×

Empresa dona de PCH pressiona a imprensa e ameniza desmatamento

Empresa dona de PCH pressiona a imprensa e ameniza desmatamento

‘SEMÂNTICA’ — Empresa diz que não promove desmatamento, mas apenas “suprime a vegetação necessária”

‘Ponte Branca’ diz que não promove desmatamento,
mas apenas ‘suprime vegetação necessária’ para PCH

Acuada por movimentos populares e pela imprensa independente, que protestam contra a construção de uma PCH — Pequena Central Hidrelétrica — em Águas de Santa Bárbara, a empresa “Ponte Branca Produção de Energia Elétrica” distribuiu pedidos de “direito de resposta” ao DEBATE e ao jornal “Caderno 360”, ambos de Santa Cruz do Rio Pardo, sob ameaça de processo judicial. Segundo o texto encaminhado pelo escritório “Fernandes, Beraldo, Pigozzi Advogados Associados”, reportagens publicadas pelos dois jornais contêm “equívocos” que atentam contra a imagem e podem, inclusive, expor a empresa “a prejuízos econômicos importantes”.
Os dois jornais decidiram não conceder o “direito de resposta” da forma como foi solicitado, pois não há inverdades nas denúncias sobre o desmatamento no município de Águas de Santa Bárbara, que está provocando desequilíbrio ambiental. A situação já afetou, inclusive, Santa Cruz, onde a Sabesp descobriu que a água do rio Pardo já mudou de acidez e turbidez. O problema tem relação com o assoreamento do rio em Águas de Santa Bárbara.
A jornalista Flávia Manfrin, que edita o “Caderno 360”, é, inclusive, militante da ONG “Rio Pardo Vivo”, que trava uma luta incessante contra as hidrelétricas. A entidade já conseguiu, por exemplo, barrar outras três PCHs que seriam construídas em Santa Cruz do Rio Pardo.
Contra Flávia, a empresa foi dura no pedido de “direito de resposta”, acusando o jornal que ela edita de “divulgar inverdades, distorcer fatos e prestar um desserviço”. A jornalista mantém todas as informações publicadas pelo “Caderno 360”.
A empresa “Ponte Branca” garante que “não promove desmatamento”, mas faz apenas “a supressão de vegetação necessária à viabilização do empreendimento, devidamente autorizada na forma da lei”. Calcula-se que o equivalente a 80 campos de futebol já foi desmatado em Águas de Santa Bárbara, praticamente em terras às margens do rio Pardo. No entanto, segundo a empresa, haverá replantio da vegetação “em escala muito superior à suprimida, com inegáveis ganhos ambientais”.

Foto mostra lote de madeira de parte da mata virgem que foi destruída

A empresa também nega que a obra tenha sofrido embargo, mas admite que uma liminar da Justiça Federal, proibindo o desmatamento, havia sido expedida em julho de 2015 e posteriormente revogada pelos advogados da “Ponte Branca”.
A nota também ironiza a citação da ONG “Rio Pardo Vivo” pelas reportagens do jornal, como participante ativa das discussões sobre a hidrelétrica, além de afirmar que fotos de animais mortos estão “fora de contexto”.
Sobre declarações do ecologista Luiz Carlos Cavalchuki, de Santa Cruz do Rio Pardo, publicada pelos jornais, a “Ponte Branca” garante que ele emite opiniões sem base científica e que possui posição ideológica contrária à PCH.

Realidade

As reportagens do DEBATE e do “Caderno 360” se baseiam em fotos e documentos de processos judiciais. Ambientalistas visitaram o canteiro de obras da empresa e as margens do rio em Águas de Santa Bárbara, o que a “Ponte Branca” alega invasão de propriedade particular para “causar embaraços ao empreendimento”.
Vários documentos desmentem as justificativas da empresa. Um deles é um laudo pericial do Ministério Público, assinado pelo Assistente Técnico de Promotoria Eraldo Augusto de Carvalho. A perícia foi feita no local das obras e enviada ao Gaema Núcleo Médio Paranapanema, órgão do Ministério Público voltado ao Meio Ambiente. Segundo o documento, o Pardo é o principal rio da bacia hidrográfica do Médio Paranapanema, com 264 quilômetros de extensão, banhando e abastecendo com água doce 15 municípios.
O perito do Ministério Público sustenta que os documentos que autorizaram a PCH contêm avaliação superficial. “Potencialmente, podem acarretar danos irreversíveis ao Meio Ambiente”, alertou. Repleto de fotografias, o documento mostra depósitos irregulares de pedras em mata virgem e erosão às margens do rio.
A perícia também aponta outras irregularidades, como depósito de dinamite em desacordo com a legislação, funcionários trabalhando sem equipamentos de segurança e até o uso de caminhões do PAC — projeto federal de aceleração do crescimento — numa obra particular. O documento, que foi elaborado no mês passado, também traz foto de animal morto por atropelamento em rodovia, situação comum pelo desmatamento em grande proporção. Por fim, o técnico sustenta que não há projeto para retirada dos animais silvestres, o que fatalmente vai comprometer o Meio Ambiente.

Fonte: Debate News

You May Have Missed