir esse contato pode soar incômodo para alguns pais e mães, mas é necessário. Na vida temos de conviver com pessoas diferentes de nós, trabalhando, colaborando e respeitando. Precisamos de conhecimento e ele não se limita àquilo que se pode aprender em casa.  

A curiosidade da criança avançará para os questionamentos do adolescente. Nesse momento, é comum que familiares afirmem que seu filho se tornou “um chato”, pois ele já não aceita com tanta facilidade os valores e hábitos de seus pais. Sua “rebeldia” pode ser inconveniente às vezes, mas é necessária para que se desenvolva uma pessoa que transforme o mundo e a si mesma para melhor. 

Às vezes, é doloroso para os pais perceberem que seu filho já não os considera como heróis, nem “donos da verdade”… mas os próprios pais precisam admitir que, de fato, não são nada disso, para poder dar liberdade ao desenvolvimento pleno do adolescente, mesmo que ele trilhe caminhos que não condizam com o esperado pela família. 

O Ensino deve acolher essa inquietação juvenil e fornecer elementos para que tome rumos saudáveis, construtivos e que contribuam para a sociedade. A “implicância” adolescente pode ser aprimorada em direção ao senso crítico, consolidando a verdadeira participação cidadã e a potência para mudar a vida, inclusive no que diz respeito a transformação de sua realidade financeira e social. 

Para que a escola seja oportunidade de mudança de vida, proporcionando melhores condições econômicas, é preciso que a criança e o adolescente superem os limites dos valores, do conhecimento e da socialização familiar e caminhem rumo a autonomia. 

Professoras e professores precisam de liberdade para fazerem seu papel e promoverem a independência, o senso crítico e a razão do alunado. Não podem privar seus alunos do contato com temas sensíveis, pois a vida não poupará ninguém de se deparar com situações difíceis, com injustiças e dilemas.  

É compreensível que as famílias queiram proteger seus filhos de assuntos delicados, principalmente no âmbito da moral sexual, mas é preciso que se aborde tais temas dentro de um ambiente protegido, por profissionais do ensino. Do contrário, corre-se o risco de aprenderem sobre essas e outras questões de forma distorcida, quando não “da pior forma”. 

Caso o adolescente queira e tenha oportunidade de ingressar em uma universidade, verá descortinar diante de si um horizonte de possibilidades ainda maior. Precisará passar pelo caminho de se expôr a muita coisa diferente, de debater sobre questões a respeito das quais nunca parou para pensar, de ouvir opiniões bem diversas daquelas da esfera doméstica e da educação básica. Agora seu conhecimento deverá se consolidar “sobre os ombros de gigantes”. A universidade é o espaço do exercício da razão e das perspectivas de transformação do mundo. 

Nenhum debate pode ser coibido na aprendizagem acadêmica. Discentes e docentes precisam de liberdade e tranquilidade para juntos construírem o conhecimento e abrirem possibilidades reais para que dali saiam profissionais éticos, que farão o seu melhor pelas suas profissões e pela sociedade toda. 

Todo momento de aprendizagem real fornece meios, informações e interações autênticas, em que exista troca e construção conjunta. A Educação deve ser um convite e, para isso, é preciso que ela seja aberta a todas as pessoas. Não rejeite ninguém e seja acolhedora ao diferente. 

A curiosidade pelo conhecimento, com que nascemos, precisa ser alimentada e pode nos levar a uma existência mais feliz, de melhor convivência, mais aceitação, mais justiça e igualdade. 

Luiz Bosco Sardinha Machado Jr. 
Mestre e Doutor em Psicologia pela Unesp
Especialista em Psicologia Escolar e Educacional pelo CFP

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